Presenças
e ausências na convocação da seleção fazem refletir
Mesmo nos bons momentos da vida, existe sempre uma falta de
algo que nos complete
Tostão, Folha de
S. Paulo
Há quase um consenso de que o Palmeiras é o time brasileiro que tem o melhor contra-ataque e
a melhor transição da defesa para o ataque. São situações diferentes. O
contra-ataque começa com a recuperação da bola, que pode ser em qualquer parte
do campo, até perto do gol adversário. A transição ofensiva é a passagem da
defesa para o ataque.
Na segunda (7), conheceremos os 26 jogadores brasileiros que vão ao Mundial.
Há uns 20 certos, que todos sabem quem são. Quem será chamado para a lateral
direita, Daniel Alves, que tem treinado no Barcelona B, ou Tite vai preferir
convocar um quinto zagueiro, deixando Militão na reserva de Danilo? Existem
vários zagueiros do mesmo nível, para preencher a quarta e talvez a quinta
vaga. Pedro é quase certo no ataque. Martinelli e Firmino correm por fora.
Éverton Ribeiro ou Coutinho? Ou os dois irão à Copa?
Para a reserva de Danilo, uma surpresa pode ser Filipe Luís no
lugar de Alex Telles. Falam que Filipe Luís, que já foi convidado por Tite para
conversar na CBF, se não for convocado para jogar, será chamado para fazer
parte da comissão técnica. Divago, suspeito, sem ter nenhuma informação, que,
depois do Mundial, Tite e Dorival Júnior trocarão de lugar e que Filipe Luís
será o auxiliar de Dorival Júnior.
Fui convocado duas vezes para uma Copa do Mundo. Em 1966, foram chamados, inicialmente,
44 jogadores. As dispensas foram progressivas. Viajamos para a Suécia, para
ficar de 15 a 20 dias treinando e fazendo amistosos antes da Copa. Vários
teriam de ser dispensados antes da viagem à Inglaterra.
Eu, em uma mistura de enorme distração, de soberba e de
evidências técnicas, pois era o reserva de Pelé, perguntei, na véspera da
convocação, ao supervisor Carlos Nascimento, um homem rígido e de poucas
palavras, sobre o horário da viagem à Inglaterra. Ele me olhou duramente e
ficou em silêncio. Não dormi à noite, com medo e não ir por causa de minha
gafe. No outro dia, estava na lista.
O Brasil foi eliminado na primeira fase da Copa de 1966 porque não formou uma equipe,
porque havia vários jogadores que brilharam nos Mundiais de 1958 e de 1962 e
que não tinham mais boas condições de jogar e porque enfrentou duas seleções
fortes, Portugal e Hungria.
Depois das Eliminatórias de 1969, tive de
viajar aos Estados Unidos para operar o olho esquerdo. Havia uma grande dúvida
e muitas discussões se eu teria condições de atuar no Mundial e se eu
continuaria jogando futebol. O técnico João Saldanha foi ao aeroporto do Rio de Janeiro se despedir de mim
e, de seu jeito libertário, disse aos jornalistas que me esperaria até minutos
antes do primeiro jogo da Copa. Senti-me importante. Fui o primeiro a ser
convocado para o Mundial.
Ao lembrar as presenças e ausências em uma Copa do
Mundo, penso, associo, que, mesmo nos bons momentos da vida, existe sempre uma
ausência, uma falta de algo que nos complete, a grande felicidade, o sonho
impossível. É a eterna insatisfação do ser humano.
"Ausência" é um dos poemas de que mais
gosto do poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, que completaria, nesta
semana, 120 anos. "Por muito tempo, achei que ausência é falta. E
lastimava, ignorante, a falta. Hoje, não a lastimo. Não há falta na ausência. A
ausência é um estar em mim. E sinto-a tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio, danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência
assimilada, ninguém a rouba mais de mim."
As múltiplas cores da vida https://bit.ly/3fQkBY8
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