Supervalorização de treinadores
é a principal razão de tantas demissões
Eles não são os grandes responsáveis por tudo o que acontece
em campo
Tostão/Folha de S. Paulo
Os
treinadores das grandes equipes do Brasil e do mundo são quase sempre
estudiosos, organizadores, conhecedores das informações, dos detalhes técnicos
e táticos e ainda contam com a ajuda de especialistas nas comissões técnicas.
A
ciência é universal. Existe um comportamento padronizado da maioria dos
treinadores, que não significa que sejam iguais. A competência vai depender de
outros fatores: da capacidade de observar, entender e comandar um grupo de
atletas com posturas emocionais diferentes. Mais importante ainda para o
sucesso de um treinador é a qualidade individual dos jogadores.
Alguns
treinadores fogem do padrão habitual. Sampaoli é
um desses. Depois de vários técnicos pragmáticos, que vêm o futebol como um
jogo de xadrez, uma disputa de estratégias, o Flamengo tem um treinador
diferente, surpreendente. Sampaoli é da escola do Loco Bielsa. Os loucos são
bem-vindos. Sampaoli costuma brilhar ou fracassar. Nunca é mais ou menos.
O
Palmeiras, como o Flamengo, precisa vencer o segundo jogo pela Libertadores já
que os dois times perderam a primeira partida. O argentino Flaco López tem
feito muitos gols, alguns belíssimos.
O
jovem Endrick também tem balançado as redes. A expectativa principal não é se
ele vai fazer ou não muitos gols, e sim se vai aos poucos se tornar um
excepcional atacante, como nas categorias de base. Ainda é cedo para saber.
O
treinador Abel Ferreira foi novamente expulso, merecidamente. A CBF está
correta em orientar os árbitros para terem muito rigor contra a agressividade e
o mau comportamento dos treinadores durante as partidas e as excessivas
reclamações dos atletas. Essas posturas de técnicos e jogadores prejudicam
bastante o espetáculo.
O
Corinthians, que venceu o primeiro jogo da Libertadores, volta hoje a atuar, em
casa. A partida contra o Cruzeiro pelo Brasileirão foi muito ruim, tediosa, sem
intensidade e com raras chances de gols. O Cruzeiro, assim como na derrota por
1 x 0 para o Náutico pela Copa do Brasil, trocou muitos passes, mas de um
jogador parado para outro, do lado. O time não avançava com a bola, não
ultrapassava a marcação nem criava chance de gols.
Antes
da partida, vários torcedores do Corinthians já pediam a demissão de Fernando
Lázaro. No meio de semana escutei também, na imprensa, muitas criticas ao
treinador por causa dos últimos jogos. Se o Corinthians não tivesse vencido o
Cruzeiro, haveria grandes chances de ele ser demitido, o que é incompreensível,
pois o time demonstra ter boas possibilidades de evoluir. Falta mais
intensidade, mais pressão para recuperar a bola, deficiência ainda frequente no
futebol brasileiro.
É
indiscutível a enorme importância dos treinadores. Por outro lado, existe um
pensamento generalizado, viciado, equivocado de que os técnicos com as suas
estratégias de jogo são os únicos ou os grandes responsáveis por tudo o que
acontece em campo, nas vitórias ou nas derrotas. Pequenas condutas técnicas,
rotineiras, passam a ter um grande significado. Essa supervalorização é a
principal razão de tantas demissões de treinadores. Falta o tempo necessário
para que haja um entrosamento da equipe.
As
pessoas ignoram outros detalhes decisivos, objetivos e subjetivos, como a
imprevisibilidade do futebol e as ações, gestos técnicos e as escolhas feitas
pelos jogadores.
O
futebol é uma mistura de arte, ciência e acasos. Não existe arte sem técnica
nem ciência sem imaginação, criatividade.
Roda viva, roda girando https://bit.ly/3mlWMJ0
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