História do futebol de mulheres é de resistência contra interdições e invisibilidade
A historiadora do esporte, Aira Bonfim, conta como as brasileiras enfrentaram a proibição por 40 anos para chegar a esta 9a. Copa do Mundo no 8o. lugar no ranking da Fifa
Cezar Xavier/Vermelho
A seleção feminina de futebol brasileira já está pela Austrália e Nova Zelândia mirando uma inédita conquista na Copa do Mundo. Ao contrário da seleção masculina, que chegou ao topo do mundo 5 vezes, em 22 campeonatos, a equipe feminina ainda não alcançou o feito em oito edições. Bateu na trave de chegar ao lugar mais alto do pódio nas Olimpíadas de 2004 e 2008, quando perdeu a final para os Estados Unidos.
Entretanto, em 2023, chega com status de campeã da Copa América do ano passado, de forma invicta, sequer sofrendo gols na competição continental. Isso tudo, considerando que as mulheres foram proibidas de jogar futebol no Brasil durante cerca de 40 anos, entre 1941 e 1979, voltando pra valer apenas em 1983, sofrendo, ainda hoje, com os reflexos dessa interdição.
O Portal Vermelho entrevistou a historiadora do esporte, Aira Bonfim, que lança neste mês da Copa da Fifa a pesquisa “Futebol Feminino no Brasil: entre festas, circos e subúrbios, uma história social (1915-1941), em que ela mostra como o esporte já foi praticado de forma profissional antes de ser proibido. Aira é curadora do Museu do Futebol, em São Paulo. CLIQUE AQUI PARA ADQUIRIR O LIVRO
Aira relata como o medo de ver mulheres pobres e negras representarem o Brasil em eventos internacionais levou homens influentes a uma campanha intensa para que o esporte fosse proibido pela ditadura do Estado Novo. Embora seu trabalho aborde esse período específico, na entrevista, ela fala também dos reflexos dessa invisibilidade das mulheres jogadoras sobre o que ainda persiste de discriminação e preconceito na atualidade.
Apesar disso, as brasileiras aparecem na oitava colocação no ranking da Fifa. As norte-americanas, com seus quatro títulos, não são a única opção entre as favoritas para alcançarem o primeiro lugar. A Alemanha, duas vezes a campeã, comparece com a Espanha, França e Inglaterra.
Com a presença de atletas em destaque no futebol, como Marta e Debinha, as brasileiras venceram de goleada na sua estreia da Copa de 2023 contra o Panamá e perderam na fase de grupos ao enfrentar a França, neste sábado, por 2 a 1. Na quarta-feira (2), jogará em vantagem contra a Jamaica, 43o. no ranking.
Leia a íntegra da entrevista:
Qual a marca que o livro quer deixar ao registrar a história do futebol de mulheres?
É uma pesquisa que surge em 2015, quando a gente começa a trabalhar com esse tema. Acho que a grande surpresa é pensar nessa longevidade da presença de brasileiras jogando bola no nosso país. Mas também dar um contexto mundial, uma vez que o século XX é recheado de experiências boleiras, entre mulheres e também de experiências de interdições.
A nossa surpresa, já em 2015, era que fazendo esse exercício de olhar para a história, para as fontes históricas desse período, —jornais, revistas ilustradas—, foi um exercício de fazer um contra-apelo do que já foi escrito, que já foi analisado por historiadores, mas também memorialistas ou histórias oficiais dos clubes brasileiros. A gente tinha muitas fontes primárias desconhecidas, não trabalhadas sobre mulheres jogando bola, envolvidas com o futebol, seja na crônica, seja também apitando na arbitragem.
Então eu fiz essa organização dessas fontes do período que, a princípio, eu reconheceria como a primeira evidência de futebol feminino no nosso país, que é em 1915, no Rio de Janeiro, ali no bairro de Vila Isabel.
Eu coloquei um limite para minha pesquisa, que era chegar até a proibição que vai acontecer no Estado Novo, de 1941. Então, só nesse período de tempo, que é relativamente grande, a gente tem pelo menos 400 fontes primárias que vão dar indícios de partidas, o nome dessas jogadoras. Por vezes, só o primeiro nome, que fica mais difícil da gente entender quem eram essas mulheres. Mas já é importante a posição delas dentro de jogo, a análise de jogo, a divulgação dessas partidas, fotos dessas mulheres e até entrevistas das mesmas.
Então, isso é uma passagem relativamente longa de um tempo, desde a primeira década até chegar ali, em 1941. São grupos sociais diferentes, de mulheres que vão, de alguma forma, experimentar esse futebol. À revelia de uma uma estrutura ainda muito masculina.
O futebol no Brasil está sendo elaborado de homens para outros homens, e também de homens de uma elite, que vão de alguma forma perder essa restrição do jogo que vai se popularizar principalmente na década de 1930.
O que é exatamente essa primeira evidência de 1915?
Em 1915, teria ocorrido uma festa esportiva no Villa Izabel Football Club, no Rio de Janeiro. Que vai ser uma partida de futebol que vai acontecer no campo do zoológico que fica lá em Vila Isabel, pelas associadas. É um contexto onde estas mulheres participam de atividades esportivas, dos festejos.
Então, as pessoas estão aprendendo a ir pra fora, pra rua e fazer muitas atividades ao ar livre. O futebol masculino acaba tendo uma centralidade, mas são encontros onde vai ter circo, vai ter comida, ter baile, várias apresentações e gincanas. Então, é nesse ambiente, completamente fora de uma organização das ligas da época, de uma oficialidade, que a gente percebe as meninas, principalmente as adolescentes, tendo essa coragem de descer das arquibancadas e brincar, experimentar o futebol. Assim, o futebol às vezes é misto, às vezes, contra os meninos, e também entre elas.
Esse futebol de mulheres é levado à sério na época, ou tolerado como um exotismo?
É uma brincadeira. É um jogo. Mas ele não participa de um calendário de oficialidade. Obviamente que chama a atenção por ser uma atividade pouco vista, ou é simplesmente uma iniciativa autônoma dessas meninas, o que considero importante.
Então, as vascaínas, entre 1923 e 1926, são contagiadas pelo campeonato carioca de 1923 que o Vasco ganha, os camisas negras. Nessa época surgem várias equipes que são mobilizadas por esse torneio masculino e que são representantes de uma outra cartografia da cidade, que está adentrando as regiões suburbanas. Elas formam uma equipe e vão jogar no campo do Vasco.
No geral, para todas as modalidades, nesse período, você não tem os esportes sendo oferecidos às mulheres. Quando você olha, está tendo uma disputa muito grande na década de 1920. Tem um trecho do livro que a gente traz, inclusive olimpíadas sendo organizadas à revelia do COI, o que é um grande exemplo.
É um processo mais organizado entre as feministas europeias, mas aqui você também tem alguns tensionamentos e até uma organização esportiva. Por exemplo, as lutas não eram oferecidas no ambiente esportivo, mas eram atividades de circo, ginástica, levantamento de peso. Então, o circo tem um ambiente muito estruturado para receber público, de venda de ingresso, de uma estrutura de apresentação também muito bem organizada, de um espetáculo, mesmo.
Essas divisões que a gente tem hoje, mais claras, elas ainda estavam em conformação, em disputa. Talvez essa seja a maior dificuldade que a gente tenha, de entender que, na maior parte desse momento, todas as modalidades estão sendo oferecidas aos homens, enquanto o futebol vai ser uma brincadeira talvez mais fácil de ser aprendida pelas meninas.
O futebol está sendo oferecido com mais facilidade, seja para aprender as regras ou sobrar uma bola ali no campo pra elas brincarem. Essa iniciação se dá dessa maneira, diferente dos caras que estavam viajando pra Europa, já vendo futebol acontecendo lá no Velho Mundo, trazendo as regras, os materiais esportivos.
Elas vão beber um pouco dessa divulgação em terra brasileira, e, depois, também vão beber dessa popularização pelos outros meios, as classes, outros bairros e essa ascensão que vai ter do futebol nos subúrbios do Rio.
Sobre o banimento em 1941. Qual é a argumentação que aparece e que se impõe?
Oficialmente, o decreto de 1941 não é um documento específico só para o futebol feminino. Ele é uma organização desse Estado Novo, desse Ministério da Saúde e Educação, que vai centralizar dentro desse guarda-chuva federal, essas organizações esportivas. Calendário, o que pode e não pode acontecer, tudo vai estar sendo descrito nesse mesmo regulamento.
É um parágrafo quase copiando as legislações de fora. Lembrando que, 20 anos antes, em1921, já tem também uma interrupção do futebol feminino que acontece na Inglaterra. Há a pretensa justificativa biológica, científica, de educadores físicos, no sentido “de proteger esse corpo feminino”.
Então, atribui-se à modalidade futebol, considerá-lo como um esporte violento, de muito contato físico, portanto inadequado ao corpo das mulheres. Esse é o discurso oficial que a gente vai encontrar.
O que a gente tem na prática, é um futebol que está crescendo entre as brasileiras, está aparecendo nos meios de comunicação, inclusive sendo explorado pelos cronistas e jornais. É uma oferta de uma novidade, uma novidade que vende por não ser presente nos calendários masculinos, um consumo também de mulheres em relação a esse futebol.
Então, cai um pouco por terra a visão de que essas mulheres não estariam interessadas no futebol, desde o início. Não é uma verdade. Elas são lidas como consumidoras já na década de 1930.
Esse futebol está crescendo, ganhando espaços para além do Rio de Janeiro. A grande evidência é a partida que acontece aqui em São Paulo, quando duas das equipes do Rio vêm jogar no estádio do Pacaembu no mês de inauguração. Aí que a gente tem uma contra-reação a essa visibilidade ganha ali no ano de 1940.
Então, acho que pensar assim, quem representa o Brasil jogando bola também é um lugar de muita negociação nessa época, inclusive para os homens. A seleção masculina vai viver vários episódios de racismo, de classismo, ali na década de 1920.
Imagina pensar essas mulheres que oficialmente também estão tendo oportunidades de representarem o Brasil dentro do solo nacional, mas também fora! A equipe do Primavera vai receber um convite para excursionar na América Latina. Esse, talvez, seja o ponto nevrálgico do problema da continuidade da evolução do futebol feminino no país.
O que se percebe é que todas as acusações feitas nos jornais, após esses muitos episódios de crescimento, não vão dar sentido a essa justificativa oficial, não estão realmente preocupados com a saúde das brasileiras, mas é um discurso desqualificador, desmoralizante, que vai deturpar um pouco quem são essas mulheres que estão jogando. Lembrando que são mulheres periféricas, pretas, jovens. A dona Carlota, a dirigente, vai ser presa acusada de aliciar essas meninas à prostituição.
Essa desqualificação dos populares era algo muito comum na época. Mas é uma oportunidade, a partir da história do futebol, da gente se reencontrar com essas histórias e, enfim, com questões que até hoje são vigentes, de desqualificar as pessoas pobres em todos os setores.
Foram quase 40 anos de proibição. Como o futebol feminino resiste nesse período? E o que persiste dessa negação do jogo para as mulheres?
Eu acho que ele perde esse avanço que estava em curso. Para mim como historiadora, a gente vai ter uma restrição muito efetiva das fontes. Cada notícia que se dava, na verdade era uma acusação sobre futebol acontecendo. Então, é uma época muito mais difícil da gente organizar essas fontes, além do país Brasil ser continental. Então, eu espero inclusive ser superada a partir do livro, agora que a gente coloca ele no mundo, pensando que a gente tem publicações às vezes menores, mais regionais, que estão distribuídas por todo o território.
Basicamente, o que a gente tem nesse período de quase 40 anos, são movimentos que vão usar de estratégia para continuar existindo. Esse futebol se mobiliza um pouco, sai das grandes cidades e vai para as cidades menores, ele fica mais invisível e por isso ele continua existindo.
Ele vai usar a estratégia de aparecer como jogo beneficente, que descaracteriza o caráter esportivo, com tempo de jogo menor, através da troca por outra bola. Mas a gente vê várias e várias iniciativas assim de jovens adolescentes, colegiais, de sindicatos de domésticas, todas elas usam do artifício de um futebol que não existe, e por isso ele é muito atrativo e vende ingressos. É isso que a gente encontra.
Outra estratégia é que, em vez de beneficente, ocorre um espetáculo beneficente. É o que a gente encontra no circo, já na década de 1920, que antecede a proibição. Uma estratégia muito inteligente dos produtores culturais, de vender a segunda parte do espetáculo como algo imprevisível.
Então a primeira parte são as atrações mais conhecidas do circo e na segunda o torneio de futebol. Vendia o ingresso para sexta, sábado e a final do domingo, algo muito inteligente (risos). Convida o pessoal dos clubes, veste as atrizes com as camisas, das cores, cria então essa sensação de rivalidade que está dentro do espetáculo cultural.
Essas vedetes voltam em 1959, 1960, reformulando isso para dentro dos estádios. O Maracanã e o Pacaembu vão lotar com essas iniciações, essas atividades que acontecem, também vendendo ingressos, revertendo dinheiro para a construção do hospital dos atores. As mulheres falam que elas nunca ganharam tanto dinheiro nesses espetáculos.
É um jogo bonito? Não é um jogo bonito, mas ele serve, de novo, para confrontar as autoridades. Essas mulheres atrizes têm muito pouco a perder, em relação a sua imagem pública. A associação à prostituição, de novo, retorna para esse modo de vida, como também acontecia com as circenses, de modo mais itinerante, até cigano.
Aí a gente tem a várzea, que também é um outro espaço de mobilização desse futebol, também de forma amadora, desorganizada, meninas jogando entre elas. Mas é um lugar de muito fruto, porque quando se regulamenta esse futebol feminino, a gente já tem uma adesão de equipes muito bem estruturadas, de atletas com uma construção técnica de anos. Não é do dia pra noite que isso se forma, não teve base sendo fomentada naquela época.
Deve-se a esse lugar, da menina que brincou futebol ao longo da vida, mas que talvez não tenha sonhado o futebol como acontece com o masculino. Mas ao mesmo tempo, esse masculino no imaginário, simbólico, ele está ganhando copas do mundo, ele já é tricampeão ao longo desse período de proibição.
Com a ditadura de 1964 muda alguma coisa?
Em 1965 você tem a reafirmação desse parágrafo proibitório. Já é a sequência desses eventos das vedetes, que acontece em 1959 e 1960. Em 1965, a CBD (precursora da CBF) atualiza essa regulamentação e coloca de forma muito clara que nenhum tipo de futebol era permitido, polo aquático, lutas, etc.
Como se dá a retomada em 1979?
Então, não tem retomada, porque apenas deixa de ser proibido, mas não é permitido. Então é um grande limbo. Enquanto não se regulamenta, — algo que só acontece em 1983 —, esse futebol ainda não é permitido de acontecer nos estádios, nos campos sociais, não tem calendário, não tem base, não tem nada. Não tem reparação, nem se fala disso. Ainda são esses circuitos amadores que estão acontecendo em cidades mais afastadas.
Após 1983, começa a passos bem largos, uma estruturação do que seria o primeiro episódio de uma seleção brasileira oficialmente vestindo a camisa e sendo convocada em 1988. Com base em equipes que já estão atuando ao longo da década de 80, inclusive equipes que já viajam para o exterior representando esse futebol feminino brasileiro.
A gente pode ler como mais uma tentativa de centralização desse poder que é investir nesse futebol, que sempre foi vendável, sempre teve recursos envolvidos com a sua exibição. Assim, a CBF vai levar pra ela esse futebol e centralizar as decisões, recursos, etc.
O Radar, que é uma equipe conhecida do Rio de Janeiro, é um exemplo da base dessas mulheres, dessas jogadoras e atletas, que vão servir à seleção brasileira de 1988. Tem um torneio experimental na China, que vai ser o primeiro grande encontro internacional de equipes, que quase vai ser um teste para a Copa do Mundo que aconteceria em 1991.
Quais são os reflexos na atualidade desse banimento, essa proibição, esses preconceitos na atualidade?
A gente tem aprendido muito sobre a história das mulheres, a partir do futebol.
Temos que entender que são histórias completamente diferentes, por mais que seja o mesmo jogo, a mesma brincadeira, que é o futebol, no final das contas.
Não existe uma concessão das entidades esportivas, confederações, federações estaduais em relação às mulheres que querem trabalhar com futebol.
Lembrando que a gente tem cunhado a expressão “futebol de mulheres”, porque trata-se de algo muito maior do que as mulheres jogadoras. Envolve um circuito muito maior de outras pessoas que atuam, há muito tempo, com o futebol, inclusive com o futebol masculino. Seja na arbitragem, narrando, trabalhando, pesquisando.
Esse futebol, nesse lugar onde ele se encontra hoje, é fruto de uma articulação que envolve os movimentos de mulheres, há muito tempo.
Movimentos que vão de alguma forma trazer ali um exercício de liberdade, a partir de uma ferramenta que é o esporte, e no caso do Brasil, um esporte muito popular. Ou seja, esse exercício passa a ser um espaço de reconhecimento de protagonismos, de uma história de muitas interrupções.
Lembremos que a proibição do futebol é só uma entre tantas que são relegadas nas histórias de mulheres. Contar histórias de mulheres já passa a ser um ato de resistência, uma vez que a gente quase se acostumou com a ausência de mulheres como líderes nos nossos livros de história, nos nossos aprendizados ao longo da vida.
Então, existe uma democratização de acesso a essa experiência, uma vez que, tanto os clubes como as próprias empresas de comunicação, perderam muito tempo, e não tiveram interesse de desenvolver e comunicar esse futebol.
Então a internet é um item muito importante no desenvolvimento a partir de 2015. Muitas pessoas cobrindo, falando sobre esse futebol, cobrando querer saber, quem era aquela equipe que ia representar o Brasil depois de um contexto “pós 7 a 1” masculino no nosso país.
A gente tem uma produção independente esportiva que continua atuante, a gente tem espaços onde essas mulheres têm seus perfis públicos com outros modos de viver, outros modos de amar. Tem uma possibilidade de humanizar esse futebol, uma vez que essas pautas sociais, por vezes, são colocadas de escanteio dentro do circuito masculino.
Qual o avanço necessário para que o futebol ganhe um outro lugar?
Em 2023, ainda há o debate em torno de uma profissionalização. Acho que isso é muito mais complexo do que pensar só a equiparação. Talvez o futebol masculino esteja fora de uma curva razoável de pensar o profissional, pensando também a inclusão de todas as outras modalidades, inclusive daquelas que o Brasil tem referência, como vôlei feminino. Essa estrutura ainda não é democrática. Acho que São Paulo tem dado um passo à frente, algumas experiências que tem por aqui.
Mas, no nível nacional, a gente ainda tem muitas deficiências, alguns compromissos ainda a serem resolvidos. Como por exemplo a aposentadoria das atletas, que resistiram e abriram os caminhos para todas as outras gerações. São mulheres com 50, 60 anos, que por vezes, além de desconhecidas, têm muita dificuldade de ter uma vida tranquila, uma vez que não conseguem provar suas passagens por esses clubes, seleções, CBF, enfim, nunca receberam por isso.
Obviamente, na base, a formação desse ciclo também é um lugar de muito cuidado, de uma atenção necessária, uma vez que se trata de crianças. Acho que o modelo masculino de peneiras de estruturação, não é o mais recomendável.
A gente tem outros modelos onde a gente pode se inspirar, como o norte-americano, que vincula essa experiência de iniciação, de contato das crianças com diferentes esportes, sempre vinculado a um processo de educação. Primeira infância, até a finalização de colegial, mas mais do que isso, pensar que os atletas vão para as universidades.
Então, a gente terá ali, uma possibilidade de pensar em uma modalidade diferente, independente, mais transparente e mais humanizadora.
[Ilustração: Detalhe da capa do livro Futebol Feminino no Brasil, entre festas, circos e subúrbios, uma história social (1915-1941), de Aira Bonfim]
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