09 novembro 2025

COP30: desfaçatez

Empresas com passivo ambiental fazem lobby por protagonismo na COP30
Gigantes do agro, mineração, bancos e indústrias patrocinam espaços na COP30, em Belém, para influenciar a pauta ambiental e construir imagem de ambientalmente corretas
Davi Molinari/Vermelho  

Um estudo inédito revela como gigantes de setores como agronegócio, mineração, bancos e indústrias patrocinam estruturas oficiais e paralelas na COP30, em Belém, para capturar a pauta ambiental e construir uma imagem “verde”, enquanto ocultam bilhões em prejuízos socioambientais. O alerta é do estudo “A COP dos Lobbies”, divulgado pelo observatório De Olho nos Ruralistas e pela  Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), que detalha as estratégias dessas corporações para influenciar políticas, governos e imprensa durante o maior evento climático do mundo.

O relatório será divulgado na próxima segunda-feira (10). A pesquisa, com 94 páginas, mapeia a atuação de oito grandes empresas brasileiras e multinacionais nas negociações e espaços de deliberação da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).

Estratégias corporativas e greenwashing

Entre as companhias estão as mineradoras Vale e Hydro, o frigorífico Marfrig/BRF, a sucroalcooleira Cosan, a gigante do papel Suzano, a multinacional Bayer e os bancos Itaú e BTG Pactual. Segundo o relatório, elas utilizam narrativas institucionais, ações de marketing e patrocínio de espaços para influenciar a agenda e a imagem ambiental na COP.

“O estudo mostra como empresas com histórico de danos ambientais recorrem a estratégias de marketing e a parcerias com órgãos públicos, inclusive aqueles responsáveis por sua fiscalização, para se posicionar como protagonistas da transição verde”, explica Bruno Bassi, coordenador da pesquisa.

Muitas das ações divulgadas como em prol da sustentabilidade — caso emblemático das iniciativas da Vale após Mariana e Brumadinho — ocorrem, na verdade, como contrapartida judicial por desastres ambientais. “Os investimentos anunciados chegam a milhões de reais, mas os prejuízos socioambientais ultrapassam a casa dos bilhões”, ressalta Bassi.

Segundo ele, empresas que enfrentam sanções ou cobranças judiciais tendem a priorizar campanhas socioambientais e a ampliar sua presença institucional em espaços estratégicos da COP, ao invés de investir em reparações estruturais. “Queremos evidenciar a prática de greenwashing na COP30”, afirma o pesquisador. “Quando uma empresa como a Vale aproveita a COP30 e lança o álbum de figurinha Árvores do Mundo, ou quando bancos e empresas do agronegócio patrocinam pavilhões temáticos — como a AgriZone, base da Embrapa, do Ministério da Agricultura, ou a Estação do Desenvolvimento, financiada pelo consórcio MovInfra — essas iniciativas buscam apenas reposicionar suas marcas como ambientalmente corretas”, explica Bassi.

Outro ponto crítico é o patrocínio cruzado a grandes veículos de imprensa — Globo, Folha, Estadão, CNN Brasil e Liberal — por cinco das oito empresas analisadas no relatório. Além disso, Itaú e Norsk Hydro financiam treinamentos e viagens organizadas para jornalistas que cobrirão a COP,  prática que o estudo identifica como press trip, – termo em inglês, usado para designar viagem patrocinada pelas empresas que serão objeto da cobertura jornalística –  levantando questões sobre isenção editorial e potencial legitimação de narrativas empresariais. 

Coalizões empresariais e influência política

A força do lobby empresarial na COP30 se institucionaliza por meio de coalizões como a Sustainable Business COP30 (SBCOP), Climate Action Solutions & Engagement (C.A.S.E.) e Brazil Restoration and Bioeconomy (BRB) Finance Coalition, que reúnem corporações como Itaú, Vale, BTG Pactual, Marfrig, Hydro e Suzano. Essas frentes atuam de forma articulada para influenciar políticas, apresentar propostas diretamente a líderes governamentais e garantir que novas regulamentações sejam favoráveis aos seus modelos de negócio.

Segundo o relatório, além de buscar influência nas decisões globais, essas coalizões também gerenciam riscos financeiros, acessam oportunidades como linhas especiais de financiamento e promovem tecnologia e soluções próprias. Tal atuação, com alcance internacional e grande escala, permite que a transição para uma economia verde seja conduzida conforme interesses corporativos, sem a participação da sociedade. 

O estudo ressalta a relação do governo federal, que expande a participação social ao mesmo tempo em que concede amplo espaço ao setor corporativo nas agendas oficiais — “ frequentemente em detrimento das demandas de povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e camponeses, os verdadeiros defensores ambientais”, afirma Bassi.

[Foto: LS]

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