Operação
hacker marca a nova etapa de radicalização do governo
Luis Nassif,
Jornal GGN
A
operação da Polícia Federal contra os supostos hackers do interior paulista
indica o início da estratégia Operação Incêndio de Reichstag, que marcou a
ascensão do nazismo na Alemanha.
É uma tática recorrente em governos que caminham para o
autoritarismo. Vão sendo testadas armações que insuflem a malta contra o
inimigo comum fabricado. Mantém o clima de conflito permanente até que se tenha
o grau de fervura adequado para o golpe final.
Nos últimos dias, além dos hackers de Moro houve a capa
estapafúrdia de Veja com os supostos terroristas, a tentativa de reavivar as
teorias conspiratórios sobre o Foro de São Paulo e, agora, o caso dos hackers
amadores – desses que deixam pista e dão trote nas vítimas.
Por enquanto, o caso dos hackers parece mais uma tática restrita
de autopreservação de Sérgio Moro, uma tentativa canhestra de tirar o Ministro
da defensiva. O Rubicão a ser atravessado seria uma eventual tentativa de
investir contra Glenn Greenwald, tentando associá-lo ao grupo. Dependerá
exclusivamente da resistência que encontrar pelo caminho. E há um misto de
cumplicidade e ignorância de alguns jornais e jornalistas, brincando de acender
fósforo no barril de pólvora das redes sociais.
O que justifica
uma opinião dessas, de um jornalista que admite não ter recorrido a
fontes da Polícia Federal e no entanto afirma que o conteúdo do Intercept foi
fornecido pelos hackers detidos ontem, mesmo depois dos ataques explícitos de
Bolsonaro à sua colega Miriam Leitão?
“A operação
da Polícia Federal que prendeu nesta terça-feira quatro suspeitos de
trabalhar no hack que originou o vazamento dos diálogos entre Dallagnol e
outros personagens do Petrolão não se chama Spoofing à toa”.
É
conhecida a tática de Moro e da Lava Jato, de direcionar o conteúdo das
delações para seus objetivos sem a necessidade de apresentar provas ou indícios
consistentes. Portanto, delações inverossímeis fazem parte do arsenal e têm
consequências – especialmente se houver parceria com o juiz do caso.
Ainda
não caiu a ficha de parte relevante do poder – incluído na denominação especialmente
as Organizações Globo – sobre a iminência da nova escalada autoritária
conduzida por Jair Bolsonaro. Teimam em separar Sérgio Moro de Bolsonaro,
quando a Lava Jato permanece sendo o principal fator agregador da ultradireita
na qual Bolsonaro se ampara. Batendo em Bolsonaro, e poupando Moro, a Globo
está jogando carne fresca no canil.
Bolsonaro vem acelerando o desmonte de todas as formas de
regulação que podem inibir a atuação da zona cinza da economia, incluindo a
economia do crime. E de todas as instâncias de moderação, afastando militares
que integravam seu governo, enquadrando órgãos do Judiciário, demitindo
qualquer dirigente público que não cumpra cegamente suas ordens.
Liberou
o comércio clandestino de gás, o comércio de armas, não se tenha dúvida de que
em breve liberará o controle sobre o fornecimento de combustível e outras
medidas que beneficiam a enorme economia informal brasileira.
O comentarista Rogério Maestri levantou um conjunto de hipóteses
assustadoramente verossímeis sobre os possíveis futuros passos de Bolsonaro (clique aqui). Inclusive com a ascensão de
Policiais Militares de confiança de Moro-Bolsonaro, em detrimento dos militares
afastados do governo. Os discursos de Olavo de Carvalho e dos filhos contra
militares não são apenas excentricidades, pois refletem e influenciam, sem
disfarce, o pensamento de quem está comandando o país.
Enfim, já começou a contagem regressiva para a radicalização
final do governo. Ou as instituições acordam enquanto é tempo, ou será tarde. O
tempo para reagir tornou-se dramaticamente curto.
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