16 setembro 2025

Palavra de poeta

Ausência
Pablo Neruda  

Ainda há pouco te deixei,
e vais comigo, cristalina
ou trémula,
ou inquieta, ferida por mim mesmo
ou cheia de amor, como quando os teus olhos
se fecham sobre o dom da vida
que sem descanso te entrego.

Meu amor,
encontrámo-nos
sedentos e bebemos
toda a água e sangue,
encontrámo-nos
com fome
e mordemo-nos
como morde o fogo,
deixando-nos feridos.

Mas espera por mim,
guarda-me a tua doçura.
Dar-te-ei também
uma rosa.

[Ilustração: Alexej von Jawlensky]

"Para te ver é longa toda espera", poema de Jaci Bezerra https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/palavra-de-poeta_26.html 

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