As dádivas dos amantes Deu-lhe a mais limpa manhãQue o tempo ousara inventar.Deu-lhe até a palavra lã,E mais não podia dar. Deu-lhe o azul que o céu possuíaDeu-lhe o verde da ramagem,Deu-lhe o sol do meio diaE uma colina selvagem. Deu-lhe a lembrança passadaE a que ainda estava por vir,Deu-lhe a bruma dissipadaQue conseguira reunir.Deu-lhe o exato momentoEm que uma rosa floriuNascida do próprio vento;Ela ainda mais exigiu. Deu-lhe uns restos de luarE um amanhecer violentoQue ardia dentro do mar. Deu-lhe o frio esquecimentoE mais não podia dar.
[Ilustração: David Alfaros Siqueiros]
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