18 junho 2024

Juros contra a nação

Trabalhadores protestam contra juros altos em semana de reunião do Copom

Comitê de Política Monetária do Banco Central iniciou a reunião para definição da Selic. Centrais Sindicais exigem juros menores contra a previsão do mercado financeiro
Murilo da Silva/Vermelho


 

Nesta terça-feira (18), começou a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) para a definição sobre a taxa básica de juros, a taxa Selic. O encontro, que vai até quarta (19) com a divulgação do resultado após as 18 horas, está cercado de preocupações pela sociedade. A possibilidade de que o ciclo de cortes da Selic seja encerrado fez com que o movimento sindical e a população promovessem atos pela redução dos juros.

Com frases como “Juros altos é benefícios para os bancos – Prejuízo para o povo”, além de pedidos por “Menos Juros, Mais Empregos” e “Fora Roberto Campos Neto”, as Centrais Sindicais estiveram em protesto na frente da sede do Banco Central, na Avenida Paulista, em São Paulo (SP).

Desde o início do governo Lula a atual diretoria do BC tem relutado em baixar os juros conforme às necessidades do país. Logo nos primeiros meses do governo houve um descompasso preocupante sinalizado pelo presidente do banco, Roberto Campos Neto. A falta de atenção com os juros para permitir crédito mais barato em um cenário de inflação controlada fez com que em março de 2023 o movimento sindical já iniciasse uma ampla campanha pela redução da Selic.

Por quatro reuniões o BC insistiu nos altos juros de 13,75% ao ano até não conseguir mais se contradizer e realizar o primeiro corte na reunião de agosto, colocando a Selic em 13,25%.

Além da pressão pela queda nos juros que se tornava insustentável para Campos Neto, o cenário só começou a ser modificado a partir das duas primeiras indicações de Lula para a composição da diretoria do BC, ainda que a redução tenha ficado aquém das expectativas dos campos progressistas.

Os cortes insuficientes de 0,5% perduraram até a penúltima reunião encerrada em 20 de março desse ano (as reuniões ocorrem a cada 45 dias). Já no último encontro o corte foi de apenas 0,25%, o que levou a Selic para o atual patamar de 10,5%. A situação acendeu novamente o alerta dos trabalhadores já insatisfeitos com os cortes tímidos ao longo do último ano.

Agora, o mercado financeiro já indica uma manutenção da atual taxa básica de juros, o que se ocorrer pode gerar uma nova revolta dos trabalhadores.

Na última reunião, que diminuiu o ritmo de queda, aconteceu uma cisão entre os diretores indicados por Bolsonaro que cumprem mandatos e ainda são maioria, com os indicados por Lula.

De lá pra cá, o presidente do Banco Central ainda escancarou sua parcialidade ao dizer que aceitaria compor a chapa bolsonarista de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, caso concorra à presidência em 2026.

A situação não surpreende, ainda que torne pública a desfaçatez, uma vez Campos Neto manteve reuniões com Bolsonaro após a autonomia do BC e foi flagrado em um grupo de Whatsapp, como foi noticiado à época, chamado de “Ministros de Bolsonaro” – um grupo, na ocasião do flagra, já de ex-ministros, pois o governo Lula já estava empossado e ele permanecia no infame comunidade.

Críticas do governo

O presidente Lula também direcionou pesadas críticas ao presidente do Banco Central, nesta terça (18). Em entrevista à CBN, o líder brasileiro falou que Campos Neto “tem lado político e trabalha para prejudicar o país” e completou ao indicar que o presidente do BC é a única “coisa desajustada” no País.

“O presidente do Banco Central está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez? O paladino da justiça, com rabo preso a compromissos políticos. O presidente do Banco Central precisa ser uma figura séria, responsável e tem que ser imune aos nervosismos momentâneos do mercado”, criticou Lula.

Ainda nesta terça, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado tem audiência pública sobre a PEC 65 que pretende dar autonomia financeira ao Banco Central. A proposta é duramente criticada pelos sindicatos e é “um passo na criação de um poder paralelo do mercado financeiro dentro do Estado brasileiro”, como explicou o economista Diogo Santos. Saiba mais sobre os prejuízos que a PEC 65 pode trazer na entrevista com o pesquisador.

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/06/juros-altos.html

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