As palavras e suas artimanhas
Luciano
Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Numa crônica de Antônio Maria me deparo com a palavra "ficeleiro". E num desses dicionários que a gente acessa de pronto na internet descobri que se trata de algo relacionado com a trapaça no jogo de cartas, por exemplo.
O cronista pernambucano-carioca se referia aos olhares “ficeleiros”
(nada sinceros) de jovens mulheres estudantes.
Daí me lembrei de uma crônica de Marco Aurélio Albertim, querido
camarada e amigo e ex-assessor no meu gabinete de vice-prefeito do Recife,
finado precocemente, que usou a expressão "acicatar" num dos seus
textos. E ao se deparar com a minha manifesta estranheza sapecou: "Você
devia ler dicionários!"
Deduzi, então, que o bom escritor que era costumava garimpar no Aurélio,
Houaiss e outros, palavras de uso pouco frequente para dar ênfase a determinado
trecho ou a uma fala de personagem.
Nada contra. Mas da minha parte, modestíssimo escrevinhador, prefiro que
as palavras brotem espontaneamente. Quando é o caso, dão ênfase ao desejado tom
coloquial.
Na militância partidária, sei de um que assumidamente folheia
dicionários e gramáticas precisamente em busca de expressões incomuns no
intuito de assegurar o tom alegórico (arre!) dos seus textos - em geral
intragáveis!
O pretenso conteúdo político afunda em artifícios de linguagem que
lembram peças jurídicas. Ao invés de atraírem o leitor para a compreensão do
exposto, o afasta já ao primeiro ou segundo parágrafo!
No caso de Antônio Maria dava-se exatamente o contrário. Termos raros
brotavam com a leveza de uma brisa e de pronto se faziam íntimos do leitor -
para o bem de nossa bela e ritmada língua portuguesa brasileira.
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Leia também: “Vivos, lúcidos e ativos" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_18.html

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