18 dezembro 2021

Presidente decadente

Realidade paralela

Refratário à crítica e refugiado nos fiéis, Bolsonaro atinge descrédito recorde
Folha de S. Paulo

Vale conferir o texto do editorial da Folha de hoje. Uma nota contundente a propósito do desmoronamento da imagem do presidente Bolsonaro diante da maioria dos brasileiros. (LS)

 

A esta altura tornou-se difícil dizer se é mais espantoso que 60% dos brasileiros declarem não acreditar em nada do que diz o presidente da República, como mostra a nova pesquisa Datafolha, ou que ainda restem 22% a considerar sua administração boa ou ótima.

Fato é que Jair Bolsonaro, como nenhum outro de seus antecessores, mostra-se incapaz de governar para a maioria —e até desinteressado em fazê-lo. Mantém-se refugiado na parcela minoritária, mas expressiva, do eleitorado que se dispõe a compartilhar de sua realidade paralela, ou a tolerá-la em nome de preferências ideológicas.

São 26% os que dizem confiar às vezes no que diz o presidente, e 13% os que confiam sempre. Estes acreditam, pois, que vacinas conta a Covid-19 estão associadas ao desenvolvimento da Aids; que eleições no país têm sido fraudadas sistematicamente; que os fracassos do governo decorrem de sabotagem dos opositores.

Decorridos quase três anos de mandato, é evidente a indisposição de conviver, que dirá dialogar, com forças políticas, setores da sociedade e instituições que não estejam associadas a seu projeto de poder.

Mesmo tendo deixado de lado a pregação abertamente golpista, Bolsonaro e seu governo continuam hostis à crítica, à divergência e ao mero cotejo dos fatos. A truculência contra a imprensa, que dá exemplo a seguidores e a profissionais que cuidam da segurança presidencial, é apenas a manifestação mais comum dessa intolerância.

Nesta semana até o formalíssimo Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou o fechamento de seu escritório no Brasil, em meio a grosserias do ministro da Economia, Paulo Guedes.

O auxiliar de Bolsonaro —que, entre outras proezas, prometeu zerar o déficit público em apenas um ano e acabou por elevar o teto de gastos— renega as previsões pouco lisonjeiras do Fundo e do próprio mercado doméstico para a atividade econômica do país.

A reprovação ao mandatário, que se expandiu durante a tragédia da pandemia, mantém-se no patamar mais elevado, de 53%, num contexto de desemprego elevado, escalada da inflação e queda da confiança de empresários e consumidores.

A aposta derradeira para o ano eleitoral de 2022 será buscar os estratos carentes, justamente os mais refratários ao presidente —na parcela com renda até dois salários mínimos, 55% consideram seu governo ruim ou péssimo e 66% nunca confiam no que ele diz.

O recém-criado e necessário Auxílio Brasil é uma versão ampliada do Bolsa Família, outrora chamado por Bolsonaro de instrumento de compra de votos. Trata-se, pois, de um caso que testa as fronteiras da sinceridade do presidente.

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