Aprendendo
com Vedanta
Abraham
B. Sicsu
Era uma semana inteira. Sempre em um retiro, em um local aprazível, em contato com a natureza. Por muitos anos. Agora são três dias. Uma imersão muito concentrada. Aprende-se muito, faz refletir bastante. Lições que dão sentido à existência. Chama-se Intensivo em Vedanta e ocorreu agora em setembro. Promovido pelo Centro de Estudos Vidya Mandir.
Para poder se
concentrar em conhecimentos tão profundos, fundamental a programação cultural.
Riquíssima. Deixemos esse tópico para outra hora. Vejamos mais de perto os
conceitos que mais me marcaram nesse evento especial.
Vedanta, a parte
final das escrituras sagradas do Hinduísmo, os Vedas, a base da filosofia
tradicional indiana, traz ensinamentos sobre a compreensão da verdadeira
natureza do Ser e sua realidade. Princípios universais que nos ensinam que o
caminho para a felicidade está dentro de nós e o único meio para atingi-lo é a
busca do autoconhecimento.
Uma Mestra,
brasileira, que se formou na Índia, que dedicou sua vida ao ensinar esses
caminhos, que tem seguidores em todo a País, congregou mais de cem pessoas,
para ouvir seus ensinamentos e de mais três professores. Dias de reflexão, de
iluminação dos rumos que podem ser seguidos.
Este ano, a principal
lição que se procurou aprofundar em Vedanta, parte de uma pergunta simples, mas
difícil de ser respondida: o que faz sentido para mim? Como posso me encontrar
comigo mesmo?
Parte-se de uma
constatação bem visível. O Mundo em que vivemos é absorvente, inimaginavelmente
atribulado, nega espaços para o autoconhecimento. É preciso conseguir esses
espaços.
A Meditação pode ser
entendida como um momento de estar consigo. Nem que sejam poucos minutos. É
base desse encontro tão desejado com nosso próprio Ser. Não é o encontro, mas
facilita esse processo. Uma prática que deve ser diária.
A busca da felicidade
passa por trilhas a serem percorridas. Na vida, o ser humano deve procurar
quatro coisas essenciais.
Uma vida Segura, para
não viver em atropelos, para poder trilhar seu caminho com confiança, para
poder alicerçar suas buscas.
Uma vida Prazerosa
que dê sentido à existência, que nos dê caminhos em que tenhamos alegria e
razão para continuar nosso percurso.
Sem esquecer que
temos uma Missão a ser cumprida, que deve ser feito o que é direito, com
respeito aos valores universais e a ética que norteiam a civilização e a
natureza.
Esses três aspectos
nos podem levar à Liberação do sofrimento e encontro com nosso verdadeiro eu, o
qual só pode ser alcançado pelo conhecimento, pelo aprofundar dos estudos e
compreensão das escrituras e orientações advindas pela tradição e transmitidas
pelos Mestres.
Com isso se busca o
Autoconhecimento e a Felicidade.
É ilusão acreditar
que o que nos faz feliz são os objetos, o possuir, isso sempre é temporário,
fugidio. Podem ser momentos de felicidade, mas se esvaem, desaparecem.
Nessa busca, um
momento fundamental é o da Meditação. Olhar para mim mesmo, me compreender pode
trazer paz. Paz que permite entender os nossos valores universais e o
relacionamento com o mundo que vivemos e com os seres humanos que nos rodeiam.
Momento em que podemos procurar o respeito para mim mesmo e para com os outros,
Nesse processo vamos
buscando a maturidade, deixando de lado o que ocorreu e não podemos modificar,
sem ignorar, visando ser mais completos no que podemos interferir e ajudar a
construir ou modificar. Autoconhecimento passa a se tornar prioridade.
Nesse processo, vemos
que a Ação é fundamental na busca de segurança e prazer, mas só se completa com
o Conhecimento, no compreender qual é nossa Missão, quais são os valores que
nos devem conduzir, qual o rumo para atingir a liberdade que almejamos. Caminho
que pode nos levar à Liberação do sofrimento.
Felicidade, estar bem
consigo mesmo, então, passa pelas buscas objetivas e pelas subjetivas, pelo
concreto da ação no mundo, pelo relativo da compreensão dos valores.
Neste mundo, viver
bem é saber se desapegar, entender que existe uma ordem maior, podemos decidir
o que fazer, mas, o resultado independe de nós.
Aquilo que não
podemos modificar é dado, temos que conhecer, claro, mas não pode ser o alvo
constante de nossas preocupações. Precisamos ser coerentes respeitando nossos
valores. Viver bem passa por entender que o que é imutável, por definição não
pode ser mudado, e, portanto deve ser aceito, até como lição, mas não se pode
parar nele.
Nesse contexto, se a
busca da Liberação é o objetivo, fica claro que não é se negando os problemas,
nem da natureza, nem ao meu redor, nem em mim, que eles deixam de existir, não
podem ser ignorados.
Liberação não é se
libertar das coisas, dos fatos e dos objetos, mas sim o desejo de conhecer
melhor a essência da Ordem Universal, como se integrar para poder buscar uma
vida mais plena. A ignorância não permite saber quem sou e como, com valores
éticos, devo me comportar adiante. Passa necessariamente pela busca do
Autoconhecimento.
Procurando saber quem
sou, para poder viver mais plenamente. O autoconhecimento permite que nos
compreendamos melhor e possamos escolher caminhos coerentes com a nossa Missão
na vida.
As realidades, seja a
absoluta da Ordem natural do Universo, a relativa, do mundo que nós já
conhecemos, ou a subjetiva, a qual idealizamos, devem se revelar para que
tenhamos um refúgio em que nos encontremos com nossos valores universais. A
Ordem cósmica tudo conecta, somos parte da Natureza.
Se compreendermos
isso, podemos buscar a felicidade com ausência de desejo compulsivo, com
desapego. A isso os Vedas chamam de Vairagya. Esse é o caminho, ação sem desejo
que cega, ação desinteressada, orientada pelos valores universais da ética,
pela Missão que nos foi dada.
Leia também um poema de Paulo Leminski https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/palavra-de-poeta_21.html
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