Pragmáticos sonhadores
Tostão, na
Folha de S. Paulo
Uma correção. Escrevi que a dupla de
atacantes e o sistema tático 4-4-2 começaram com os ingleses,
na Copa do Mundo de 1966. Foi o início do 4-4-2, mas a dupla de atacantes já
existia bem antes, como na seleção brasileira de 1958.
Das quatro partidas decisivas desta quarta (17) pela Copa do
Brasil, apenas o Cruzeiro tem uma
enorme vantagem. A turma do “eu acredito” que encontro pelas ruas me
lembra sempre que o Barcelona ganhou do Liverpool, por 3 a 0, e, logo depois,
perdeu por 4 a 0. Tudo é possível.
Na primeira partida, Mano Menezes, acertadamente, colocou o time
atrás, para contra-atacar, e trocou o paradão Fred pelo rápido Pedro Rocha, com
a finalidade de atrair o adversário, diminuir os espaços dos velozes meias do
Galo e aproveitar os deixados pela lenta defesa do Atlético. O gol logo no
início potencializou a estratégia de Mano. Provavelmente, o técnico vai manter
a conduta, o que não significa que tudo se repetirá.
Se o Cruzeiro for
eliminado, entrará em crise, por ser contra o grande rival, por fazer mais uma
péssima campanha no Brasileiro, por ter salários atrasados e pelas graves e
contundentes denúncias contra o clube, que culminaram com o afastamento do
vice-presidente Itair Machado. Ele deveria ter renunciado antes de ser tirado.
Segundo vários especialistas, é ruim –e só piora– a situação financeira do
clube.
O Flamengo,
eufórico com Jesus e com o 6 a 1 sobre o Goiás e por jogar em casa, é o
favorito, a não ser que o Athletico-PR faça
uma grande partida, para esquecer, para sempre, os fantasmas da dependência do
gramado artificial e da paralisia emocional, quando joga fora de casa.
Jorge Jesus,
assim como Sampaoli,
é um técnico que gosta de correr riscos, calculados, pela convicção de que vale
a pena. São dois pragmáticos sonhadores. A ousadia é bem-vinda, ainda mais se
tiverem sucesso, por estimular os técnicos brasileiros a serem menos medrosos.
Isso melhora a qualidade do espetáculo.
Discordo apenas do maniqueísmo de rotular os técnicos
estrangeiros como supermodernos e os brasileiros como superultrapassados. Há
técnicos bons e ruins, dentro e fora do Brasil, com variadas ideias. Não
podemos ser também tendenciosos, parciais e achar que tudo o que preferimos é o
melhor e o mais correto.
O Flamengo, além de jogar com os zagueiros adiantados e marcar
mais à frente, utilizou, nos dois jogos com Jorge Jesus, um sistema tático mais
ousado que o dos grandes times europeus. Equipes como Manchester City,
Barcelona, Liverpool e outras jogam também com apenas um volante, mas possuem
um meio-campista de cada lado, que marca e ataca. Nas duas partidas, o time
deixou muitos espaços à frente e nas costas dos defensores. O Athletico pode
aproveitar isso, como já fez no primeiro jogo, quando perdeu muitos gols.
O futebol é mais que um esporte. É a união do entretenimento com
a competição, da emoção com a razão, da organização com a improvisação, da
técnica com a fantasia, da ousadia com a prudência, da ciência com o acaso.
Bahia e Grêmio e Palmeiras e
Internacional devem fazer jogos equilibrados. O Palmeiras, pela
vantagem de um gol e pela segurança e regularidade, tem mais chance, embora o
Internacional se transforme quando atua em casa. Queria ver as quatro partidas,
na íntegra. Deveriam ser duas na quarta-feira e duas na quinta-feira, em
horários diferentes. O calendário do futebol brasileiro foi feito para faturar.
O restante é secundário.
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