As cores vivas da camisa do
tímido
Luciano Siqueira
Na noite de Natal exibi minha camisa
colorida em tons fortes.
Surpresa.
É que ao longo da vida sempre me vesti
do modo mais discreto possível. Coisa de tímido, que se pudesse entraria e
sairia nos lugares sem ser notado.
Minha timidez, posso hoje assegurar
após tantos anos vividos, nunca foi fácil de superar.
Contornar, sim.
Falar em público, por exemplo, me impõe
um cacoete que pratico até hoje.
Quando anunciado ao microfone, este
orador tido até como razoável, discretamente comprime o polegar sobre o
indicador da mão direita, respira fundo, olha nos olhos de alguém da plateia e,
enfim, toma coragem e discursa.
Sempre atento ao que deva ser dito de
um modo que todas as pessoas possam compreender.
Miguel Arraes certa vez me ensinou que,
ao falar em público, se em 4 minutos as pessoas na plateia não assentarem
levemente com a cabeça em sentido de concordância, "encerre logo ou mude o
roteiro, elas não estão entendendo.”
Nunca lhe perguntei porque 4 minutos e
não 3 ou 5. Mas levei a sério a advertência.
De certa feita, ao visitar a velha
Faculdade de Medicina da UFPE, onde fiz meu curso médico, o bedel Biu foi
direto:
— O deputado hoje fala bem e seguro,
mas a primeira vez que fez um discurso no restaurante aqui, em cima de uma
cadeira, tremia tanto as pernas que eu vi a hora ele cair...
Ele se referia o meu nervosismo ao
discursar para os colegas no início da militância no movimento estudantil.
Pois bem, vestir-se discretamente é
próprio do tímido, sempre me assumi assim.
Camisas coloridas, raramente as usei.
Uma ou outra ao estilo xadrez, porém em tonalidades muito discretas.
Daí a surpresa dos que me viram na ceia
do Natal, ontem, envergando uma camisa multicolorida, tonalidades fortes, contrastantes,
que adquiri na recente Fenearte.
Afinal, todos nós temos direito a uma
exceção na vida... Até os tímidos irremediáveis como eu, não?
.
Veja: A poesia em seus lugares e cores https://bit.ly/3BKdwhd
Nenhum comentário:
Postar um comentário