Minha máquina do tempo
Luciano Siqueira
Todos nós, conscientemente ou não, conservamos na alma uma
máquina do tempo.
Alguns a fazem tão eficiente que escrevem memórias. Outros
se dedicam a um futurismo pretensamente científico.
Nós outros simples mortais pomos a própria máquina em
funcionamento toda vez que, de caso pensado ou não, sentimos a necessidade de
raciocinar e agir considerando referências do passado.
Em tempo longínquo ou recente.
Um artifício que nos possibilita um critério de referência para
a tomada de novas decisões.
Quando o ano está prestes a se encerrar, infernal é o
barulho de máquinas de tempo aos bilhões espalhadas pela face da Terra. É a
compulsão coletiva por prever o que o futuro nos reserva – mesmo ao presidiário
alojado no corredor da morte de algum presídio norte-americano ou asiático.
Uma situação dramática e tensa, como vemos nos filmes.
Minha máquina pessoal tem um departamento público – que me
leva a compartilhar com minha audiência particular, que nem é tão grande assim,
análises conjunturais e outras tantas, acerca dos destinos da sociedade em que
nos achamos entrincheirados.
O outro departamento, estritamente privado, se faz num
misto de experiência real, passada ou presente, e desejos e expectativas
pessoais.
Esse segundo departamento, digamos assim, o mantenho como
território livre para o sonho, o desejo ou a simples e inconsequente
especulação.
Território do desconhecido, via de regra da surpresa.
Gosto de ser surpreendido. Produz uma agradável sensação de
vida livre, pronta para o que der e vier.
Desde meados do século 19 e, sobretudo nos últimos trinta
anos, tanto já se explorou em tendências e possibilidades acerca do mundo
mineral e da sociedade humana, que há quem afirme (ilusoriamente, creio) que
nos tempos que correm tudo é previsível.
(Nem tanto. O imprevisível acaso muitas vezes muda o curso
da História.)
Questão de dados razoavelmente confiáveis e de projeções
matemáticas. Ou dialéticas?
Tudo isso devidamente anotado e tido como próprio da
condição humana, permito-me algumas horas de puro devaneio, bem acomodado numa
rede na varanda da casa onde nos reunimos para o réveillon, antecipado por
alguns dias de democrática irresponsabilidade.
Ou seja, longe dos problemas o quanto possível e livre para
sonhar.
Afinal, o sonho nos impulsiona à luta e imprime à
existência cotidiana uma aura de vida renovada.
.
Veja: imagens expressam a visão de mundo de quem as
retém https://bit.ly/3E95Juz
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