Pesquisas Datafolha e Ipec são
bombas para a disputa da Presidência em 2022
Não é simples aceitar que
metade do empresariado veste-se mentalmente de papagaio
Janio de
Freitas, Folha de S. Paulo
Difícil saber
se mais impressionantes foram as pesquisas Ipec e Datafolha, duas
bombas com intervalo de 48 horas, ou as explosões de excitação que disseminaram
entre a euforia e o aturdimento, o alívio e o susto. Dos próprios
pré-canditatos não pôde sair recepção diferente, com certeza. O que faz
esperáveis, para breve, modificações em várias campanhas e, daí, na
configuração da disputa de Bolsonaro para baixo.
Os dados mais
eloquentes das pesquisas cabem ao ex-presidente Lula e os mais críticos são de Moro,
em inversão da adversidade que o perseguidor impôs ao perseguido no
frente-a-frente anterior. O dado mais forte, igual nas duas pesquisas, está nas
citações espontâneas, em que o eleitor menciona o preferido sem consultar a
lista oferecida. Moro tem aí a preferência de não mais do que 2%. Situação
pouco observada e, no entanto, acachapante para alguém tão conhecido (por 88%,
no Datafolha) e celebrado pela imprensa e a TV.
Se também nos
seus domínios ideológicos, os estados do Sul, o melhor índice de Moro foi o de
13% gaúchos, nisso Doria encontrou esperanças e Bolsonaro achou mais uma
ilusão. As duas pesquisas pulverizaram a convicção generalizada de que o Sul
seria absoluto pró-Moro. Ainda poderá ser, mas à custa de empenhos que outros
também poderão fazer, Doria em particular.
A compaixão
pelo país permite arriscar que, entre os 47% de empresários da ultradireita,
não faltem abalados pelas pesquisas. Não é simples aceitar que metade do
empresariado veste-se mentalmente de
papagaio como Luciano Hang. É o
sectarismo incapaz até da memória, ou da honestidade, de reconhecer os ganhos
de todo o empresariado com a melhoria da vida em geral no governo Lula, razão
dos extraordinários 82% de aprovação ao fim do mandato.
A própria queda
de Bolsonaro lhe acarretará mais queda ou, ao menos, ainda maior dificuldade de
recuperação estável. Os bilhões do "auxílio" e outros bilhões podem
lhe dar ganhos transitórios, a evaporarem na economia de Paulo Guedes. Como
toda decepção tem seu custo, e a causada por Moro foi grande, as pesquisas lhe
trouxeram problema duplo. Um, é obter programa e discurso que atraiam atenção,
em vez de repetições tediosas. O outro é subir com rapidez, antes que,
desacreditado, seu potencial se desloque. Doria espera, nos arranjos da
campanha que promete barulho.
Não só por precipitação é incabível a ideia, originária do meio
acadêmico, de que a eleição presidencial "é um plebiscito entre Bolsonaro
e Lula". Esse confronto já está resolvido, em todos os planos. De tudo,
neste momento de preliminares e não de conclusões, ficam a atenção lúcida do
povão sobre Bolsonaro e mais uma demonstração da vitalidade política de Lula,
em seu quarto reerguimento depois de alvejado por cercos destinados a
eliminá-lo.
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