05 setembro 2025

Trump ameaça Venezuela

Venezuela sob ataque: Trump intensifica pressão e ameaça soberania sul-americana
Navios, avaliações e tarifas mostram escalada da evolução dos EUA contra Caracas e vizinhos da América do Sul
Ana Prestes/Portal Grabois  www.grabois.org.br   

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, investiu nesta quinta-feira (28) oito navios de guerra para a costa da Venezuela sob a justificativa de combater cartéis de drogas latino-americanos, classificados como organizações terroristas de Washington.

O episódio está diretamente relacionado à atuação de Marco Rubio, chefe da Secretaria de Estado dos EUA, cargo de chanceler, equivalente ao chefe do Itamaraty no Brasil. Fluente em inglês e espanhol, e com militância anti-castrista antiga, Rubio é filho de imigrantes cubanos. Nasceu em Miami, Flórida, estado considerado berço do anticastrismo e, depois, do antichavismo. 

Essa posição traz todas as consequências no seu comando em relação à América Latina e ao Caribe, com opressão, saques e contínuas intervenções nos países.

Marco Rubio foi um dos poucos senadores de origem latina que chegaram ao Congresso dos Estados Unidos. Ele e Trump passaram de oponentes ferozes para aliados e co-participantes do governo dos EUA. Nas primárias republicanas de 2016, Rubio foi um dos principais concorrentes de Trump e foi chamado por este, de forma pejorativa, de  Pequeno  Marco (Pequeno Marco).

Nessas primárias Trump foi o escolhido e eleito presidente naquele ano, enquanto o Rubio, derrotado, voltou para o Senado, onde montou uma trincheira que ajudou a moldar todas as avaliações contra a Venezuela, Cuba e Nicarágua nos últimos anos.

Ele foi muito importante para o Trump, tanto na primeira eleição quanto na segunda, para a garantia do voto dos eleitores cubanos, venezuelanos, porto-riquenhos. Não só da Flórida, mas de todo o país.

Sua convocação para esse tempo ministerial do atual governo Trump veio condicionada ao exercício de políticas de linha dura contra governos de esquerda da América Latina. O Trump entendeu que o Marco Rubio seria bom para comandar a América Latina e o Caribe, que ele considerava o seu quintal, mas também resultou na contenção da China e no combate aos imigrantes.

Quem acompanha o dia a dia da política externa dos Estados Unidos percebe que Marco Rubio não manja muito de Europa, guerra da Ucrânia, esses temas não são muito a praia dele.

Nos últimos meses, essa dupla mostrou suas garrinhas para os governos da América do Sul, do Brasil, do Chile, da Colômbia e da Venezuela em especial, mas também mostrou afagos aos governos da Argentina e do Paraguai, alinhados ao governo Trump.

Em relação à Colômbia, ocorreu aquela primeira crise, quando o presidente Gustavo Petro não aceitou a vinda de deportados em aviões militares dos Estados Unidos. O Trump a princípio retaliou com a aplicação de tarifas de 25%, ameaçou tarifas de 50% sobre os produtos colombianos, mas depois houve uma negociação.

Em abril deste ano aconteceu outro fato, quando o ex-chanceler do Petro, Álvaro Leiva, esteve nos Estados Unidos reunido com os assessores de Rubio e foram vazados alguns áudios dessas conversas, em que esse ex-chanceler colombiano estava consultando o departamento de Estado sobre a possibilidade de uma  mudança de regime , uma intervenção para mudança de governo, ou seja, um golpe contra o governo Petro. Também houve retirada de visto de funcionários do governo de Gustavo Petro e de pessoas próximas ao presidente colombiano.

Com relação ao Brasil, desde 9 de julho deste ano os Estados Unidos impuseram uma tarifa de 50% a produtos brasileiros, condicionadas inclusive a um relaxamento do julgamento do ex-presidente Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Obviamente o governo brasileiro reagiu de forma muito firme, assim como o judiciário brasileiro. Por fim, cerca de 700 produtos foram retirados desta tabela com 50% de tarifa, mas algumas propostas e há uma agressão, uma clara tentativa de interferir na democracia e na justiça brasileira, inclusive com a aplicação de sanções individuais a membros do judiciário, seus familiares e familiares de membros do Executivo.

Por fim, também houve aqui no Brasil avaliações inclusive aos médicos ligados ao programa Mais Médicos, criado no governo Dilma 2. A justificativa, foi baseada na retórica anti-cubana e no discurso  de que o país estaria sob um regime ditatorial comandado por uma ditadura da toga.

Já no Chile, houve uma intervenção estadunidense contra o cobre chileno, inclusive com o anúncio de uma tarifa de 50% sobre os produtos semi-elaborados com o metal produzido no país. Há ainda uma sinalização de mais firmeza: o envio de um ex-membro da Patrulha da Fronteira dos Estados Unidos e defensor radical do muro na fronteira com o México, Brandon Judd, para ser embaixador dos Estados Unidos no Chile.

Também há uma investida no Porto San Antonio de Valparaíso para concorrer com o Porto de Xangai, construído pela China no Peru. Mas a gente sabe que os ataques mais pesados ​​são em relação à Venezuela.

Ainda em março, Trump tentou suspender as operações da Chevron no território venezuelano, depois voltou atrás, mas houve a partir de então uma série de manifestações por parte de Marco Rubio, incluindo o grupo Trem de Aragua e outras organizações venezuelanas em uma lista de organizações terroristas. Rubio usou a lei dos inimigos estrangeiros de 1.798 dos Estados Unidos para depor mais de 200 cidadãos venezuelanos.

Por fim, nos últimos dias, o Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos invejou caçadores lançadores de mísseis e cerca de 4 mil militares para as áreas externas da Costa Venezuelana com o argumento de combate ao tráfico de drogas, além de dobrar para 50 milhões de dólares a recompensa para captura de Maduro como um narcotraficante.

A presença desses atiradores na América do Sul é coordenada com outras ações que o Comando Sul tem feito, principalmente na Argentina. Também esteve no Paraguai, conversando com o chanceler Ruben Ramirez Lescano, com uma proposta de liberação de vistos para o país. Quando esteve lá, Marco Rubio também fez instalação de data centers no Paraguai, de olho no potencial energético, na abundância de água de Itaipu e Aquífero Guarani, por exemplo.

Esta é a situação hoje aqui na nossa América do Sul. O que falta é o Brasil se posicionar mais enfaticamente e oficialmente sobre a situação da Venezuela, em relação a essa presença do Comando Sul nas águas internacionais da costa venezuelana. Somente o Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se pronunciou dizendo que é preocupante, mas não houve nenhuma nota do Itamaraty, nem de Lula.

O Gustavo Petro se pronunciou, inclusive na reunião da OTCA (Organização do Tratado da Cooperação Amazônica). Luiz Arce da Bolívia também se pronunciou de forma bastante forte. São dois países mais vindos da Venezuela na América do Sul, mas falta o Brasil, que é um país estratégico, enorme, importante para a integração sul-americana, que teve uma postura muito vacilante com relação ao povo e ao governo da Venezuela.

Nós defendemos a América Latina e o Caribe como uma região de paz, e o único elemento que hoje pode tirar essa paz de nós são os Estados Unidos da América com a dupla Trump e Rubio.

Assista ao programa Conexão Sul Global com Ana Prestes

Ana Prestes  é pesquisadora do  Observatório Internacional, Grupo de Pesquisa da Fundação Maurício Grabois e Secretária de Relações Internacionais do PCdoB. Comanda o programa  Conexão Sul Global , exibido pela  TV Grabois .

*Análise publicada originalmente no programa Conexão Sul Global (TV Grabois), em 28/08/2025. O texto é uma adaptação feita pela Redação com suporte de IA, a partir do conteúdo do vídeo. 

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