Da negação do real
à negação de si mesmo
Luciano Siqueira
A ninguém interessa ver o Brasil ser submetido ao ridículo
na cena internacional. Nem mesmo a quem se coloca na oposição ao atual governo.
Infelizmente, é o que acontece.
Não apenas pelas bizarrices sustentadas pelo precário
chanceler Ernesto Araújo, para quem o mundo globalizado dos nossos dias não
passa de invencionice marxista, mas, sobretudo, pelas trapalhadas diárias do
capitão presidente, que repercutem negativamente aqui e mundo afora.
Antes, no Brasil não havia nada correto, tudo não passava de
erros e espertezas dos petistas, segundo o candidato Bolsonaro.
Uma vez com os pés no Planalto, a surpresa: realmente, há
muita coisa construída – que precisa ser desfeita para botar outras coisas no
lugar. O quê exatamente nem ele próprio sabe.
Aos poucos, no curto espaço de tempo de seis meses, o
capitão viu se fragilizarem seus ministros antes ditos “super”, o da Economia
(atolado à beira da estagnação econômica) e da Justiça (desmascarado pelas revelações
do Intercept).
Parece se sentir como um super herói a contar como
escudeiros de confiança apenas seus três filhos – como nas antigas monarquias decadentes,
cada um numa função supostamente estratégica, em posição de guarda.
Ao se dar conta da gravidade dos problemas que lhe cabe
enfrentar – afinal é o chefe do governo -, e consciente da própria incompetência
e da incapacidade de unir em torno de si quadros competentes, enveredou pelo
caminho da negação da realidade.
Isto em sentido amplo.
Nega fatos, dados estatísticos, regras de conduta
elementares, bom senso.
Briga publicamente com o IBGE, o INPE e a FIOCRUZ porque
trazem à luz dados sobre o desemprego crônico e imediato alarmantes, sobre a rápida
expansão do desmatamento na Amazônia (sob seu governo) e sobre o
recrudescimento das chamadas doenças da pobreza.
Opa! Pobreza? O capitão diz que não há no Brasil.
Já pelos
dados do IBGE, vivem abaixo da linha de pobreza extrema, com
renda abaixo de 7 reais diários, são 15,2 milhões (dados de 2017).
O conflito em
que se meteu com os governadores do Nordeste motivado por suas declarações
preconceituosas e xenófobas contra os nordestinos e o ataque explicito ao bem
sucedido governador do Maranhão, Flávio Dino, é mais um episódio revelador de
que o presidente sequer tem noção do que venha a ser o espírito republicano.
(O oposto do
tratamento dado a Pernambuco pelo presidente Lula, a despeito da oposição
furiosa que lhe fazia o então governador Jarbas Vasconcelos).
Ora, se a
linha de conduta do presidente é negar a realidade, ao invés de enfrentá-la, e
a ocupação do cargo pelo próprio se mostra um problema crescente, para si e
para o País, o passo seguinte será negar a própria existência...
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