A tradicional dupla de atacantes quase desapareceu das equipes
brasileiras
Tostão, na
Folha de S.Paulo
Existe grande curiosidade sobre o trabalho de Jorge Jesus,
no Flamengo.
Ele não é apenas um técnico europeu. Tem boas ideias, é ativo, inquieto,
detalhista. Não espera para fazer.
No primeiro jogo sob o comando do treinador, pela Copa do
Brasil, no empate por 1 a 1 com o Athletico, em Curitiba, o time já mostrou
algumas novidades, como a dupla de atacantes, formada por Bruno Henrique e
Gabigol, um próximo ao outro, e os dois perto do gol. O resultado foi bom para
o Flamengo,
mas o Athletico teve muito mais chance de gols e ainda foi prejudicado pela
arbitragem.
A dupla de atacantes, característica dos times do passado, quase
desapareceu das equipes brasileiras. A que deixou mais saudade foi a com Pelé e
Coutinho, com suas magistrais tabelinhas, seguidas de gols.
As duplas continuam presentes em muitos times, como a de Cavani
e Suárez, na seleção uruguaia, Griezmann e
Giroud, na França (seria muito melhor com Benzema), como era de Griezmann e um
centroavante, no Atlético de Madrid, e outros.
No passado, a maioria das duplas era formada por um centroavante
e um ponta de lança, que voltava para receber a bola. Não confundir o ponta de
lança com o meia ofensivo atual, que é mais um armador.
Às vezes, o meia de ligação se aproxima do centroavante,
formando uma dupla, como na vitória por 3 a 0 do Cruzeiro sobre
o Atlético.
O técnico Mano Menezes, em uma tacada de mestre, formou duas
linhas rígidas de quatro, recuadas, compactas, sem dar uma única chance ao
ataque adversário, e colocou dois jogadores hábeis, criativos e velozes na
frente, Thiago Neves e Pedro Rocha, para aproveitar os contra-ataques, diante
dos lentos zagueiros do Athletico. Fred foi barrado.
As duplas de atacantes e o clássico 4-4-2 começaram com a
seleção inglesa, campeã do mundo de 1966, que jogava como fez o Cruzeiro, com
duas linhas de quatro e dois à frente no ataque. A partir daí, houve algumas
variações táticas sobre o mesmo tema.
Muitos técnicos, já no passado, perceberam que havia um enorme
espaço entre os dois volantes e os dois atacantes e recuaram um dos dois para
ser o meia de ligação, formando o 4-4-1-1, que é idêntico ao moderno 4-2-3-1.
No Brasil, a evolução foi diferente. O avanço pelas pontas era
feito pelos laterais, que eram protegidos pelos volantes. A transição da bola
da defesa para o ataque era feita pelo avanço dos laterais e por chutões, o que
acontece até hoje.
A partir do Corinthians, dirigido por Mano Menezes, seguido por Tite e
por Carille,
os times brasileiros passaram a jogar à moda europeia, com duas linhas de
quatro e dois jogadores mais adiantados, geralmente um centroavante e um meia
de ligação, além de dois jogadores pelos lados do campo.
Volto ao Flamengo. Além da dupla de atacantes, o time, contra o
Athletico, mostrou outras novidades, como a tentativa de pressionar o
adversário que está com a bola, adiantar os zagueiros, ter um time compacto,
atuar com intensidade e com velocidade na hora dos contra-ataques. É mais ou
menos o que faz o Athletico, quando joga em casa. A atuação do Flamengo foi
razoável.
A pergunta a ser feita ao jovem e bom treinador do Athletico,
Thiago Nunes, é a razão de a equipe ser outra, fora de casa, muito pior. Antes
da grama artificial, já era assim. Certamente, ele não tem uma única resposta
clara. Nem eu. Suponho que um dos motivos seja uma paralisia emocional, uma saudade
excessiva, daquelas que cortam o coração, da casa e do carinho dos seus
torcedores.
[Ilustração: Anderson Passos]
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