Na vida e
no futebol, interpretação não é fato
Tostão, na
Folha de S. Paulo
Nessa semana, foram comemorados os 50 anos da chegada do homem à Lua. Eu assisti, emocionado, pela TV,
em um hotel de Bogotá, onde a seleção se preparou, durante 20 dias, por causa
da altitude, para enfrentar a Colômbia, em 1969, no primeiro jogo das
eliminatórias para a Copa de 1970. Ganhamos por 2 a 0. Fiz os dois gols. Entre
um e outro, recebi alguns pontos no supercílio esquerdo, por causa de uma
cotovelada.
Dois meses depois, tive um descolamento da retina no mesmo olho,
no jogo entre Cruzeiro e Corinthians, no Pacaembu. Fui operado nos
Estados Unidos e quase fiquei fora do Mundial. Na época, falaram muito sobre a
relação entre uma contusão e a outra, o que foi desmentido pelos médicos.
Na época, muitos diziam
que a chegada do homem à lua era mentira, um truque. Falam até hoje.
Combinava com a paranoia que havia no Brasil, em que muitas pessoas temiam ser
denunciadas e presas pela ditadura militar. Essa situação foi magistralmente
retratada por Ziraldo, com o famoso personagem Ubaldo, o paranoico.
O mundo mudou, mas muitas coisas não são tão diferentes. Neste
país polarizado, as pessoas, cada vez mais, costumam desconfiar uma das outras,
tratar a verdade como mentira e vice-versa, além de interpretar os
acontecimentos de acordo com seus conceitos, interesses e ideologias.
Interpretação não é fato. Existe hoje, no futebol brasileiro, um
excesso de interpretação. Os árbitros de vídeo, que deveriam apenas corrigir os
erros e as limitações dos árbitros de campo e dos auxiliares, em lances
decisivos, não param de interpretar. Atrapalham o jogo. O VAR está muito chato
e demorado.
Antes dos jogos dessa semana, pela Copa do Brasil,
havia muitas interpretações e opiniões de que Palmeiras e Flamengo, os dois times mais
ricos do país, se tornariam o Real Madrid e o Barcelona do Brasil. Os dois foram
eliminados. Não houve surpresa. O Internacional, em casa, se
agiganta, e o Athletico, mesmo com campanhas fracas fora de casa, é hoje um dos
grandes do futebol brasileiro.
Palmeiras e Flamengo possuem melhores elencos, mas as equipes
que entram em campo estão mais ou menos no mesmo nível de outras grandes. No Brasileiro,
é diferente, por ser um campeonato longo e por pontos corridos.
O que surpreende no Palmeiras é o fato de ficar
tanto tempo sem perder, pois, na maioria das vitórias que conquista,
não existe um amplo domínio do jogo, um massacre sobre os adversários.
O Atlético teve mais chance de fazer gols, na vitória por 2 a 0,
do que o Cruzeiro, quando ganhou por 3 a 0. Foi um sufoco para o torcedor do Cruzeiro.
Fábio e Dedé foram decisivos para a classificação. Um cruzeirense me disse que
Mano Menezes é tão metódico, racional, que, como o time podia perder por dois
gols de diferença, ele fez questão de perder por 2 a 0. Nas conquistas das duas
últimas Copas do Brasil, foi sempre assim, no limite.
O Bahia, mesmo em casa, repetiu a estratégia que deu certo em
outros jogos, de marcar atrás, com nove jogadores, para contra-atacar. Deu
errado. A bola ficou com o Grêmio, com Maicon, e ele tomou conta do jogo.
Pena que Inter, Cruzeiro, Grêmio e Athletico, os quatro
classificados para as semifinais da Copa do Brasil e que continuam na Libertadores,
não se dediquem ao Brasileiro, pois teriam chance de lutar por mais um título.
A CBF contribui para isso, ao supervalorizar a Copa do Brasil e desvalorizar o
Brasileiro, o campeonato mais importante do país.
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