Muito mais do que o pix
Luciano
Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Sentindo-se derrotado pela avalanche de fake news a propósito da Receita Federal adotar mecanismo de controle sobre transações com o pix e coibir a sonegação de impostos, o governo recuou.
Melhor dizendo, perdeu a batalha contra a mentira.
O novo ministro Sidônio Palmeira, que assume com a missão de elevar
qualitativamente a comunicação do governo, sustenta que, mesmo aparentemente lenta,
a principal arma contra mentira há de ser a verdade.
Corretíssimo.
Ocorre que isso implica em avanço competente em três trincheiras
de luta: a do gesto político, que o próprio presidente e seus ministros estão
desafiados a aprimorar; a comunicação sistêmica e em linguagem
compreensível pela maioria da população; a ação consequente nas redes sociais.
Ruim que essas urgências estejam postas no início do terceiro ano do
governo, quando deveriam ter sido pressupostos obrigatórios desde o
início.
Muito se diz que a comunicação do governo é analógica, enquanto que a
extrema direita esbanja força e inescrupulosa "competência" no mundo
digital (com apoio escancarado das big techs).
Na verdade, a deficiência não está apenas no governo federal. Compromete
a atividade política do conjunto das forças coesionadas na frente ampla governista.
Vale dizer, subproduto de deficiências clamorosas na apreciação da
realidade concreta em toda a sua dimensão — onde pontifica uma correlação de
forças sob muitos aspectos adversa.
No bojo desse atraso, digamos político e técnico, há se incluir
considerável afastamento dos partidos do campo popular em relação à sua base
social.
Daí o desafio se apresentar como muito além do pix, ou seja, da
comunicação digital.
Pois inclui inapelavelmente um ajuste de formas de luta e de organização
e de propaganda na abordagem de uma base social em plena transformação, seja
pelas alterações no modo como os trabalhadores são hoje organizados para a
produção de bens e serviços, seja pela tremenda exclusão social que alarga de
modo espantoso o contingente de trabalhadores informais (estes alvos fáceis dos
chamados influenciadores digitais da extrema direita).
*Texto da minha coluna de hoje no portal Vermelho
Leia também: O mundo cabe numa organização de base https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/minha-opiniao_18.html
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