Cultura perde Pablo Milanés, voz da resistência latino-americana
Compositor e músico de poesia e
voz únicas, Milanés foi considerado o cantor da Revolução Cubana e teve na
temática social uma de suas principais fontes de inspiração
Priscila Lobregatte,
Vermelho www.vermelho.org.br
O mundo perdeu,
nesta terça-feira (22), uma das mais belas e poéticas vozes da música
latino-americana e da Revolução Cubana, o cantor e compositor Pablo Milanés.
Pablito, como era conhecido em seu país, faleceu aos 79 anos em Madri, onde
passou a viver desde 2017. Ele sofria de uma doença onco-hematológica e teve
uma série de infecções nos últimos meses.
Pelas redes
sociais, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, que estava na Rússia quando
recebeu a notícia, destacou: “Pablo morreu, lemos quando acordamos nesta
terça-feira na Rússia, e a dor vem com a notícia. Um de nossos maiores músicos
desapareceu fisicamente”. Díaz-Canel destacou ainda que a voz de Pablo é
“inseparável da trilha sonora de nossa geração. Minhas condolências a sua viúva
e filhos, a Cuba”.
Além da grave
doença, neste ano Milanés ainda teve de enfrentar a perda de Suylen Milanés,
sua filha, vítima de derrame aos 50 anos. Ele tinha ainda quatro filhos: Lynn,
Lyan, Haydée e Antonio.
Referência
incontornável
Pablo Milanés
nasceu em 24 de fevereiro de 1943 em Bayamo, em Cuba, e ficou conhecido por ser
a voz que cantou a Revolução Cubana, além de ser compositor e intérprete de
canções de luta que marcaram os anos 1960 e 1970. “Autor de uma obra
monumental, este legado musical constitui uma referência incontornável da
identidade e da cultura cubanas, e suas canções e interpretações magistral são,
por direito próprio, parte da trilha sonora da Revolução Cubana”, apontou o
site do jornal Granma, ao falar do artista.
Milanés começou sua
carreira em concursos de rádio e televisão locais, dos quais saiu vencedor
algumas vezes, e estudou música no Conservatório Municipal de Havana. Em 1965
gravou seu primeiro álbum, Mis 22 años. Ao lado de Silvio Rodríguez
e Noel Nola, foi um dos grandes nomes da Nova Trova Cubana e das canções de
protesto que marcaram aqueles anos.
Conforme lembrou
o Granma, “seu legado musical está contido em mais de 40 álbuns que
incluem músicas emblemáticas como El breve espacio, Yolanda, Cuba Va, Amo
esta Isla e Comienzo y final de una verde mañana, entre
muitos outros, assim como colaborações inesquecíveis com inúmeros músicos
cubanos e com vários dos maiores artistas de Nossa América e de outras
regiões”.
No Brasil, uma das
cações mais conhecidas foi Yolanda, que Milanés fez em
homenagem à sua esposa quando do nascimento da filha Lynn, e que ganhou uma
versão de Chico Buarque. Juntos, os dois artistas a cantaram em show no Rio de
Janeiro, em 1983, originando o álbum Pablo Milanés ao Vivo no Brasil.
Pelo Twitter, o
músico brasileiro o classificou como “lendário” e citou trecho da música Cancion
por la unidad latinoamericana, de autoria de Milanés:
“Quem garante que a
História
É carroça
abandonada
Numa beira de
estrada
Ou numa estação
inglória
A História é um
carro alegre
Cheio de um povo
contente
Que atropela
indiferente
Todo aquele que a
negue”.
Outros grandes
nomes da MPB gravaram composições de Milanés, entre eles Milton Nascimento. Os
três, aliás, se conheceram nos anos 1970, em meio à luta contra a ditadura
militar brasileira. Milton gravou Canción por la unidad latinoamericana no
álbum Clube da Esquina 2 (1978).
Meu melhor público
O talento de
Milanés lhe rendeu reconhecimento e admiração nacional e internacional. O
músico recebeu dois Grammys Latinos de melhor álbum de cantor e compositor
(2006) e excelência musical (2015). Em Cuba, recebeu prêmios como a medalha
Alejo Carpentier, em 1982, e o Prêmio Nacional de Música, em 2005; além da
medalha Haydée Santamaría, em 2007, da Casa de las Américas por suas
contribuições à cultura latino-americana.
A última
apresentação de Milanés em Cuba aconteceu em junho, após três anos, para cerca
de 10 mil pessoas. “Sempre disse que é meu melhor público”, declarou na
ocasião.
O jornal Granma noticiou,
quando ocorreu o show: “Na apresentação, ele resolveu um aparente paradoxo:
como, de um formato instrumental levado à expressão mínima, alcançar uma
ressonância poderosa em uma esfera maciça. Será dito com razão que o trabalho
de Pablo alcança, impacta e cresce em qualquer ambiente”.
Na foto, Milanés com Chico Buarque, Djavan e Caetano Veloso, em 1986. Foto:
reprodução/redes sociais Pablo Milanés
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