30 abril 2023

Futebol: concepções que se cruzam

As várias ideias de jogo no futebol

Há diferentes maneiras de atuar bem e de vencer; tendência mundial é unir estilos
Tostão/Folha de S. Paulo

 

Uma correção: Paulo Isidoro não era titular da seleção brasileira na Copa de 1982, como escrevi. A equipe tinha quatro jogadores excepcionais de uma área à outra (Toninho Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates), um centroavante (Serginho) e um ponta-esquerda (Éder Aleixo). Não havia ponta-direita.

Sem querer comparar a qualidade e o estilo dos jogadores, a seleção de 1982 lembra o Manchester City, que lembra o Fluminense, na maneira de jogar, com muita aproximação e troca de passes. Guardiola já disse que adorava ver o time brasileiro de 1982.

Quando o Manchester City contratou Haaland, eu e a turma que não é do oba-oba ficamos na dúvida se ele, um centroavante de arrancadas e finalizações, daria certo em uma equipe de trocas curtas de passes. Haaland se adaptou ao City, e o time, ao jogador. A equipe continua trocando muitos passes e, por ter Haaland, acelera no momento certo, com lançamentos longos para o artilheiro. Haaland passou também a jogar cada vez mais como pivô e a trocar mais passes. O time ficou mais forte, e ele, ainda melhor.

Décadas atrás, criou-se no futebol o conceito de que, para ser objetivo, é essencial atuar com transições rápidas e com muita velocidade para chegar ao gol. A troca curta de passes e a posse de bola passaram a ser execradas, o que ainda é repetido por muitos até hoje. Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues os chamaria de "idiotas da objetividade". Obviamente, há várias maneiras de jogar bem e de vencer. A tendência mundial é unir os dois estilos, o de gostar de ficar com a bola e acariciá-la com o jogo mais intenso e mais rápido de chegar ao gol.

O Palmeiras, que se destaca mais pela transição rápida, continua sendo o melhor time do Brasil, independentemente da atuação e do resultado de ontem contra o Corinthians. Não se mudam conceitos e avaliações por causa de poucos jogos.

Não houve surpresas na Copa do Brasil. O Flamengo goleou o Maringá por 8 a 2. O perigo é criar um otimismo exagerado, um conto de fadas por causa de um jogo. Uma das características de Sampaoli é alternar grandes e ruins atuações e resultados. A equipe costuma ser muito ofensiva e deixar muitos espaços na defesa. Hoje, o Flamengo enfrenta o Botafogo, que tem jogado melhor que a expectativa.

Alguns analistas e treinadores, como Coudet, do Atlético-MG, misturam volume de jogo e número de finalizações com desempenho e chances claras de gols. O Galo joga com intensidade, avança com muitos atacantes, finaliza bastante, mas tem pouca lucidez coletiva, por não priorizar a troca de passes e o controle da bola no meio-campo. Esse é um problema de várias equipes brasileiras.

Após a classificação do Corinthians na Copa do Brasil, Cuca anunciou a sua saída, já decidida antes da partida. O técnico se assustou e estranhou o enorme repúdio pela sua contratação, já que ele recentemente trabalhou em inúmeros times brasileiros e foi até comentarista de televisão na Copa do Mundo. O mundo mudou e não tolera mais o crime de estupro.

Apesar de condenado, Cuca nega ter participado do crime. Há uma pequena chance de ele ser inocente? Ele mente ou teria banido da consciência, da mente, o fato e criado uma outra verdade, em que acredita, como às vezes acontece com o ser humano para se livrar de um grande sentimento de culpa?

Os psicóticos, que não têm nada a ver com Cuca, não possuem este tipo de sofrimento nem arrependimento.

O futebol continua imprevisível? https://bit.ly/3ZyC9tL

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