Viva a burrice
Marcos Coimbra, na
CartaCapital
Apesar
dos tempos bicudos que vivemos, há uma maneira fácil de ganhar um dinheirinho:
apostar que, na hora em que tomar qualquer decisão, o capitão Bolsonaro fará
uma burrice. Problema talvez seja encontrar quem aceite a aposta inversa.
A
ridícula ideia de nomear um filho como embaixador é suficiente como exemplo.
Estava vago o posto de embaixador nos Estados Unidos e o que faz Bolsonaro?
Sai-se com uma invenção tosca.
Perderia
seu dinheiro quem apostasse que manteria o atual embaixador ou nomearia alguém
à altura. Filho, desqualificado e em Washington, alguém imaginaria que o
capitão fosse capaz de tanta burrice? Pois foi.
A
relação que com ele guarda uma parte da elite a obriga a procurar algum sentido
em suas patuscadas. Não é que apareceu um diretor da Confederação Nacional da
Indústria para declarar que o filhinho embaixador faria milagres, alavancando
as exportações brasileiras? Pode haver quem tente tirar leite das pedras, mas o
fato permanece: foi mais uma burrice, das grossas.
E
viva as burrices! O apetite do capitão para cometê-las é uma das razões para
ter certeza de que sua passagem pelo primeiro plano de nossa vida politica será
breve.
Houve
um momento em que era possível que Bolsonaro se tornasse uma liderança
respeitável, capaz de representar uma parcela significativa de nossa sociedade,
logo após a vitória no segundo turno da última eleição.
Naquela
altura, um político inteligente poderia, até com facilidade, agregar outro
terço do eleitorado ao que votara em seu nome, constituído pelas pessoas menos
politizadas e de menor participação.
Estava a seu alcance chegar ao final de
2018 tendo-as a seu lado, o que o tornaria uma figura política de primeira
grandeza. Bastava que não fosse o velho capitão Bolsonaro, sempre a fazer
burrices, mas era.
Completa
seis meses de governo em situação frágil, com Moro e a Lava Jato
desmoralizados, e o horizonte nublado. Não por acaso, põem-se a assobiar no
escuro, tentando afastar os fantasmas da insignificância e da impopularidade,
fingindo-se animado com as chances de reeleição. Faz o mesmo que seu amigo
Michel Temer, que se pavoneou como candidato “forte” durante uns três meses em
2017, para terminar assistindo a eleição pela televisão, escondido no Palácio
do Jaburu.
As
pesquisas mostram que Bolsonaro foi incapaz de expandir sua base de apoio desde
a eleição. Os números da avaliação positiva que preserva sugerem que não
conseguiu incorporar praticamente ninguém, nem entre as pessoas que votaram em
Haddad, nem entre quem ficou indiferente a ambos.
Há
de haver várias razões para isso e uma delas é a burrice de Bolsonaro, que o
faz achar que precisa dialogar apenas com seus eleitores, supondo que, com
eles, ganha toda eleição. Ou então que, à custa de mutretas como as que o
beneficiaram em 2018, conseguirá impedir que qualquer adversário o derrote.
O
capitão, ao que tudo indica, acredita que seu eleitorado é estável e
homogeneamente ideológico, constituído por pessoas movidas a chavões da
ultradireita primitiva. Essa gente existe, fantasiada de verde-amarelo, falando
besteiras e seguindo perfis que disseminam idiotices na internet. Mas não passa
de uma pequena minoria, que se pode estimar em algo próximo a 10% da população.
Muito
mais que a metade dos eleitores que votaram em Bolsonaro nem sabe qual é sua
ideologia, nunca ouviu falar em anticomunismo, anti-esquerdismo ou bobagens do
gênero. São pessoas que acreditaram que o capitão entregaria, no curto prazo,
três resultados palpáveis: a retomada do crescimento econômico, com mais renda
e empregos, o aumento da segurança, com a derrota da criminalidade, e a
regeneração dos costumes políticos. E, se há hoje uma certeza, é que nenhuma
delas está acontecendo ou ocorrerá em seu governo.
É
apenas uma questão de tempo para que o terço de apoio do capitão comece a
minguar. Com a qualidade de sua turma e da liderança que exerce, não há
hipótese de que consiga, em prazo razoável, entregar aquilo com que se
comprometeu. A cada nomeação canhestra, a cada escolha despropositada de
prioridades, a cada iniciativa sem pé nem cabeça, a possibilidade de que faça
um bom governo fica mais remota e menor sua sustentação.
Não
será pequeno o custo social em que implicará, nem bonito o espetáculo do fracasso
administrativo do governo do capitão Bolsonaro, mas já entrou em cartaz e logo
estará à vista de todos. Graças, em parte relevante, à sua burrice.
Acesse o canal ‘Luciano Siqueira opina’, no YouTube https://bit.ly/2XHoGTQ Leia mais sobre temas da atualidade: https://bit.ly/2Jl5xwF
Nenhum comentário:
Postar um comentário