O futuro presidiário
Se Bolsonaro escapar da
grade, será para esta que deveriam ir os que o absolverem
Ruy
Castro, Folha de S. Paulo
O ex-imbrochável está com medo. É o que se deduz da afinada
de Bolsonaro junto aos caminhoneiros, de sua acoelhada visita ao STF
e das consultas desesperadas a advogados. Ele busca uma fórmula que o salve de,
despojado de suas imunidades como presidente, ver seus processos caírem na
primeira instância, onde serão julgados como os de um criminoso comum — o que
ele é. Se não conseguir, seus seguidores terão de acrescentar ao epíteto de
ex-presidiário, que conferiram a Lula, um novo epíteto, a aplicar a ele: o de
futuro presidiário.
Bolsonaro disse um dia que só três alternativas o tirariam do
Planalto: ser
preso, ser morto ou perder a eleição. "A primeira alternativa
não existe", arrotou — frase que eu gostaria de vê-lo repetir agora. A
terceira já se confirmou. E ninguém lhe deseja a segunda. Ao contrário, todos o
querem vivo para pagar por seu legado. Pena Bolsonaro não ter tempo de vida
para cumprir todas as sentenças que receber, devido ao número de quesitos em
que a lei pode enquadrá-lo. Eis alguns.
Homofobia, xenofobia, racismo, desvio de verba pública
(rachadinhas), formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, peculato,
estelionato, corrupção passiva, crime hediondo (suas atitudes na pandemia),
charlatanismo (como garoto-propaganda da cloroquina), prevaricação, vazamento
de dados sigilosos, uso de milícias digitais, propagação de fake news, ofensas
e ameaças ao STF, abuso do poder, incitação à baderna, tentativa de golpe de
Estado e, não por último, crimes contra a humanidade.
Até 1º de janeiro, Bolsonaro deverá sua liberdade a dois
presidentes da Câmara, Rodrigo Maia e Arthur Lira,
cujos traseiros sufocaram centenas de pedidos de impeachment, e ao PGR Augusto Aras,
que protagonizará os alívios cômicos nas futuras biografias de Bolsonaro.
Se, depois de tudo, ele escapar da grade, será para esta que
deveriam se destinar os que o absolverem. [Ilustração: Aroeira]
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