25 dezembro 2021

Crônica do sábado

As cores vivas da camisa do tímido

Luciano Siqueira

 

Na noite de Natal exibi minha camisa colorida em tons fortes.

Surpresa.

É que ao longo da vida sempre me vesti do modo mais discreto possível. Coisa de tímido, que se pudesse entraria e sairia nos lugares sem ser notado.

Minha timidez, posso hoje assegurar após tantos anos vividos, nunca foi fácil de superar.

Contornar, sim.

Falar em público, por exemplo, me impõe um cacoete que pratico até hoje.

Quando anunciado ao microfone, este orador tido até como razoável, discretamente comprime o polegar sobre o indicador da mão direita, respira fundo, olha nos olhos de alguém da plateia e, enfim, toma coragem e discursa.

Sempre atento ao que deva ser dito de um modo que todas as pessoas possam compreender.

Miguel Arraes certa vez me ensinou que, ao falar em público, se em 4 minutos as pessoas na plateia não assentarem levemente com a cabeça em sentido de concordância, "encerre logo ou mude o roteiro, elas não estão entendendo.”

Nunca lhe perguntei porque 4 minutos e não 3 ou 5. Mas levei a sério a advertência.

De certa feita, ao visitar a velha Faculdade de Medicina da UFPE, onde fiz meu curso médico, o bedel Biu foi direto:

— O deputado hoje fala bem e seguro, mas a primeira vez que fez um discurso no restaurante aqui, em cima de uma cadeira, tremia tanto as pernas que eu vi a hora ele cair...

Ele se referia o meu nervosismo ao discursar para os colegas no início da militância no movimento estudantil.

Pois bem, vestir-se discretamente é próprio do tímido, sempre me assumi assim.

Camisas coloridas, raramente as usei. Uma ou outra ao estilo xadrez, porém em tonalidades muito discretas.

Daí a surpresa dos que me viram na ceia do Natal, ontem, envergando uma camisa multicolorida, tonalidades fortes, contrastantes, que adquiri na recente Fenearte.

Afinal, todos nós temos direito a uma exceção na vida... Até os tímidos irremediáveis como eu, não?

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Veja: A poesia em seus lugares e cores https://bit.ly/3BKdwhd

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