06 outubro 2025

Abraham Sicsu opina

Aprendendo com Vedanta
Abraham B. Sicsu      

Era uma semana inteira. Sempre em um retiro, em um local aprazível, em contato com a natureza. Por muitos anos. Agora são três dias. Uma imersão muito concentrada. Aprende-se muito, faz refletir bastante. Lições que dão sentido à existência. Chama-se Intensivo em Vedanta e ocorreu agora em setembro. Promovido pelo Centro de Estudos Vidya Mandir.

Para poder se concentrar em conhecimentos tão profundos, fundamental a programação cultural. Riquíssima. Deixemos esse tópico para outra hora. Vejamos mais de perto os conceitos que mais me marcaram nesse evento especial.

Vedanta, a parte final das escrituras sagradas do Hinduísmo, os Vedas, a base da filosofia tradicional indiana, traz ensinamentos sobre a compreensão da verdadeira natureza do Ser e sua realidade. Princípios universais que nos ensinam que o caminho para a felicidade está dentro de nós e o único meio para atingi-lo é a busca do autoconhecimento.

Uma Mestra, brasileira, que se formou na Índia, que dedicou sua vida ao ensinar esses caminhos, que tem seguidores em todo a País, congregou mais de cem pessoas, para ouvir seus ensinamentos e de mais três professores. Dias de reflexão, de iluminação dos rumos que podem ser seguidos.

Este ano, a principal lição que se procurou aprofundar em Vedanta, parte de uma pergunta simples, mas difícil de ser respondida: o que faz sentido para mim? Como posso me encontrar comigo mesmo?

Parte-se de uma constatação bem visível. O Mundo em que vivemos é absorvente, inimaginavelmente atribulado, nega espaços para o autoconhecimento. É preciso conseguir esses espaços.

A Meditação pode ser entendida como um momento de estar consigo. Nem que sejam poucos minutos. É base desse encontro tão desejado com nosso próprio Ser. Não é o encontro, mas facilita esse processo. Uma prática que deve ser diária.

A busca da felicidade passa por trilhas a serem percorridas. Na vida, o ser humano deve procurar quatro coisas essenciais.

Uma vida Segura, para não viver em atropelos, para poder trilhar seu caminho com confiança, para poder alicerçar suas buscas.

Uma vida Prazerosa que dê sentido à existência, que nos dê caminhos em que tenhamos alegria e razão para continuar nosso percurso.

Sem esquecer que temos uma Missão a ser cumprida, que deve ser feito o que é direito, com respeito aos valores universais e a ética que norteiam a civilização e a natureza.

Esses três aspectos nos podem levar à Liberação do sofrimento e encontro com nosso verdadeiro eu, o qual só pode ser alcançado pelo conhecimento, pelo aprofundar dos estudos e compreensão das escrituras e orientações advindas pela tradição e transmitidas pelos Mestres.

Com isso se busca o Autoconhecimento e a Felicidade.

É ilusão acreditar que o que nos faz feliz são os objetos, o possuir, isso sempre é temporário, fugidio. Podem ser momentos de felicidade, mas se esvaem, desaparecem.

Nessa busca, um momento fundamental é o da Meditação. Olhar para mim mesmo, me compreender pode trazer paz. Paz que permite entender os nossos valores universais e o relacionamento com o mundo que vivemos e com os seres humanos que nos rodeiam. Momento em que podemos procurar o respeito para mim mesmo e para com os outros,

Nesse processo vamos buscando a maturidade, deixando de lado o que ocorreu e não podemos modificar, sem ignorar, visando ser mais completos no que podemos interferir e ajudar a construir ou modificar. Autoconhecimento passa a se tornar prioridade.

Nesse processo, vemos que a Ação é fundamental na busca de segurança e prazer, mas só se completa com o Conhecimento, no compreender qual é nossa Missão, quais são os valores que nos devem conduzir, qual o rumo para atingir a liberdade que almejamos. Caminho que pode nos levar à Liberação do sofrimento.

Felicidade, estar bem consigo mesmo, então, passa pelas buscas objetivas e pelas subjetivas, pelo concreto da ação no mundo, pelo relativo da compreensão dos valores.

Neste mundo, viver bem é saber se desapegar, entender que existe uma ordem maior, podemos decidir o que fazer, mas, o resultado independe de nós. 

Aquilo que não podemos modificar é dado, temos que conhecer, claro, mas não pode ser o alvo constante de nossas preocupações. Precisamos ser coerentes respeitando nossos valores. Viver bem passa por entender que o que é imutável, por definição não pode ser mudado, e, portanto deve ser aceito, até como lição, mas não se pode parar nele.

Nesse contexto, se a busca da Liberação é o objetivo, fica claro que não é se negando os problemas, nem da natureza, nem ao meu redor, nem em mim, que eles deixam de existir, não podem ser ignorados.

Liberação não é se libertar das coisas, dos fatos e dos objetos, mas sim o desejo de conhecer melhor a essência da Ordem Universal, como se integrar para poder buscar uma vida mais plena. A ignorância não permite saber quem sou e como, com valores éticos, devo me comportar adiante. Passa necessariamente pela busca do Autoconhecimento.

Procurando saber quem sou, para poder viver mais plenamente. O autoconhecimento permite que nos compreendamos melhor e possamos escolher caminhos coerentes com a nossa Missão na vida.

As realidades, seja a absoluta da Ordem natural do Universo, a relativa, do mundo que nós já conhecemos, ou a subjetiva, a qual idealizamos, devem se revelar para que tenhamos um refúgio em que nos encontremos com nossos valores universais. A Ordem cósmica tudo conecta, somos parte da Natureza.

Se compreendermos isso, podemos buscar a felicidade com ausência de desejo compulsivo, com desapego. A isso os Vedas chamam de Vairagya. Esse é o caminho, ação sem desejo que cega, ação desinteressada, orientada pelos valores universais da ética, pela Missão que nos foi dada.

Leia também um poema de Paulo Leminski https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/palavra-de-poeta_21.html

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