Realidade paralela
Refratário à crítica e
refugiado nos fiéis, Bolsonaro atinge descrédito recorde
Folha
de S. Paulo
Vale conferir o texto
do editorial da Folha de hoje. Uma nota contundente a propósito do
desmoronamento da imagem do presidente Bolsonaro diante da maioria dos
brasileiros. (LS)
A esta altura
tornou-se difícil dizer se é mais espantoso que 60% dos brasileiros
declarem não acreditar em nada do que diz o presidente da
República, como mostra a nova pesquisa Datafolha, ou que ainda restem 22% a considerar sua
administração boa ou ótima.
Fato é que
Jair Bolsonaro, como nenhum outro de seus antecessores, mostra-se incapaz de
governar para a maioria —e até desinteressado em fazê-lo. Mantém-se refugiado
na parcela minoritária, mas expressiva, do eleitorado que se dispõe a
compartilhar de sua realidade paralela, ou a tolerá-la em nome de preferências
ideológicas.
São 26% os que
dizem confiar às vezes no que diz o presidente, e 13% os que confiam sempre.
Estes acreditam, pois, que vacinas conta a Covid-19 estão associadas ao
desenvolvimento da Aids; que eleições no país têm sido fraudadas
sistematicamente; que os fracassos do governo decorrem de sabotagem dos
opositores.
Decorridos
quase três anos de mandato, é evidente a indisposição de conviver, que dirá
dialogar, com forças políticas, setores da sociedade e instituições que não
estejam associadas a seu projeto de poder.
Mesmo tendo
deixado de lado a pregação abertamente golpista, Bolsonaro e seu governo
continuam hostis à crítica, à divergência e ao mero cotejo dos fatos. A
truculência contra a imprensa, que dá exemplo a seguidores e a profissionais
que cuidam da segurança presidencial, é apenas a manifestação mais comum dessa
intolerância.
Nesta semana
até o formalíssimo Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou o fechamento de
seu escritório no Brasil, em meio a grosserias do ministro da Economia, Paulo
Guedes.
O auxiliar de
Bolsonaro —que, entre outras proezas, prometeu zerar o déficit público em
apenas um ano e acabou por elevar o teto de gastos— renega as previsões pouco
lisonjeiras do Fundo e do próprio mercado doméstico para a atividade econômica
do país.
A reprovação
ao mandatário, que se expandiu durante a tragédia da pandemia, mantém-se no
patamar mais elevado, de 53%, num contexto de desemprego elevado, escalada da
inflação e queda da confiança de empresários e consumidores.
A aposta
derradeira para o ano eleitoral de 2022 será buscar os estratos carentes,
justamente os mais refratários ao presidente —na parcela com renda até dois
salários mínimos, 55% consideram seu governo ruim ou péssimo e 66% nunca
confiam no que ele diz.
O recém-criado
e necessário Auxílio Brasil é uma versão ampliada do Bolsa Família, outrora
chamado por Bolsonaro de instrumento de compra de votos. Trata-se, pois, de um
caso que testa as fronteiras da sinceridade do presidente.
.
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