10 maio 2023

Minha opinião/crônica

Ludwig van Beethoven salva?

Luciano Siqueira

 

Dirijo o carro com o som ligado na CBN em rede nacional.

As notícias se sucedem: assassinatos, desmoronamento de edifício residencial, sequestro de criança de dois anos por casal suspeito de tráfico humano, roubos, prefalência de grande rede varejista, briga entre parlamentares, torcedor agredido até a morte por turba adepta de time rival.

Sequência mórbida.

"O mundo está muito ruim", penso. Preciso sair dessa realidade, pois estou há 12 horas em jejum e daqui a pouco terei 12 frasquinhos de sangue colhidos para 50 e tantas dosagens bioquímicas.

É que estou fazendo um check-up fora de hora. Tudo por causa de uma tosse renitente associada a astenia e fastio. Tenho me alimentado muito mal, a ponto de perder pouco mais de 3 kg.

Aí o médico amigo, tão competente quanto solidário, me impõe uma bateria interminável de exames de toda ordem, incluindo a avaliação da função pulmonar e da qualidade do meu sono.

Pois a medicina hoje é assim. Por mais arguto e atencioso que seja o clínico, não pode prescindir do laboratório - o bioquímico e o radiológico e o digital.

Pior é que todos os meus check-ups revelam uma verdade absoluta e ao mesmo tempo inquietante: "você não tem nada", dizem o clínico e o cardiologista.

O "nada" aí é exagero. Pois padeço de uma leve arritmia, sou hipertenso e — confesso — às vezes um pouquinho ansioso (quando os projetos em que estou metido parecem caminhar em ritmo precário).

“Não tem nada, em termos"– esclarecem. "Mas pode ter a qualquer momento pela sua condição de idoso. Temos que prevenir”, dizem.

Bom, voltando ao noticiário: insuportável, tinha que ser calado imediatamente. A pauta jornalística, tanto no rádio como na TV e demais canais de comunicação, sobretudo o cibernético, é incrivelmente marcada por notícias ruins.

A gente quer saber o que acontece de bom, mas pouco noticiam.

Entre o incômodo e a revolta, recorro ao Spotify e encontro o som da Nona Sinfonia, de Ludwig van Beethoven, executada pela Filarmônica de Berlim.

Aí o clima muda. E até gosto de um ligeiro engarrafamento no trânsito aqui no Espinheiro, por onde passo a caminho do laboratório na Boa Vista.

Mas parece que a nossa grande mídia e suas ramificações mostram o mundo ruim como forma de prender a atenção do público e vender anúncios.

Lamentável, pois mesmo sem recorrer à música seria possível trafegar pelas ruas do Recife enxergando outras manifestações da vida que não a desgraça.

Quem sabe num futuro mais saudável possamos viver a vida como ela é, um misto de drama, sofrimento, prazer e esperança.

E assim experimentarmos nossa cota pessoal de felicidade cotidiana.

Produtivos lapsos de insônia https://bit.ly/3y3TPAS

Nenhum comentário: