Seguradoras sem riscos
Enquanto proprietários sofrem com propriedades desvalorizadas pela crise climática, as seguradoras não correm nenhum risco
Benoît Bréville/Le Monde Diplomatique
Tempestades, secas, inundações… Em todo o mundo, a multiplicação dos eventos climáticos extremos causa perdas consideráveis para as seguradoras. Nesses casos, as companhias não hesitam. Se um risco se torna muito caro, elas aumentam o valor de suas mensalidades; se isso não for suficiente, param de cobrir. Com o aquecimento e seu “aumento da sinistralidade”, todos os países agora abrigam áreas que podem se tornar não lucrativas. Não apenas as ilhas Tuvalu, Angola ou Bangladesh, considerados assim há muito tempo, mas também Austrália, Espanha e Itália. Na França, o governo está preocupado ao ponto de ter criado uma missão de avaliação que acabou de apresentar suas conclusões: é nece ssário realizar um “reajuste financeiro” e “reforçar os esforços de prevenção” – ou seja, aumentar as contribuições, fazer o Estado pagar e proteger o carro contra granizo.
De acordo com seus líderes, as seguradoras seriam como bússolas. Ao evitarem áreas de risco e apresentarem a verdadeira fatura dos desastres naturais, estariam contribuindo para uma conscientização. Se não houver uma cobertura satisfatória, as pessoas abandonarão as áreas perigosas, o que desenhará uma geografia social finalmente adaptada ao desregulamento climático.
No entanto, as coisas não acontecem assim. Mesmo sendo evitadas pelas seguradoras, as áreas expostas continuam a atrair habitantes. Na França, nada freia o gosto pelo sol do sul e pelas paisagens do Atlântico: nem as secas nem as tempestades. Nos Estados Unidos, a população está aumentando na Geórgia, na Carolina do Norte, no Texas. E os aposentados continuam afluindo para a Flórida, que está no topo da lista de preços de seguros residenciais (US$ 6 mil por ano, em média). As mensalidades exorbitantes e os riscos de incêndio também não impedem a proliferação de residências próximas às florestas norte-americanas, especialmente desde que a pandemia de Covid-19 revelou aos profissionais com ensino superior os encantos do trabalho remoto na natureza.1 Os mais ricos não renunciam às suas preferências, e os mais pobr es se instalam onde podem. Se ninguém quiser cobri-los, eles não se mudam; eles vivem sem seguro.
Seis milhões de proprietários norte-americanos estão atualmente nessa situação, presos em uma propriedade que perdeu todo o valor. O menor acidente pode levá-los à falência, à impossibilidade de pagar suas hipotecas, com o risco de uma reação em cadeia para os bancos e o mercado imobiliário. Para evitar uma crise generalizada, os governos estão colocando a mão no bolso. A Louisiana subsidia as empresas para que continuem operando lá; a Flórida oferece cobertura pública, cujo número de segurados triplicou desde 2019. Os únicos que não correm nenhum risco são as seguradoras.
Benoît Bréville é diretor do Le Monde Diplomatique.
1 Renée Cho, “With climate impacts growing, insurance companies face big challenges” [Com o crescimento dos impactos climáticos, as seguradoras enfrentam grandes desafios], Columbia Climate School, 3 nov. 2022, www.news.climate.columbia.edu.
[Arte: Valentin Baumont]
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