Tite tem boas alternativas para
montar seleção brasileira
Brasil está muito bem preparado
nas partes técnica, tática e física; espero que também emocionalmente
Tostão, Folha de S.
Paulo
A Argentina decepcionou com a péssima atuação na derrota por 2 a 1 contra a
surpreendente Arábia Saudita, que, em vez de marcar com muitos jogadores perto
da própria área, como fazem quase todos os times que enfrentam adversários
superiores, colocou os zagueiros perto do meio-campo, deixando pouquíssima
distância entre eles e o ataque. Nesse curto e estreito espaço e com a pressão
para recuperar a bola, os árabes não deixaram a Argentina trocar passes e ficar
com a bola.
A Argentina não soube também aproveitar os espaços nas costas
dos defensores, pelos erros individuais e por entrarem muito em impedimento.
Assim, três gols foram anulados corretamente.
A França, mesmo com as perdas de Benzema, Kanté, Pogba, Kimpembe
e outros, continua forte, graças ao ótimo elenco, em razão do centro de
formação de jogadores que possui e da enorme imigração africana. A formação
tática na goleada por 4 a 1 sobre a Austrália é a mesma
do Brasil, com quatro defensores, dois volantes, dois pontas abertos, rápidos e
dribladores e mais um meia próximo ao centroavante.
Segundo os noticiários, sem a confirmação de Tite, contra a
Sérvia o Brasil deve jogar com Paquetá no lugar de Fred. Outra opção é a
entrada de Paquetá no lugar de Vinicius Junior, como um meia armador do lado
para o centro. Uma terceira opção, que parece ter sido abandonada pelo técnico
e que eu gosto, seria a saída de Richarlison e a formação de uma dupla de
ataque com Paquetá e Neymar, que se entendem muito bem. Essa formação manteria
os dois pontas, principal razão do crescimento da seleção no último ano.
As três alternativas são boas. Pior é não ter dúvidas. Só os
ignorantes e os medíocres têm certeza de tudo.
Tite deveria conversar com Casemiro e com Neymar para evitar cartões
amarelos, o que poderia deixá-los fora em um jogo decisivo, como aconteceu em
2018, quando Casemiro ficou ausente da partida contra a Bélgica, por estar suspenso. Neymar tem recebido muitos
cartões amarelos no PSG, por reclamar demais das faltas que recebe. Casemiro
desarma na bola, mas possui tanto vigor que costuma derrubar o adversário.
O Brasil está muito bem preparado nas partes técnica, tática e
física. Espero que esteja também emocionalmente. A tensão, presente em jogos
importantes, desde que não seja excessiva, é benéfica por estimular a produção
de substâncias químicas que melhoram a concentração e aumentam a força física e
a vibração. Cada um tem seu jeito de lidar com a ansiedade. Eu, quando estava
mais tenso, jogava melhor. É o doping psicológico.
Como fui médico, atleta e fiz cursos completos de medicina
psicossomática e de psicanálise, gostaria de que a comissão técnica tivesse um
psicólogo.
Na Copa de 1970, na véspera das partidas, alguns jogadores se
reuniam, sem a presença da comissão técnica, para conversar sobre variados
assuntos. Um iniciava com uma pequena preleção e, depois, todos discutiam.
Parecia uma terapia em grupo. Não era obrigatório, e os participantes nem
sempre eram os mesmos.
Na véspera da final, pedimos ao Dr. Roberto Abdalla Moura, que
havia me operado do olho e que era convidado da CBD, para fazer a preleção
inicial. Após a conquista, dei a ele minha medalha de ouro. Tenho saudade do
médico e do amigo, que, recentemente, faleceu.
A memória é o elo entre o passado e o presente. A história do
futebol não termina nesta Copa. Os sonhos antecedem e podem mudar o destino e a
história.
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