Violência: há uma profunda incapacidade de
entender que somos um com o outro
“Estudos e pesquisas mostram que a polícia na
escola não resolve. Pelo contrário, ela agrava a situação de violência. Os
Estados Unidos, recordistas de ataques às escolas e no investimento em
segurança armada, são provas concretas deste equívoco”, afirma o pesquisador
João Vitor Santos |
Edição Patricia Fachin
Os
casos recentes de violência nas escolas indicam
que “muitos de nós estão vazios de sentido” e “vivemos tempos de crise da alteridade,
há uma profunda incapacidade de entender que somos um com o outro, o eu e o
outro são mutuamente dependentes e vivemos em uma Casa Comum, como
defende Leonardo Boff ou nos lembra Greta Thunberg todas as sextas-feiras”,
diz Jhonatan de
Almada, diretor do Centro de Inovação para a Excelência em
Políticas Públicas – CIEPP.
Na
entrevista a seguir, concedida ao Instituto
Humanitas Unisinos – IHU por e-mail, ele associa a crise a
estímulos de “um movimento global
conservador de cariz nazifascista que, ao fim e ao cabo, deseja
a eliminação do outro. O outro é sempre um bode expiatório, as maiorias minorizadas, os
pobres, os negros, os indígenas, as mulheres, a comunidade LBGTQIA+, a esquerda
de modo geral”. Na avaliação dele, os atos violentos registrados no país
recentemente dizem respeito à “violência
contra as escolas” e, diferentemente da violência escolar, “é
filha dileta do extremismo
de direita e da polarização política que tomou conta
do país; o Brasil dobrou à direita, como pontua Jairo Nicolau. Nesse sentido, os ataques são
atentados”.
Para
romper com o ciclo
de violência, manifesto também nas escolas, o ponto
central, argumenta, é favorecer a cultura de paz. “O encaminhamento de médio e
longo prazo é construir uma política pública para a cultura de paz nas escolas.
À escola cabe um papel, mas cabe também ao conjunto de atores sociais por ela
responsáveis”, conclui.
Jhonatan
de Almada é licenciado em História pela Universidade Estadual do
Maranhão – UEMA, especialista em Gestão e Políticas Públicas pela Fundação
Getulio Vargas – FGV e em Planejamento e Gestão de Políticas Educativas, pelo
Instituto Internacional de Planejamento da Educação da UNESCO. É mestre em
Educação pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA e doutorando em Educação
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP. É servidor
público federal da Carreira de Técnico de Assuntos Educacionais, vinculado à
UFMA, presidente da Federation of International RoboSports Association – FIRA,
no Brasil, cofundador da Rede de Planificadores Educativos da América Latina e
membro da Rede de Especialistas em Política Educativa da UNESCO/IIPE.
Confira
a entrevista
IHU – O
que os casos recentes de violência nas escolas revelam sobre nosso tempo?
Jhonatan Almada – “São Luís, um beco escuro, um ladrão e
eu... ele — mãos ao alto; a bolsa ou a vida! Eu — consulte-as; ambas estão
vazias!”. Este poema de Wybson Carvalho me
faz pensar que muitos de nós estão vazios de sentido. Penso que vivemos tempos
de crise da alteridade, há uma profunda incapacidade
de entender que somos um com o outro, o eu e o outro são mutuamente dependentes
e vivemos em uma Casa Comum, como defende Leonardo Boff ou nos lembra Greta Thunberg todas as sextas-feiras.
Divergir
não me faz inimigo de ninguém; a luta política na democracia deveria se dar
pela palavra e não pelo uso da força – o discurso de ódio mudou
isso. Não se pode duvidar que o mundo mais justo, inclusivo e sustentável é bom
para todos, agora e no futuro. Compreendo que essa crise é estimulada e faz
parte de um movimento global conservador de cariz nazifascista que,
ao fim e ao cabo, deseja a eliminação do outro. O
outro é sempre um bode
expiatório, as maiorias minorizadas, os pobres, os negros, os
indígenas, as mulheres, a comunidade LBGTQIA+, a
esquerda de modo geral. Elegem um inimigo para nele projetar suas frustrações e
sofrimentos, cooptam seguidores a partir da internet e os fazem pôr em
andamento essa máquina de morte.
IHU – Os
casos recentes de São Paulo e Santa Catarina são tratados como de violência
escolar. Não seria mais correto considerar que são atentados? No que consiste o
conceito de violência escolar, pensando a partir das ações entre alunos?
Jhonatan Almada – Por um lado, existe a
violência escolar que abrange os atos violentos físicos ou simbólicos que
ocorrem dentro da escola: brigas, bullying e assédios. Por
outro, existe a violência contra as escolas,
essa última é a que temos observado nos acontecimentos recentes e é filha
dileta do extremismo de direita e da polarização política que tomou conta do
país; o Brasil dobrou à direita como pontua Jairo
Nicolau. Nesse sentido, os ataques são atentados.
Quero
pontuar que essas duas tipologias de violência não
são continentes separados. Quando você coloca o estudante, é necessário
percebê-lo como ser que está na escola durante
parte do seu tempo, mas vive com sua família, no seu território, e tem o
próprio círculo social, real e virtual. A cooptação para o discurso
de ódio pode ser velada ou aberta, só do estudante ou ainda ter o
consentimento ativo da própria família. A escola está atravessada por diversas
questões e se percebe certo cansaço. Converso muito com professores e gestores escolares,
e eles me dizem que se sentem sobrecarregados. O problema do enfrentamento
da violência escolar ou contra as escolas
precisa trazer os enfoques do papel do Estado em
sentido amplo, da sociedade civil organizada, das famílias e das redes sociais.
Sem isso, o risco é continuar pensando que a escola pode ser sempre Atlas e segurar
os Céus nas
costas.
IHU – Como analisa as ações do governo federal, especialmente o
repasse de recursos para estados e municípios, no combate à violência nas
escolas?
Jhonatan Almada – Até 2022, vivíamos clima de
beligerância permanente entre União, estados e municípios. Isso impediu
que o Brasil enfrentasse a pandemia de covid-19 de
forma eficiente e deixou como herança milhares de brasileiros mortos. O ponto
de inflexão ocorreu na resposta aos atos antidemocráticos de 08-01-2023. Há um
regime de colaboração em funcionamento. Isso é pérola em campo de trigo, se
olharmos que ainda predomina nas cabeças de muitos a visão do general Juarez
Távora, segundo a qual a União normatiza, o estado adapta e o
município executa. O governo federal tem agido como um ente coordenador dos
esforços federativos, eis aí a força e a virtude das iniciativas. Como na
música, a qualidade das medidas anunciadas cobre os defeitos.
Foram
quatorze ações apresentadas como “Políticas Integradas de
Proteção do Ambiente Escolar” pelo governo Lula.
Destaco como pontos fortes: o repasse via Programa
Dinheiro Direto na Escola para investimento em
infraestrutura, equipamentos, formação e apoio à implantação dos núcleos de
apoio psicossocial; os recursos consignados para os estados fortalecerem suas
rondas escolares e os municípios suas guardas municipais; e a parceria com
o Conselho Nacional de Justiça para
ações de justiça restaurativa no ambiente escolar.
Os
pontos fracos são a lacuna quanto ao papel das famílias e os protocolos de
segurança para o antes, o durante e o depois dos ataques às escolas. Pode-se
delegar aos estados e municípios, contudo é necessário esboçar diretrizes
orientadoras ou construir juntos tais orientações. Cheguei a traduzir parte do
“Guide for Preventing and
Responding to School Violence”, do Departamento de Justiça
dos Estados Unidos, como contribuição.
IHU –
Diante desses últimos acontecimentos, quais os riscos de se criminalizar o
cotidiano escolar? Como isso pode impactar na vida de crianças e jovens?
Jhonatan Almada – “Isca de polícia em tempo
de exceção”, diz a música de Beto Ehong. É o
que ocorre quando se coloca a polícia na escola: tornará os estudantes isca
para a repressão, sob a escusa da garantia de segurança. Não é papel da polícia
vigiar as escolas ou cuidar da disciplina escolar; cabe à própria escola lidar
com isso. Este trabalho pode ser feito por inspetores ou assistentes de alunos,
como queiram chamar, profissionais que os políticos precisam incluir em novos
concursos, juntamente com os porteiros, orientadores educacionais, psicólogos e
assistentes sociais. Primeiro de tudo, os políticos precisam ouvir os
pesquisadores das universidades públicas – friso isso. O ponto de partida
precisa ser este. Daniel Cara, Andressa Pellanda, Juliana
Meato e conjunto de pesquisadoras produziram o relatório “O
ultraconservadorismo e extremismo de direita entre adolescentes no Brasil”. Aí
constam análises e recomendações para lidar com os ataques às escolas.
Recomendo fortemente a leitura.
Estudos
e pesquisas mostram que a polícia na escola não resolve. Pelo contrário, ela
agrava a situação de violência. Os Estados Unidos, recordistas de ataques
às escolas e no investimento em segurança armada, são provas
concretas deste equívoco. Vou citar apenas a pesquisa “Unequal exposure to School Resource
Officers, by Student Race, Ethnicity, and Income”, de Sagen
Kidane e Emily Rauscher. As
duas pesquisadoras identificaram que a presença da polícia na escola está
diretamente relacionada com o crescimento do número de ofensas estudantis, e
essa presença é maior em escolas que atendem alunos negros e latinos.
IHU – Pensando nos professores, como viabilizar a segurança
desses profissionais sem que cada aluno seja convertido em ameaça em potencial?
Jhonatan Almada – O ponto central é a cultura de paz e
que cada escola tenha seu plano de contingência construído com o auxílio dos
sistemas de segurança. Agora, fundamental mesmo é ouvir os pesquisadores das
universidades públicas, reitero. Por exemplo, Álvaro
Chrispino e Miriam Lucia Herrera escreveram
o artigo “Uma proposta de
modelagem de política pública para a redução da violência escolar e promoção da
Cultura da Paz”, prevendo medidas como diagnóstico da violência
escolar, plano de segurança nas escolas e plano de ação para a situação de
violência. O encaminhamento de médio e longo prazo, segundo esses
pesquisadores, é construir política pública para a
cultura de paz nas escolas. À escola cabe um papel, mas cabe também ao
conjunto de atores sociais por ela responsáveis.
IHU – O
próprio presidente Lula, em anúncio de ações contra violência nas escolas,
disse que a instalação de detectores de metais, muros altos e instalação de
câmeras não resolvem o problema e que seria um fracasso de todos ter de
revistar a mochila de um estudante. O que essa fala revela? E, na sua opinião,
o que resolve o problema?
Jhonatan Almada – A síntese da fala do
presidente Lula é “escola não é prisão”, mas lugar da
construção de si, com o outro, no mundo. Implementar essas medidas por si só
não funciona. O que funciona é o diálogo com a escola, as famílias, os próprios
estudantes e a produção do conhecimento existente sobre o tema. É essencial que
as Secretarias de Educação construam junto com as escolas. A partir daí, devem
tomar decisões alinhadas com cada contexto escolar. Escola é lugar de três
formações essenciais: a formação individual, a
formação para cidadania e a formação para
o trabalho. Escola é lugar de bem-estar,
bem-querer e do bem comum. Escola é lugar do esforço de estudar, como diz Paulo Freire; não é um piquenique. Exige muito
de cada um e cada uma de nós. O trabalho que se desenvolve no ambiente escolar
exige profissionalização e valorização de suas equipes, bem como as condições
suficientes e necessárias para seu funcionamento, sejam humanas ou de
infraestrutura.
IHU – O senhor tem falado da importância da concepção de uma
“rede protetiva da escola”. No que consiste essa rede e quais os desafios para
viabilizá-la?
Jhonatan Almada – A rede protetiva implica,
entre outros atores, os Conselhos Tutelares, o Ministério Público, a Defensoria
Pública, os Conselhos de Direitos, os Conselhos Escolares, as Associações de
Pais e Mestres, a Sociedade Civil Organizada, os Sindicatos dos Profissionais
da Educação, os Grêmios Estudantis, as Secretarias de Segurança, os Serviços de
Emergência, as Rondas Escolares, as Guardas Municipais, as Delegacias e os
Batalhões de polícia. É preciso que todos dialoguem, participem e se articulem
em instância de governança. Reunir apenas quando há crise se torna ineficaz.
Talvez a criação de comitês estaduais, municipais e escolares para cuidar da
proteção e segurança escolar possa contribuir. Contudo, penso ser mais
produtivo fortalecer os Conselhos Escolares – eles já existem e terminam por
não funcionar efetivamente dada a nossa tradição autoritária que rejeita a
gestão democrática. O desafio histórico e permanente passa por fazer essa rede
trabalhar de forma integrada e intersetorial na garantia do direito à
educação e no asseguramento do trabalho das escolas e seus
profissionais.
IHU –
Ainda no mesmo anúncio, o ministro de Justiça e Segurança, Flávio Dino,
insistiu nas ações de regulação e controle das redes sociais. Como o senhor
compreende o papel dessas redes na configuração da violência em ambiente
escolar?
Jhonatan Almada – É pelas redes sociais que
o discurso de ódio se dissemina e se
materializa como violência escolar ou violência contra as escolas. O ministro
tem razão e é inevitável regular [as redes] – lembremos que um dos primeiros
atos do bilionário Elon Musk ao
comprar o Twitter foi desbloquear
Donald Trump, líder global da extrema direita e eleito com o auxílio das
redes sociais.
O
filósofo Byung-Chul Han, no
livro “Infocracia”, aponta
que os cidadãos “se tornam incapacitados em gados eleitorais manipuláveis”.
Veja que esta afirmação não é trivial ou originada da conjuntura brasileira,
mas fruto de reflexão dedicada deste filósofo quanto ao nosso tempo e ao uso
político das redes sociais pela extrema-direita. No caso dos estudantes, a
cooptação extremista vem pelo uso do humor, da estética e linguagens violentas,
trollagem, canais de bate-papo, de jogos on-line, como Roblox, Fortnite e Minecraft,
canais do YouTube, os quais conduzem para grupos fechados de
mensagem no WhatsApp, Telegram ou Discord. Quero
fazer um reparo aqui: o problema não está nos jogos em si, mas em serem meios
condutores para a cooptação. Contudo, jogos violentos estimulam comportamentos
violentos. É o que mostra ampla revisão de literatura feita por Craig
Anderson e colaboradores.
IHU –
Ainda especificamente sobre as redes, qual o papel da escola, do Estado, da
família e da sociedade em geral na educação dessas novas gerações quanto ao uso
desses dispositivos?
Jhonatan Almada – Penso que a escola deve
ter sua política de uso da internet e aplicativos
de celular, calibrando restrições e liberações, conforme a
intencionalidade pedagógica do uso desses dispositivos e em diálogo com as
famílias, a quem cabe o papel principal de acompanhar esse uso em casa. O
Estado deve ter sua regulação, como bem lembrou o ministro Alexandre
de Moraes: o que não pode no mundo real, não pode no mundo virtual. E
faço advertência quanto à necessidade de políticas de proteção dos dados dos
estudantes. São duas frentes no caso do Estado, a da regulação em si e a do
monitoramento do discurso de ódio nessas
redes. Quanto à primeira frente, se sabe que a organização Human
Rights Watch denunciou os sites Estude
em Casa, Centro de Mídias da Educação de São Paulo, Descomplica, Escola Mais,
Explicaê, MangaHigh, Stoodi e Revisa Enem, por venderem os dados de
crianças e adolescentes. Isso precisa ser coibido. Quanto à segunda frente, o
relatório independente produzido pelas pesquisadoras Letícia
Oliveira, Paola Costa e Tatiana
Azevedo mostra que as ameaças massivas às escolas foram ações
coordenadas para gerar pânico, portanto, atividades criminosas que precisam ser
investigadas até a punição dos culpados. A nós, como sociedade e usuários
desses dispositivos, cabe a denúncia do discurso de ódio por todos os meios
cabíveis, seja via regulação do Estado, seja via mecanismos de autorregulação
das redes sociais.
IHU – O
que a presença de policial armado em colégios gera nos estudantes? Qual
deve ser o papel da polícia nesse contexto de ataques e violência escolar?
Jhonatan Almada – Tem uma charge do [Carlos] Latuff, de
2012, em que ele mostra um policial armado de fuzil revistando três crianças
com o rosto virado para o quadro de giz. Vamos supor que os adolescentes corram
pela escola, risquem a carteira, sujem o banheiro ou tenham discussão mais
acalorada entre si, a escola tem seus próprios meios de encaminhar essas
questões, faz isso há décadas e poderia fazer melhor caso contasse com equipes
multidisciplinares para tal. Contudo, quando presente a polícia, esses
comportamentos passam a ser criminalizados e os estudantes enquadrados como
contraventores, até mesmo sendo expulsos da escola. O professor Christopher
Mallett, da Universidade Estadual
de Cleveland, aponta justamente para esse impacto não
intencional em que a polícia criminaliza os comportamentos inadequados e a
conduta desordeira, prejudicando o clima escolar e atuando de forma
desproporcional com jovens negros, portadores de deficiência ou que se
identificam como LGBTQIA+. Tal combinação é como um coquetel Molotov: violência
policial misturada com violência escolar. Lugar de polícia é nas
ruas. Considero admissível estarem próximos da escola para qualquer
eventualidade, mas cada profissional com seu trabalho. Cabe a nós, educadores,
o papel de educar, cabe a nós, educadores, o papel de liderar a escola.
IHU – Como o tema da violência escolar deve ser abordado com os
estudantes de forma produtiva, sadia e sem gerar traumas a alunos e educadores?
Jhonatan Almada – Veja só, a escola pode
estimular os professores a trabalharem com os estudantes o sentido de
pertencimento à humanidade, promovendo debates sobre casos concretos de genocídios, a
exemplo do Holocausto, na Alemanha
Nazista, o Genocídio dos Tutsis,
em Ruanda, o Genocídio Armênio ou
o Massacre de Camboja.
Podem também analisar casos concretos de fake news ou ainda envolver os jovens em
ações educativas nas comunidades do entorno escolar. Defendo que a promoção de
copas de debate é bastante eficaz, fazem os estudantes valorizarem as ciências humanas. Pena
que isso não seja tradição em nosso sistema escolar, como é em outros países.
O Ministério da Ciência e Tecnologia, em
parceria com o Ministério da Educação,
poderia apoiar Olímpiada Científica Nacional de Humanidades, como
já faz com a Olimpíada Brasileira de Matemática. Basta
vontade política.
IHU –
Qual deve ser o papel da família nesse cenário?
Jhonatan Almada – As famílias podem muito.
Primeiro de tudo, não dá para deixar os filhos no celular ou no videogame sem
limites, horas a fio. Estabeleçam regras. Por exemplo, videogames só no fim de
semana, celular somente depois de cumprir as tarefas da escola e fazer as
refeições. Isso vale para os próprios pais também, que precisam ter tempo de
qualidade com os filhos.
A primeira
medida é a observação: veja com quem os filhos interagem. Perceba
suas falas, se são preconceituosas ou guardam ódio direcionado a algum segmento
social. A segunda medida importante é incentivar
os filhos a terem uma atitude aberta e de curiosidade com o mundo e as pessoas;
o ódio se alimenta da ignorância e da desinformação. A terceira
ação é estimular a empatia, especialmente nas redes sociais.
Não aceitar e referendar postagens preconceituosas e desrespeitosas. Uma quarta
ação é ficar atento ao comportamento dos filhos quando estão em
grupo. Às vezes, na nossa frente, se comportam bem e, no meio de certos grupos
de amigos ou conhecidos, mostram evidências de comportamentos inadequados.
Outra medida é interagir com seu filho quando observar agressões on-line e ser claro,
dizendo “isso não está certo” ou “isso não é aceitável”, bem como, encorajá-lo
a apoiar os alvos desses ataques, a se manifestar quanto a isso, pois permanecer
em silêncio não é a opção mais recomendada. Devemos denunciar.
IHU – Há
muito tempo, fala-se dos diversos modos de educação para não violência. Em que
medida essas perspectivas podem responder às questões que são levantadas a
partir do que temos vivido?
Jhonatan Almada – Recomendo o uso da
biblioteca digital da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura – Unesco. Vocês encontrarão diversos
materiais para a promoção da cultura de paz e da educação para a não violência.
Este tema não é novo, como bem pontuas na pergunta. Há fartura de literatura
acadêmica, materiais didáticos, guias e cartilhas. Temos um problema no Brasil que
é agir no afogadilho e esquecer o estruturante. A educação
para a cultura de paz deve ser a ação estruturante,
incorporada como princípio de ensino, seja na Constituição
Federal, seja na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Os
programas anunciados pelo governo federal para enfrentar os ataques
às escolas, que sejam avaliados como consistentes, devem ter perenidade,
tornando-se política pública permanente. Um exemplo é o Programa
Dinheiro Direto na Escola – PDDE, que atravessou
diferentes governos e se mantém. Por quê? Porque faz sentido, alcança a escola
de forma direta e funciona. Nosso desafio continua sendo aquele que Darcy Ribeiro sublinhava, ou seja, nossa
tarefa nacional no campo da educação é levá-la a sério e construir escola
honesta que possa encarar e vencer as dificuldades objetivas dos nossos
estudantes. [Foto:
Marcelo Camargo/Agência Brasil]
Um terço das escolas do mundo não tem acesso a água potável e saneamento básico https://bit.ly/3T8g2bm
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