Poético universo devassado
Luciano Siqueira
“Ora (direis) ouvir
estrelas! Certo/Perdeste o senso!/E eu vos direi, no entanto,/Que,
para ouvi-las, muita vez desperto/E abro as janelas, pálido de espanto...”,
versos do famoso soneto de Olavo Bilac – verdadeira pérola da poética
parnasiana – me vêm à mente toda vez que ouço a notícia de novas descobertas acerca
do imenso e imponderável universo.
Tudo me parece
inalcançável, pelo menos aos simples mortais como eu; entretanto, objeto de
observações através de telescópios monstruosos e cálculos matemáticos ultra sofisticados.
A associação com a
poesia vem instintivamente, desde que ainda adolescente me tornei leitor atento
de tudo o que me vinha às mãos, hábito que mantenho até hoje.
São tantas as
referências poéticas aos astros, que intuitivamente me ficou a impressão de que
esse infinito território desconhecido haveria de ser sempre espaço reservado à
imaginação romântica dos bons poetas.
Indevassável.
Mas de tempo em
tempo ocorre a devassa.
Como a anunciada
tentativa do “mais poderoso telescópio do mundo” confirmar, ou não, teorias
sobre a evolução do mundo físico como o concebemos.
Trata-se do equipamento James Webb, patrocinado
pela Nasa e agências espaciais do Canadá e da Europa.
Justamente as estrelas observadas com
tanto fervor pelo poeta Bilac são alvo da expedição. Sabe-se que elas
relampejaram pela primeira vez 100 milhões de anos depois do “Big Bang”,
fenômeno físico-químico que há 13,8 bilhões de anos deu origem ao cosmo.
Gente amiga, é muita especulação para
minha modesta capacidade cognitiva!
Mas creio na consistência dessas
hipóteses.
Até porque anunciadas em termos senão
poéticos, cientificamente rítmicos e sonoros.
Leiam em voz alta:
Esgotado o seu combustível, os
primeiros astros explodiram ciclopicamente (arre!), dando origem ao universo
composto por extraordinária variedade de novos elementos químicos.
Daí surgiram tudo o que sabemos e
sentimos existir: galáxias, planetas, micro-organismos de todos os tipos e esse
produto supremo que conhecemos por seres humanos...
O tal telescópio circulará pelo
espaço justamente para confirmar tudo isso.
Se falhar será frustrante, pois
custou 10 bilhões de dólares e contém sofisticações extremas, como um espelho
constituído por 18 hexágonos de berílio banhados em ouro.
Cientistas testam suas dúvidas.
Poetas proclamam certezas, como
Shakespeare: “Duvida da luz dos astros,/De que
o sol tenha calor,/Duvida até da verdade,/Mas confia em meu amor.”
.
Veja: A poesia em seus lugares e cores https://bit.ly/3BKdwhd
Nenhum comentário:
Postar um comentário