A difícil decisão do jogador sobre a hora de parar
Eu não tive escolha; parei de jogar aos 26 anos e então me dediquei à medicina
Tostão/Folha de S. Paulo
O Cruzeiro fez uma ótima contratação, a de Cássio, que continua em forma, com grandes chances de brilhar ainda por alguns anos. Na saída do Corinthians, Cássio mostrou novamente sua dignidade e seriedade profissional, ao contrário de Gabigol, que fez mais uma besteira ao tirar foto com a camisa do Corinthians quando ainda é jogador do Flamengo.
A decisão para um veterano parar de jogar é bastante difícil. Nem sempre o problema é de decadência física ou técnica, pois muitos perdem com o tempo a ambição de atuar bem em todos os jogos e de se superar. Outros, com frequência, passam por momentos ruins, transitórios. Porem há sempre de plantão os fiscais da idade, que decidem a decadência definitiva e o momento de parar de jogar.
Alguns veteranos, sem condições de continuar jogando bem, não conseguem encerrar a carreira por questões emocionais, financeiras ou por não ter condições de iniciar uma nova atividade. Muitos que atuam na Europa e que estão em decadência retornam para jogar por mais alguns anos, com destaque, por causa do nível técnico inferior do futebol que se joga no Brasil.
Existem também os que continuam brilhando por mais tempo. Thiago Silva, 39 anos, pediu para voltar para o Fluminense mesmo em grande forma. O Chelsea fez de tudo para que ele ficasse. Se a Copa do Mundo fosse hoje, Thiago Silva deveria estar presente.
No Real Madrid, Ancelotti tem evitado escalar juntos Kroos e Modric, para poupá-los fisicamente. Quando o jogo aperta, o técnico coloca os dois. Kroos, mesmo atuando muito bem, anunciou que depois da Eurocopa, que começa em junho, vai parar de jogar, apesar de ter apenas 34 anos. Pena!
Meio-campistas excepcionais como Kroos, Modric e Rodri iluminam o futebol. Como atuam, na maior parte do tempo, mais longe do gol adversário, não aparecem nas estatísticas de artilheiros e de assistências para gols. Raramente fazem parte das listas de candidatos a melhores do mundo.
É triste constatar que o futebol brasileiro, com os aplausos de tantos analistas, acabou durante décadas com os grandes meios-campistas ao dividir o meio campo entre os volantes que marcam e os meias que atacam. Isso tem mudado, mas lentamente.
Os treinadores também envelhecem. Muitos têm grandes quedas técnicas porque não acompanham a evolução do futebol ou porque trabalharam em seguidas equipes com fracos elencos.
Basta um time passar por momentos ruins para os fiscais de plantão decretarem a decadência de um treinador, como se eles fossem os únicos ou os principais responsáveis pelas atuações da equipe.
Alguns treinadores acham que o que fizeram um dia e deu certo deve ser mantido, como se o mundo parasse no tempo. Outros envelhecem e ficam melhores, como Ancelotti.
Eu não tive escolha ao parar de jogar com 26 anos. Um dia depois que recebi o parecer do médico estava na porta de um cursinho para voltar a estudar. Um ano depois estava na arquibancada do Mineirão para fazer prova para o vestibular de medicina na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Fui, durante um período de mais ou menos 20 anos um estudante, um médico e um professor da Faculdade de Ciências Medicas de Minas Gerais, dedicado e apaixonado pela nova atividade.
Voltei ao futebol, como colunista. A vida dá muitas voltas. Ainda tenho outros sonhos. Gosto do silêncio e de descobrir o mundo, de estar longe e perto de tudo.
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