06 novembro 2025

Minha opinião

As palavras e suas artimanhas 
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65  

Numa crônica de Antônio Maria me deparo com a palavra "ficeleiro". E num desses dicionários que a gente acessa de pronto na internet descobri que se trata de algo relacionado com a trapaça no jogo de cartas, por exemplo. 

O cronista pernambucano-carioca se referia aos olhares “ficeleiros” (nada sinceros) de jovens mulheres estudantes.

Daí me lembrei de uma crônica de Marco Aurélio Albertim, querido camarada e amigo e ex-assessor no meu gabinete de vice-prefeito do Recife, finado precocemente, que usou a expressão "acicatar" num dos seus textos. E ao se deparar com a minha manifesta estranheza sapecou: "Você devia ler dicionários!"

Deduzi, então, que o bom escritor que era costumava garimpar no Aurélio, Houaiss e outros, palavras de uso pouco frequente para dar ênfase a determinado trecho ou a uma fala de personagem. 

Nada contra. Mas da minha parte, modestíssimo escrevinhador, prefiro que as palavras brotem espontaneamente. Quando é o caso, dão ênfase ao desejado tom coloquial.

Na militância partidária, sei de um que assumidamente folheia dicionários e gramáticas precisamente em busca de expressões incomuns no intuito de assegurar o tom alegórico (arre!) dos seus textos - em geral intragáveis!

O pretenso conteúdo político afunda em artifícios de linguagem que lembram peças jurídicas. Ao invés de atraírem o leitor para a compreensão do exposto, o afasta já ao primeiro ou segundo parágrafo! 

No caso de Antônio Maria dava-se exatamente o contrário. Termos raros brotavam com a leveza de uma brisa e de pronto se faziam íntimos do leitor - para o bem de nossa bela e ritmada língua portuguesa brasileira.

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