Depoimento de Bolsonaro de que só soube das joias
apreendidas em 2022 contradiz documentos oficiais
Ex-presidente afirmou que
só tomou conhecimento do primeiro conjunto de joias, avaliado em R$ 16,5
milhões, em 2022; em outubro de 2021, no entanto, o chefe de seu gabinete
pessoal solicitou que estojos fossem incorporados ao seu acervo privado
Luisa Marzullo/O Globo
Em depoimento à Polícia Federal (PF) na tarde desta
quarta-feira, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que só
tomou conhecimento em dezembro de 2022 do estojo de joias, dado por autoridades da Arabia Saudita, apreendido pela
Receita Federal, no dia 26 de outubro de 2021, no Aeroporto de Guarulhos. No
entanto, três dias depois, o gabinete do ex-presidente enviou um ofício ao
ministério de Minas e Energia solicitando o encaminhamento das joias para que
elas pudessem ser incorporadas ao "acervo privado do Presidente da
República ou ao acervo público da Presidência da República", como revelou
o jornal O Estado de S.Paulo. O conjunto de diamantes (colar, anel, par de
brincos e relógio) é avaliado em R$ 16,5 milhões.
Os bens entraram no país
na mochila do assessor do então ministro Bento Albuquerque e foram apreendidos
pelos fiscais por não terem sido declarados. Para a liberação, seria necessário
pagar as taxas de importação, caso fossem um bem pessoal, ou a apresentação de
documento de incorporação pelo acervo da Presidência da República, em caso de
presente de governo a chefe de Estado.
No
depoimento desta quarta-feira, o ex-mandatário afirmou, de acordo com relato de
uma pessoa que o acompanhou no depoimento, que acionou o ajudante de ordens
para verificar a situação das joias em Guarulhos para tentar era evitar um
vexame diplomático de o presente dado por outra nação ser
levado a leilão.
Como noticiou o GLOBO, o
conjunto formado por colar, anel, par de brincos e relógio da marca Chopard foi alvo de ofícios do governo
em ao menos oito ocasiões. Além do gabinete pessoal, o
Itamaraty, Bento Albuquerque e o secretário da Receita Federal, Julio Cesar
Viera Gomes, também tentaram reaver as joias.
Além do
primeiro estojo que seria um presente para a ex-primeira-dama Michelle
Bolsonaro, o ex-presidente recebeu outras duas caixas: um estojo que entrou no
país pelas mãos de Albuquerque e foi entregue à Presidência apenas um ano
depois, e outro que foi recebido por Bolsonaro durante viagem ao Oriente Médio
em 2019. À PF, o antigo chefe do Executivo negou ter praticado qualquer
irregularidade e afirmou não lembrar quem lhe avisou sobre as joias retidas na
alfândega.
Após o
depoimento, a PF tomará novas
providências no inquérito aberto para investigar a destinação de três conjuntos.
Além da concluir a perícia nos bens, outras diligências são realizadas, como a
análise de documentos e imagens relacionados ao caso. Os investigadores também
vão se debruçar sobre as oitivas realizadas ontem em busca de contradições.
Nem sempre
a aparência é igual à essência https://bit.ly/3Ye45TD
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