Grandes mistérios habitam
Fernando Pessoa
O limiar do meu ser,
O limiar onde hesitam
Grandes pássaros que fitam
Meu transpor tardo de os ver.
São aves cheias de abismo,
Como nos sonhos as há.
Hesito se sondo e cismo,
E à minha alma é cataclismo
O limiar onde está.
Então desperto do sonho
E sou alegre da luz,
Inda que em dia tristonho;
Porque o limiar é medonho
E todo passo é uma cruz.
[Ilustração: Diego Rivera]
Leia também o poema "Não-coisa", de Ferreira Gullar https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/palavra-de-poeta_76.html

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