17 janeiro 2025

Palavra de poeta: Mia Couto

Drummond
Mia Couto  

Por labor lhe coube
dar nomes às coisas.

 

Em tudo
a sua palavra pousou
como mão em benzida água.

 

E os seres,
haventes e nascentes,
a seu modo batizou
para que a todos
coubesse parto e morte.

 

Sucedeu,
porém,
que o palavrador
a si mesmo
em nome se faltou.

 

E agora José?
em verso se perguntou.
E agora
você que é sem nome?

 

No enterro,
como se houvesse morte,
lhe inventaram títulos.

 

Ainda hoje,
com um só nome
o lembramos:
poeta.

 

E nesse nome
se dizem
todos os nossos nomes.


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Leia também um poema de Cida Pedrosa https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/palavra-de-poeta-cida-pedrosa_11.html 

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