Rafele Ribeiro*
Nos primeiros dias, eu me sentia como vítima de acidente fatídico: múltiplas fraturas pelo corpo.
Meu pulmão se esforçava para respirar, na esperança de levar oxigênio aos demais órgãos;
ali, ele só tentava respirar…mais nada.
O ar é essencial para viver. Eu insistia.
E nessa tua despedida, eu me vi exatamente assim…mas não era fratura do corpo, não!
Era da alma.
Ela se quebrou em minúsculos pedaços e eu nem mais ouvia meus batimentos…sim, não os ouvia porque meu coração estava entrelaçado ao teu e contigo seguiu.
Esse coração nem olhou pra trás.
Só me deixou ausência no peito.
E eu entendo, afinal como ele poderia bater sem o ritmo do teu?
Do corpo, se socorre, se faz cirurgia e se reabilita.
Da alma, como se remenda?
Quem costura o sentimento para que ele possa trazer de volta o desejo de sonhar?
Balela é jogar todas as soluções das agruras da vida nas mãos do tempo.
Ele pode até ser capaz de contar as horas, mas das horas pra frente e levar para o futuro incerto.
Posso dizer que depois desses longos anos, meu coração voltou a morar no meu peito, de onde nunca nem deveria ter saído porque o encaixe aqui é perfeito.
Mas perfeito ele não ficou. Chegou cicatrizado.
Assim como o umbigo representa no nosso corpo o rompimento do primeiro vínculo materno, a cicatriz no coração traduz a despedida prematura do teu adeus.
[Ilustração: Marco Paludet]
*Funcionária pública, cronistaLeia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/07/uma-cronica-de-ruy-castro.html
Um comentário:
Lindo. Forte. Emocionante.
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