Inquietação generalizada sobre
impeachment se deve ao obstáculo Hamilton Mourão
Desde o começo do mandato, são dezenas de motivos
suficientes para embasar o processo
Janio de Freitas, na
Folha de S. Paulo
Bolsonaro não poderia ter chegado ao primeiro semestre do seu
mandato de figuração presidencial. Isso, com boa vontade. A rigor, nem ao
primeiro trimestre, sendo já contra a segurança e a vida os seus primeiros atos
e pregações.
De
lá para cá, são dezenas de motivos suficientes para embasar processo de impeachment.
Alguns geraram pedidos de inquérito
lançados, todos, ao fosso das gavetas no Congresso e no Judiciário.
Mas não pelo ônus de um processo de afastamento. Nem nem pela concentração de
atividades, que não existe, contra a pandemia.
Como regra geral, as propostas justificadas de impeachment são
descartadas, pelas ditas autoridades competentes, por conveniências pessoais,
descaso com a população e com o próprio país, autoproteções de partidos e do
Judiciário, barganhas, enfim, poucas vezes por sensatez e espírito público.
Exemplo definitivo foi o do (im)possível impeachment pela provada compra a
dinheiro, inclusive com confissão gravada, da aprovação de segundo mandato para Fernando Henrique Cardoso.
No caso de Bolsonaro, porém, há uma peculiaridade.
A
inquietação generalizada no “por que não o impeachment?” e no “até quando?”
deve-se a um obstáculo com primazia ante a regra geral. E com nome: Hamilton Mourão.
Foram
suas sucessivas declarações antidemocráticas e ameaçadoras, nos primórdios da
disputa eleitoral, que levaram esse general à presidência do Clube Militar e,
como tal, à indicação para vice de Bolsonaro. Mourão, no entanto, passou a se
mostrar o mais ponderado dos militares do bolsonarismo e logo adaptado ao
convívio com o mundo civil. Longe de ser outra toupeira, beneficiou-se ainda da
hostilidade de Bolsonaro ao seu novo estilo.
Ou
porque a mudança foi rápida demais para ser convincente, ou pela experiência
histórica, a opinião dominante sobre Mourão contém mais receios que os
suscitados por Bolsonaro. Entre políticos, porque já sabem lidar com a
ignorância, o morde-sopra, a paranoica insegurança e a vulnerabilidade de
Bolsonaro, inclusive penal e estendida a três filhos.
Bolsonaro é fraco, muito fraco. Só fica em pé por amparo de militares.
Entre
empresários ativistas e na mídia, Mourão está em grande desvantagem. Bolsonaro
é visto como manobrável com facilidade, aliado na política de classes do
liberalismo financeiro e na recusa às defesas ambientalistas, indigenistas e
climáticas. O silêncio de Mourão em tais temas consolidou entre empresários a
ideia de que o vice não se alinha à política econômica hoje representada por
Paulo Guedes.
Nada
a ver com pandemia, derrocada econômica, crise mundial. Os receios inspirados
pelo vice Hamilton Mourão, como substituto de Bolsonaro, bloqueiam a via para o
impeachment. Ao menos até que a cabeça desvairada e perversa de Bolsonaro torne
obrigatório o seu afastamento. Até lá, envergonhemo-nos sem remédio perante o
mundo às gargalhadas.
INIMIGOS DO SUPREMO
Na
condição, talvez nem sequer sonhada, de presidente do Supremo, José Antonio Dias Toffoli convalida
como legais e legítimas as manifestações lideradas por Bolsonaro, que tínhamos
como ilegais.
Pouco
antes e pouco depois de mais discurseiras democratas, Toffoli manteve no site
do Ministério da Defesa uma louvação do golpe de 1964, postada em razão do dia
último 31 de março e cuja retirada o Tribunal Regional Federal-5 determinara.
Toffoli
considerou “verdadeira censura” e violação da liberdade de expressão o
impedimento à celebração de um golpe que calou o Supremo, o Congresso e a
Constituição. Fez o mesmo, portanto, pedido pelas manifestações da claque
produzida pelo “gabinete do ódio” na
Presidência.
Logo,
o inquérito do Supremo, sob condução do ministro Alexandre de Moraes, para
apurar a responsabilidade pelas manifestações, consiste também em “verdadeira
censura” e violação da liberdade de expressão. Pelo que Toffoli induz, ilegal e
ilegítima é a ação do Supremo por ele presidido.
O
ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, responsável pelo site e pela
louvação, foi o general levado por Toffoli para integrar o gabinete da
presidência do Supremo —uma depreciação do STF superada só pelo golpe de 64.
UM PASSINHO
Bons
dias, estes, para o bom moço Aécio Neves. E de frustração para a Lava Jato
curitibana, que tanto o protegeu. Em poucos dias, Aécio Neves foi lembrado duas
vezes: denunciado por tomar R$ 65 milhões de construtoras e, até que afinal,
indiciado por desvio de R$ 747 milhões atualizados, na obra da Cidade
Administrativa quando governador mineiro de 2007 a 2010. Esses processos são
frutos da árvore genealógica das tartarugas.
Fique
sabendo https://bit.ly/2Yt4W6l
Leia mais https://bit.ly/2Jl5xwF
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