Nós não somos como eles
Em meio ao avanço da ultradireita, reafirmamos um projeto de futuro baseado na democracia, diversidade e justiça social, contra o ódio e o retrocesso.
Thiago Modenesi/Vermelho
Num mundo onde o ruído das certezas absolutas tenta abafar o diálogo, é fundamental erguer a voz para afirmar, com clareza: nós não somos como eles. A onda de ideias conservadoras de ultradireita, carregadas de preconceito e nacionalismo excludente, que tem crescido em várias sociedades pelo mundo, representa não uma alternativa, mas um retrocesso. E, diante dela, a visão progressista e democrática não se cala, resiste e apresenta uma visão de mundo radicalmente diferente, fundamentada na empatia, na democracia e na pluralidade.
A visão deles é construída sobre muros. Muros físicos, nas fronteiras, e muros invisíveis, que separam pessoas por raça, religião, gênero, orientação sexual ou nacionalidade. Eles veem a diversidade como uma ameaça, uma diluição de uma identidade pura e fictícia. O seu “nós” é definido por quem está de fora, pelo inimigo a ser combatido. A sua força nasce do medo: medo do diferente, medo da mudança, medo de um futuro que não podem controlar. É uma política baseada no ressentimento e na busca por bodes expiatórios, onde a complexidade dos problemas sociais é reduzida a slogans simplistas e culpabilizadores.
A nossa visão, por outro lado, é construída sobre pontes. Nós enxergamos a diversidade não como uma fraqueza, mas como a maior riqueza da humanidade. Acreditamos que uma sociedade só é verdadeiramente forte quando todos os seus membros têm a oportunidade de florescer, independentemente da sua origem. O nosso “nós” é inclusivo, expansivo. Ele abraça a lutadora dos direitos LGBTQIA+, o imigrante que busca uma vida digna, a mulher que exige soberania sobre o seu corpo, o jovem negro que clama por justiça. Nossa força nasce da esperança e da coragem de imaginar um mundo mais justo.
Eles erodiram o capitalismo do Estado de Bem-estar social, desmontaram as engrenagens pós-Segunda Guerra de um suposto capitalismo mais humano para tentar dar sobrevida ao sistema. Na sanha de maximizar os lucros e superar uma das várias crises do capital, implantaram uma agenda neoliberal, quando esta deu errado (e deu muito errado) partiram para uma radicalização contra a democracia, contra os Estados nacionais, contra os direitos dos trabalhadores e contra o processo civilizacional até aqui edificado.
Eles pregam a hierarquia e a autoridade inflexível. Acreditam em ordens naturais e em papéis sociais rígidos, onde alguns grupos são inerentemente superiores a outros. A sua democracia é um instrumento, não um valor, útil apenas quando confirma o seu poder. A dissensão é tratada como traição, a crítica como heresia.
Nós pregamos a igualdade de direitos e a liberdade com responsabilidade. Acreditamos no diálogo, no dissenso construtivo e no poder da coletividade. Nossa crença na democracia é inegociável – não apenas como um sistema eleitoral, mas como um processo contínuo de participação, debate e ampliação de vozes. Defendemos instituições fortes não para oprimir, mas para garantir que os direitos fundamentais sejam acessíveis a todos.
A linguagem deles é a do ódio e da desumanização. Rotulam, generalizam e criam monstros para justificar a sua violência. Eles se alimentam de pós-verdades e de teorias conspiratórias que alimentam a paranoia coletiva.
A nossa linguagem é a da razão crítica, mas também da compaixão. Buscamos entender as causas profundas dos problemas, mesmo quando são complexas. Nosso discurso busca incluir, explicar e convencer através de argumentos e, sobretudo, de empatia. Recusamos baixar ao nível do insulto gratuito, porque sabemos que a forma é o primeiro conteúdo.
No fim, a diferença fundamental é esta: o projeto deles é de restauração de um passado idealizado que nunca existiu, um passado de exclusões e silenciamentos. O nosso projeto é de construção de um futuro que ainda não existe, mas pelo qual lutamos todos os dias – um futuro mais livre, mais igualitário e verdadeiramente democrático.
Por isso, quando nos confundirem com eles, quando tentarem rotular a nossa luta por justiça como “opressão reversa”, a exemplo do episódio para a anistia dos golpistas no Brasil, ou nosso apelo por direitos humanos como “ideologia”, como assistimos no genocídio em Gaza que só faz piorar, ergueremos a voz, sem medo, para declarar: nós não somos como eles. E nunca seremos. A nossa casa tem as portas abertas, e o nosso sonho é grande o suficiente para todos.
[Se comentar, identifique-se]
Nenhum comentário:
Postar um comentário