Brasil
produz meias e atacantes habilidosos, mas de pouca técnica e lucidez
Tostão, na
Folha de S. Paulo
Desde os anos 1960, constato que há dezenas de histórias,
conceitos e fatos inverídicos ou questionáveis, que são repetidos, como se fossem
eternas verdades.
Na Copa de 1970, Zagallo, ao assumir a seleção, disse que havia
excessos de armadores e nenhum centroavante, já que eu era um meia-atacante no
Cruzeiro, e o centroavante Toninho Guerreiro tinha sido dispensado por
contusão.
Zagallo convocou o Roberto e Dario, que era artilheiro do
campeonato nacional, e dispensou dois craques do meio-campo, Dirceu Lopes e Zé
Carlos.
Até hoje, insistem que Dario foi convocado por pedido ou ordem
do ditador Médici.
Na Copa de 1994, Raí, excepcional meia-atacante, artilheiro, foi
escalado por Parreira de meia-direita, com a função de marcar o lateral. Não
podia dar certo.
Raí é alto, pesado, forte e não conseguia marcar no próprio
campo e chegar à área adversária.
Por isso, atuou mal e foi barrado, diferentemente do que afirmam até hoje, que ele passava por maus momentos.
Por isso, atuou mal e foi barrado, diferentemente do que afirmam até hoje, que ele passava por maus momentos.
A seleção de 1994 foi o primeiro time ou seleção do Brasil que
jogou no 4-4-2. Hoje, a maioria das equipes, independentemente do desenho
tático, marca dessa maneira. O 4-4-2 não é sempre defensivo. Se as duas linhas
de quatro marcam mais à frente, os quatro do meio campo estarão perto dos dois
atacantes e do gol.
Na Copa de 2006, Ronaldo e Adriano estavam muito acima do peso,
e Parreira escalou Ronaldinho de um lado e Kaká de outro, para marcar os
laterais adversários, como na Copa de 1994.
Não podia dar certo. Os dois craques brilhavam em seus clubes
jogando perto da área adversária. Mesmo assim, a culpa principal do fracasso
foi para a concentração de Weggis, na Suíça, por causa do público presente aos
treinos.
Na Copa de 2018, Gabriel Jesus,
durante uns 20 minutos de um único jogo, atuou pela esquerda, marcando o
lateral, para deixar Neymar livre, no ataque.
Continuam dizendo que o Gabriel jogou mal e não fez gol porque
foi sacrificado, por atuar fora de sua posição.
Sempre que Pato joga mal ou muito abaixo da expectativa criada
sobre ele, falam que é disperso, apático, uma celebridade, desinteressado do jogo.
Mesmo que tudo isso seja verdade e que tenha muita habilidade, Pato possui
pouca técnica, erra demais e, com frequência, toma as decisões erradas. Ele não
atende às expectativas porque tem pouco talento. De vez em quando, executa um
belíssimo lance e ilude.
Ele parece craque, mas não é. Quem é, é.
O Brasil produz, há muito tempo, um grande número de meias e
atacantes habilidosos, rápidos, mas com pouca técnica, pouca lucidez e pouco
amadurecimento emocional. A mente é que controla o corpo.
Na derrota do
Flamengo para o Emelec,
Jorge Jesus foi escolhido o único culpado, sem direito à defesa, por ter
escalado Rafinha como meia-direita. Mesmo considerando que Rafinha é
habilidoso, rápido e que já jogou nessa posição no Bayern e que o Flamengo
tinha vários jogadores sem condições de atuar, havia outras opções, que
poderiam ser melhores.
Houve também inúmeros outros motivos para a derrota. Se o
Flamengo for eliminado, dirão, para sempre, que foi por causa de Jorge Jesus.
O conformismo assola o futebol brasileiro. Alguém diz algo,
outro repete, geralmente do mesmo grupo, e a falsa verdade se alastra, muitas
vezes, para sempre.
Muitas pessoas param de refletir, questionar, pensar e evoluir e
perdem a gana e o prazer de fazer diferente e cada vez melhor.
[Ilustração: LS]
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