Espiral histórica na igualdade de gênero
Luciano Siqueira*
Desde que nas últimas quatro décadas se desencadearam mudanças significativas no perfil da mulher na sociedade brasileira, a partir de sua inserção no mercado de trabalho, em contraposição à velha situação da mulher-dona-de-casa, emergiu a variável econômica como uma das condicionantes da desejada igualdade de gênero.
Ou seja, para que se construam
relações de igualdade entre o homem e a mulher é necessário, em boa medida, a
relativa independência econômica de ambos.
A mulher que trabalha, ao invés
da mulher circunscrita às prendas domésticas.
O homem que trabalha, mas deixou
de ser o único provedor dos meios de sustento da família.
Por esse viés, merecem atenção
dados de um estudo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
(Cepal), que acentuam “três pilares” relativos à autonomia da mulher: a
capacidade de gerar rendas próprias e controlar ativos, o controle sobre seu
próprio corpo e a participação na tomada de decisões que afetem sua vida e a
comunidade.
O estudo tem por universo a
América Latina e o Caribe, onde se situa uma força de trabalho feminina
estimada em mais de 100 milhões de trabalhadoras.
Do ponto de vista econômico, há
desigualdades a considerar. Fatores como grupo etário, nível de instrução
formal, renda desenham disparidades importantes entre países e no interior de
cada país.
Chama atenção que, em 2010, 22,8
mulheres latino-americanas não possuíam renda própria, índice que entre os
homens chegava a 12,1%.
Em todos os países, nas zonas
mais pobres, sobretudo, é crescente o contingente de mulheres que se tornam
elas próprias chefes e provedoras do grupo familiar.
No que concerne à evolução da
luta feminina emancipacionista, verifica-se uma sintonia considerável entre
esse novo papel da mulher no mercado produtivo e o acúmulo de conquistas no
sentido da igualdade de gênero.
Políticas públicas têm sido
adotadas em atenção à condição feminina, assim como a instituições de
organismos setoriais – como no Brasil, da Secretaria Nacional da Mulher, com
status de ministério, e congêneres nos estados e municípios.
De certo modo, constata-se uma
espécie de espiral no desenvolvimento da sociedade humana que, no dizer de Karl
Marx, promove sucessivos retornos ao ponto de partida, em bases superiores.
Nos primórdios da sociedade,
antes mesmo da formação das classes, mulheres e homens viviam em bases
igualitárias. Com a divisão do trabalho nasceu a desigualdade de gênero e, na
sequência, e das formas as mais variadas conforme os traços culturais dos povos
mundo afora, a opressão de gênero.
Homens e mulheres dividindo
espaço no sistema produtivo e na esfera dos serviços modernos representa a
tendência história ao retorno à igualdade, em padrões bem superiores aos da
sociedade primitiva.
Este é um dos olhares possíveis
sobre o estudo da Cepal.
*Artigo de 6 de maio de 2015 publicado
no Blog da Folha.
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Leia: Paridade de gênero na direção nacional do PCdoB https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/50-de-mulheres-na-direcao-do-pcdob.html
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