Brasil-sil-sil-sil
Cícero Belmar*
Somente agora, que a campanha eleitoral passou, é que deu tempo de se
sentar no banco do cotidiano e calçar as chuteiras da Seleção. A partir de
hoje, “oficialmente”, deixamos de ser o País da Política e ingressamos nesta
nova fase do País do Futebol.
O acompanhamento dos fatos políticos foi tão exaustivo que deu a
sensação de que vivemos dias demais para um único ano. Trouxe um cansaço de
emoções. De overdose em overdose de mentiras, mágoas e medos, sobrevivemos a um
século que começou em janeiro. Ufa, acabou!
Começa agora a expectativa real com a Copa do Mundo, e olha que coisa,
em cima da hora, faltando 20 dias para o início da competição mais importante
do Planeta.
E mesmo assim, tão perto de o juiz apitar o início dos jogos, ainda não
se pode dizer com toda certeza que teremos 215 milhões “de corações batendo de
uma só vez”. O resultado do segundo turno ainda vai deixar muita gente se
estranhando por aí.
Até ontem, por exemplo, quem vestia a camisa verde e amarela da
Canarinha torcia por um candidato. Houve uma apropriação indébita que, de alguma
forma, restringiu a torcida. Quem não queria ser confundido, no período
eleitoral, evitou usar essas cores.
Bola pra frente, que o Galvão quer gritar gol: de 20 de novembro a 18 de
dezembro, será conhecido o Campeão Mundial de Futebol. Claro que todas e todos
queremos que o Brasil traga para casa a sexta estrela para colocarmos no lado
esquerdo do peito. Hexa é Luxo.
As atuais cinco estrelinhas, na camisa, para mim, já é uma das provas
incontestes de que o Brasil é o País do Futebol. Mas, eu digo e desdigo no
mesmo instante, pois já fiquei me perguntando: antes dessas cinco, e até mesmo
da primeira, em 1958, não se dizia que esta era “a pátria do football”? Já.ENUNCIAR ESTE ANÚNCIO
Sim, já se falava que o brasileiro era louco pela guduchinha, que tinha
vocação e talento para o futebol. Que esse era o esporte nacional e das
multidões. Havia até os desinformados jurando e apostando que o esporte
nascera aqui, quando de fato foi na Inglaterra.
Não fique triste, não se zangue. Se você for à Argentina os torcedores
de lá também dizem a mesma coisa. Acham que a Argentina é o País do futebol. E
os italianos, idem. Que a Itália é o País do futebol. Será que “aqueles”
alemães dizem essa mesma coisa? Desculpem, foi mal. Vamos pular essa parte.
Realmente, até as olimpíadas na alta pandemia de covid-19 entusiasmaram
mais do que essa Copa. É certo que a realização em pleno novembro e dezembro
faz com que ela seja diferente das outras, que ocorriam no meio do ano. E os
jogos no Oriente Médio também contribuem para essa desmotivação inédita.
Somado a tudo isso, a Seleção Brasileira não empolga muito. Há craques
estrelados, milionários, festejadíssimos, mas sem o brilho e sem o charme de
outros grandes que já fizeram história. Mas, quem sabe, caberá exatamente a
esses a tarefa de unificar o povo brasileiro num mesmo grito, numa mesma causa,
numa mesma alegria? Quem sabe, eles nos devolverão a certeza de sermos, outra
vez, o País do Futebol?
*Jornalista, escritor, membro da Academia Pernambucana de Letras
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