Dinheiro não é cem por cento
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
É do irreverente Falcão a aparentemente óbvia descoberta
de “que dinheiro não é tudo, mas é 100%”. Mas não é bem assim, a julgar pela
taxa de infelicidade pessoal de muita gente rica por aí. Ou seja, a vida pede
muito mais do que o altissonante metal em nosso bolso. Ou na conta bancária.
Por isso um amigo costuma dizer que se pudesse
contrataria os maiores cientistas de todo o mundo só para estudar a natureza
humana. Bicho complicado é gente, diz ele.
Pois a Victoria University of Wellington, da Nova
Zelândia, acaba de divulgar resultados de uma pesquisa que vem ao encontro da
curiosidade do amigo e contraria a assertiva do cantor/humorista cearense.
Liberdade conta mais do que dinheiro para ser feliz, concluem os cientistas.
Leio isso no portal Ig com a sensação de que os
neozelandeses nada mais fizeram do que constatar o óbvio: "dinheiro leva à
autonomia, mas sozinho não acrescenta bem-estar ou felicidade”. Independência
pessoal e liberdade são mais importantes para o bem-estar do que riqueza,
assinalam.
De toda sorte, cabe respeitar a pesquisa, que
examinou dados de três estudos compreendendo entrevistas de mais de 420 mil
pessoas em 63 países, ao longo de quase 40 anos.
Ainda segundo o Ig, foram usados três testes
psicológicos que esquadrinham a alma dos pesquisados: o questionário de saúde
geral - que mede ansiedade, insônia, problemas sociais, depressão severa e
sintomas físicos de problemas mentais, como dores de cabeça inexplicadas e
dores de estômago -, o teste de Spielberger, que avalia a ansiedade naquele
momento, e o Maslach Burnout Inventory, que diagnostica exaustão emocional,
despersonalização e falta de conquista pessoal.
Com essa bateria, o detalhamento da pesquisa deve
dizer muitas outras coisas igualmente relevantes. Confesso que, mesmo
interessado, daqui a alguns minutos já não procurarei saber mais. Tenho muito
que fazer. Mas bem que gostaria de perguntar aos psicólogos Ronald Fischer e
Diana Boer – citados como porta-vozes do grupo de pesquisadores – por que em
suas conclusões não há nenhuma referência ao amor. Será que esse sentimento tão
universal está em baixa entre os habitantes dos tais 63 países que formam a
amostragem?
Talvez os brasileiros não tenham sido pesquisados,
porque aqui sem amor a gente não vai a lugar nenhum.
Como ensina o poeta Drummond, “que pode uma
criatura senão,/entre criaturas, amar?/amar e esquecer, amar e malamar,/amar,
desamar, amar?/sempre, e até de olhos vidrados, amar?/Que pode, pergunto, o ser
amoroso, sozinho, em rotação universal, senão/rodar também, e amar?”
Crônica
publicada no Jornal da Besta Fubana em junho de 2011
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