16 novembro 2022

Discurso de Lula na COP27 no Egito

“Brasil está de volta”, diz Lula à COP27
Presidente eleito se ofereceu a ser anfitrião da Conferência de 2025. A proposta é levar o encontro da ONU para um estado da Região Amazônica.
André Cintra, Vermelho www.vermelho.org.br

 

 

Convidado especial à 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), no Egito, o presidente brasileiro recém-eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fez nesta quarta-feira (16) seu retorno simbólico à grande cena internacional. Em discurso de pouco mais de meia-hora, Lula afirmou que é hora de reverter o legado de destruição deixado pelo governo Jair Bolsonaro (PL) e retomar a luta pela “sobrevivência da Amazônia”, bem como do Planeta.

“O Brasil enfrenta um governo desastroso, em todos os sentidos”, disparou, sem citar Bolsonaro nominalmente. “Não por acaso, a frase que mais tenho ouvido dos líderes de diferentes países é que o mundo sente saudade do Brasil. O Brasil está de volta!”

O petista falou no plenário lotado da COP27, diante de mais de 300 pessoas. Ovacionado, Lula recebeu aplausos do momento em que entrou no recinto até minutos após seu pronunciamento.

“O Brasil está de volta para reatar os laços com o mundo, combater a fome e cooperar com os países mais pobres, sobretudo da África, e com nossos irmãos latino-americanos. Para lutar por um comércio justo entre as nações”, destacou. “Voltamos para ajudar a construir uma ordem mundial pacífica, centrada no multilateralismo. Voltamos para propor uma nova govenança global.”

Ao analisar sua vitória nas eleições presidenciais de 2022, Lula contrapôs a plataforma da coligação Brasil da Esperança com o programa predatório de Bolsonaro. De acordo com o presidente eleito, o resultado da disputa ajudou a “conter o avanço da extrema direita autoritária e antidemocrática e do negacionismo climático no mundo”. A seu ver, a sobrevivência da Amazônia — “e, portanto, do nosso planeta” — estava em xeque.

“O povo brasileiro fez a sua escolha e a democracia venceu. Voltam a vigorar os valores civilizatórios, o compromisso com os direitos humanos e a necessidade de enfrentar a crise climática”, disse. “O mundo tem pressa de ver o Brasil participando novamente das questões sobre o futuro do planeta.”

Conforme esperado, o presidente eleito defendeu a harmonização das causas do desenvolvimento sustentável, da soberania nacional e da segurança alimentar. “A luta contra o aquecimento global é indissociável da luta contra a pobreza e por um mundo menos desigual e mais justo. Não há segurança climática para o mundo sem uma Amazônia protegida.”

Lula renovou as promessas de zerar o desmatamento no Brasil até 2030 e criar o Ministério dos Povos Originários. “O combate à mudança climática terá o mais alto perfil na estrutura do meu próximo governo”, sublinhou. “A devastação ficará no passado. Os crimes ambientais serão agora combatidos sem trégua”. O compromisso é o de “punir com todo o rigor o responsável por qualquer atividade ilegal, seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida”.

Ao mesmo tempo, Lula quer o agronegócio como peça-chave na construção de um Brasil mais sustentável. “Estou certo de que o agronegócio brasileiro será um aliado estratégico do nosso governo na busca por uma agricultura regenerativa e sustentável, com investimento em ciência, tecnologia e educação no campo, valorizando os conhecimentos dos povos originários e comunidades locais. No Brasil, há vários exemplos exitosos de agroflorestas.”

O presidente eleito se ofereceu também a ser anfitrião da Conferência de 2025. A proposta é levar o encontro da ONU para um estado da Região Amazônica.

“Seremos cada vez mais afirmativos diante do desafio de enfrentar a mudança do clima, alinhados com os compromissos acordados em Paris e orientados pela busca da descarbonização da economia global”, concluiu Lula. “Em 2024, o Brasil vai presidir o G20. Estejam certos de que a agenda climática será uma das nossas prioridades.”

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