Hermeto Pascoal e a magia de um genial alagoano mundial
Enio Lins
“GENIAL E INIMITÁVEL, Hermeto Pascoal ampliou os horizontes da música” – do que li do publicado até agora, achei esse título o melhor, o mais aproximado da grandiosidade do mágico musical nascido em Lagoa da Canoa, então povoado de Arapiraca. O autor da frase é Augusto Diniz, músico e jornalista, em artigo publicado na Carta Capital. “O ‘bruxo’ transformava em música os sons de qualquer objeto ou instrumento, sempre com talento e liberdade criativa”, completa com precisão o analista. Ressalte-se: inúmeras reportagens e crônicas têm sido editadas em tributo àquele músico diferenciado por seu excesso criativo e imenso talento instrumental. Escolhi uma dentre muitas.
“LAGOA DA CANOA, MUNICÍPIO DE ARAPIRACA” é o nome de seu disco de 1984. Já celebridade internacional, reafirma ali suas ligações com a terra na qual nasceu. Lembra a alteração político-administrativa ocorrida em 1963, quando o lugar nativo virou município autônomo. Hermeto, universal, referenciado nos principais centros musicais do planeta, jamais se distanciou do ninho, nunca esqueceu – por exemplo – o fole de oito baixos que foi uma de suas primeiras ferramentas profissionais quando do começo como músico. Arapiraca, em iniciativa feliz do prefeito Luciano Barbosa, além de dispor de um conservatório com o nome do ilustre filho, prepara uma agenda de homenagens ao gênio cuja certidão de nascimento crava a capital do agreste como sua terra natal. E propõe o prefeito denominar a duplicação Maceió-Arapirac a como Rodovia Hermeto Pascoal. Ideias excelentes, justas.
ALAGOAS, HOJE COMPLETANDO 208 ANOS da emancipação política, engatinha no aprendizado da valorização de seus ícones. Não pegou gosto ainda pelo reconhecimento dos próprios talentos e no alardeamento dos méritos de sua gente e de sua história. Avanços existem, reconheçamos, e não são poucos, no sentido do autoconhecimento e da autovalorização de tão expressivas trajetórias – mas não estão esses esforços à altura da riqueza alagoana. As denominações dos principais logradouros padecem de um distanciamento inexplicável das personalidades de grande reconhecimento nacional. Em Pernambuco, por exemplo, a rodovia BR 101 tem o nome do pintor Cícero Dias. Quais as denominações de nossas principais vias? Onde estão os nomes – em obras públicas de grande vi sibilidade – de Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Nise da Silveira, Pontes de Miranda, Augusto Calheiros, José Calazans “Jararaca”, Cremilda, Aurélio Buarque de Holanda...? Isso só para citar ícones com reconhecimento nacional. Jofre Soares, felizmente, é nome do teatro do SESC no Centro de Maceió, mas nem Paulo Gracindo, nem Sadi Cabral, contam com lembranças nalgum lugar. Afortunadamente, nosso aeroporto se chama Zumbi dos Palmares (aplausos!). Mas seguimos longe de reconhecer nossos grandes valores de forma adequada.
HERMETO PASCOAL se foi, mas ficou para sempre na história da música mundial. Alagoas precisa reconhecer-se nele, manter ainda mais viva e sonorizada sua herança. A hora é essa, qualquer momento é momento de ir buscar, trazer de volta a memória histórica. Nomes temos de sobra. Além dos já citados, acrescento mais uns, por ora só no campo musical e de comprovada projeção nacional: Maestro Fon Fon, Peterpan, Hekel Tavares, Gerson Filho, Zinho, Joel Bello Soares, Jacinto Silva, José Cândido (coautor de “Carcará”), Carlos Moura, Nelson da Rabeca, Misael Domingues, Antônio Paurílio... Falo aqui apenas de gente que é saudade, por suposto. Nem trisco em artistas em plena atividade, como Djavan e Marcos Maceió. Fugindo do cometimento de injustiças, deixo de citar as estrelas radiosas da constelação que ficaram em Alagoas e merecedoras da lembrança e da preservação de seus nomes em obras públicas relevantes.
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