Quanto tempo dura a onda da Covid-19 provocada pela nova
variante em circulação?
Cenário na França,
país com uma das maiores prevalências da BQ.1 e que viveu um aumento recente de
casos, indica que crescimento da doença no Brasil pode durar até 36 dias
Bernardo Yoneshigue,
O Globo
O aumento
de casos de Covid-19 no Brasil, que chegou a 465% durante o mês de outubro nas
farmácias, acontece ao mesmo tempo em que o mundo passa a
registrar novas ondas da doença e a detectar uma proporção cada vez maior de
diagnósticos causados pela subvariante da Ômicron BQ.1.
A alta está apenas no
início por aqui, porém outros países que observaram a chegada da sublinhagem
mais cedo já vivem hoje um cenário de queda nos casos, sugerindo em quanto
tempo a tendência pode voltar a ser de desaceleração da doença no Brasil.
Embora especialistas
alertem que os números de casos oficiais são menores que a realidade devido à
baixa procura pelos testes, as curvas epidemiológicas registradas em lugares
como França, Dinamarca, Bélgica e Itália indicam que a nova onda pode demorar
até 36 dias para chegar ao pico, e voltar ao patamar anterior em cerca de dois
meses.
Subvariantes
em circulação
Para compreender a dinâmica das subavariantes e do crescimento dos
diagnósticos nos países, primeiro é preciso lembrar o que são as sublinhagens
da Ômicron. Como todo o vírus, o Sars-CoV-2, causador da Covid-19, passa por
diversas mutações com o decorrer do tempo.
Aquelas que conferem a ele
melhores chances de sobrevivência – como uma transmissibilidade maior e uma
capacidade de escapar de anticorpos gerados por infecções anteriores ou pelas
vacinas – acabam se tornando predominantes, e geralmente levam a um aumento de
casos, embora os imunizantes sigam eficazes para prevenir hospitalizações e
óbitos.
No entanto, de modo
diferente das cepas anteriores, como a Delta e a Gama, a Ômicron tem chamado
atenção pela velocidade acelerada com que essas mutações ocorrem, o que está
por trás dos relatos recorrentes de reinfecção. Em janeiro, por exemplo, na
primeira onda da variante, a responsável era a versão BA.1.
Poucos meses depois,
alguns países passaram por novos aumentos de casos com a identificação da BA.2.
Em junho, o mundo como um todo, incluindo o Brasil, teve uma onda
significativa, embora menor que as anteriores, provocada pelas sublinhagens
BA.4 e BA.5.
Essas duas últimas,
especialmente a BA.5, se estabeleceram como prevalentes na maioria dos países
desde então, mas em setembro começaram a dar lugar a uma série de novas
subvariantes da Ômicron que têm se espalhado pelo planeta. A grande maioria
dessas novas versões são derivadas da BA.5.
É o caso da XBB, que
provocou uma onda em Cingapura, e da BQ.1 e BQ.1.1 – que são as consideradas
mais preocupantes pelas autoridades sanitárias. As duas versões da BQ.1 têm
crescido principalmente na Europa, onde alguns países vivem o início de um
aumento de casos, mas outros já entram num estágio de queda.
No final de outubro,
o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças (ECDC) emitiu um alerta
sobre as sublinhagens em que estimaram uma predominância da BQ.1 no continente
até o fim de novembro, início de dezembro. “Isso provavelmente contribuirá para
um aumento no número de casos de Covid-19 nas próximas semanas a meses”, disse
o comunicado.
“Estudos preliminares
de laboratório na Ásia indicam que BQ.1 tem a capacidade de evadir
consideravelmente a resposta do sistema imunológico. No entanto, de acordo com
os dados limitados atualmente disponíveis, não há evidências de que BQ.1 esteja
associado ao aumento da gravidade da infecção em comparação com as variantes
Omicron BA.4/BA.5 circulantes”, acrescentou o centro.
Para impedir que o
aumento de casos se traduza no crescimento de internações e óbitos, a
autoridade chamou atenção justamente para a necessidade de se aumentar a
cobertura vacinal da população com o esquema vacinal de três doses, que está em
média em 53,9% nos países da União Europeia, além da quarta dose para os grupos
orientados, em apenas 19,3% entre os europeus maiores de 60 anos.
Cenário
em países que vivem queda de casos
No último boletim mensal do ECDC, referente às informações até o
último dia 6, porém, o centro já destaca uma diminuição na tendência de novos
casos de Covid-19, incluindo na população idosa, em relação à semana anterior.
Ainda assim, sobre as subvariantes, ressalta o crescimento da BQ.1 como um dos
fatores para que as nações continuem em alerta.
Com base em nove países
que têm um volume adequado de amostras para sequenciamento genético, o órgão
estimou que entre 17 e 30 de outubro a distribuição das sublinhagens foi de
79,5% para BA.5 e 18,1% para a BQ.1 na Europa. Há ainda 2,6% para BA.4, 1,9% para
BA.2.75 e 0,5% para BA.2.
Na França, porém, um dos
países com maior proporção de BQ.1, o boletim já aponta para uma prevalência
superior a 50% da subvariante no início de novembro – taxa que estava em 36,8%
nas semanas anteriores. O país começou a identificar casos causados pela nova
versão da Ômicron em setembro, e passou a ter de fato um crescimento nos
diagnósticos de Covid-19 a partir do dia 6 daquele mês.
Segundo a plataforma
de dados Our World in Data, da Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos,
essa tendência de aumento durou até o dia 12 de outubro, quando chegou a cerca
de 57 mil novos casos por dia – contra 16 mil antes. Desde então, a França vive
uma queda no indicador, registrando hoje aproximadamente 25 mil diagnósticos
diários. Por lá, 60% da população recebeu três doses da vacina.
Na Bélgica, onde a
proporção da BQ.1 ultrapassa 25% das amostras, a onda recente de casos de
Covid-19 durou cerca de 30 dias. Na Dinamarca, em que a sublinhagem é ainda
mais prevalente, chegando perto de 50%, o contágio demorou 21 dias para atingir
o ápice. Na Itália, embora a predominância da BQ.1 seja menor que 25%, houve um
aumento de casos que durou 30 dias.
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