Ludwig van Beethoven
salva?
Luciano Siqueira
Dirijo o carro com o
som ligado na CBN em rede nacional.
As notícias se
sucedem: assassinatos, desmoronamento de edifício residencial, sequestro de
criança de dois anos por casal suspeito de tráfico humano, roubos, prefalência
de grande rede varejista, briga entre parlamentares, torcedor agredido até a
morte por turba adepta de time rival.
Sequência mórbida.
"O mundo está
muito ruim", penso. Preciso sair dessa realidade, pois estou há 12 horas
em jejum e daqui a pouco terei 12 frasquinhos de sangue colhidos para 50 e
tantas dosagens bioquímicas.
É que estou fazendo
um check-up fora de hora. Tudo por causa de uma tosse renitente associada a
astenia e fastio. Tenho me alimentado muito mal, a ponto de perder pouco mais
de 3 kg.
Aí o médico amigo,
tão competente quanto solidário, me impõe uma bateria interminável de exames de
toda ordem, incluindo a avaliação da função pulmonar e da qualidade do
meu sono.
Pois a medicina hoje
é assim. Por mais arguto e atencioso que seja o clínico, não pode prescindir do
laboratório - o bioquímico e o radiológico e o digital.
Pior é que todos os
meus check-ups revelam uma verdade absoluta e ao mesmo tempo inquietante:
"você não tem nada", dizem o clínico e o cardiologista.
O "nada" aí é exagero.
Pois padeço de uma leve arritmia, sou hipertenso e — confesso — às vezes um pouquinho
ansioso (quando os projetos em que estou metido parecem caminhar em ritmo
precário).
“Não tem nada, em
termos"– esclarecem. "Mas pode ter a qualquer momento pela sua condição de
idoso. Temos que prevenir”, dizem.
Bom, voltando ao
noticiário: insuportável, tinha que ser calado imediatamente. A pauta
jornalística, tanto no rádio como na TV e demais canais de comunicação,
sobretudo o cibernético, é incrivelmente marcada por notícias ruins.
A gente quer saber o
que acontece de bom, mas pouco noticiam.
Entre o incômodo e a
revolta, recorro ao Spotify e encontro o som da Nona Sinfonia, de Ludwig van
Beethoven, executada pela Filarmônica de Berlim.
Aí o clima muda. E até
gosto de um ligeiro engarrafamento no trânsito aqui no Espinheiro, por onde
passo a caminho do laboratório na Boa Vista.
Mas parece que a
nossa grande mídia e suas ramificações mostram o mundo ruim como
forma de prender a atenção do público e vender anúncios.
Lamentável, pois
mesmo sem recorrer à música seria possível trafegar pelas ruas do Recife
enxergando outras manifestações da vida que não a desgraça.
Quem sabe num futuro
mais saudável possamos viver a vida como ela é, um misto de drama, sofrimento,
prazer e esperança.
E assim
experimentarmos nossa cota pessoal de felicidade cotidiana.
Produtivos lapsos de insônia https://bit.ly/3y3TPAS
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