09 novembro 2022

Gal e seus estilos

A morte de Gal, uma musa da música brasileira

Gal foi variando o estilo, a partir do brado de guerra do show “É proibido proibir” e dos LPs dos baianos que impuseram um corte na MPB
Luís Nassif, Jornal GGN

 

Só os jovens dos anos 60 a 80 podem entender o que significou Gal Costa para a música popular brasileira. Vivia-se a fase Elis Regina, provavelmente a maior cantora da história. Mas Gal surgiu com um frescor imbatível, e acompanhada pelo mais talentoso grupo de músicos da época, os baianos Caetano Velloso, Gilberto Gil, Tom Zé, e depois as crias, Os Novos Baianos.

Encantou, primeiro, pela jovialidade da voz – própria, aliás, para uma moça de 20 anos. Algum crítico deveria encontrar uma definição melhor para o estilo Gal de cantar, que abriu uma estrada para inúmeros seguidores.

Não tinha a dramaticidade de Elizeth Cardoso, o ecletismo de Elis, a voz de apartamento de Nara e das cantoras da bossa nova. Era um novo estilo, contemporâneo, claro como o sol da manhã.

Ao longo dos tempos, Gal foi variando o estilo, a partir do brado de guerra do show “É proibido proibir” e dos LPs dos baianos que impuseram um corte na MPB – um movimento liderado por Elis, contra a guitarra e outras influências jovens externas. A Tropicália abriu um universo de possibilidades novas, trouxe para primeiro plano do rock às interpretações consideradas “bregas”, de Vicente Celestino a Peninha.

Com o tempo, criou-se um Olimpo da música brasileira, um primeiro time que, hoje em dia, chega aos 80, tendo Gal e Bethania como musas principais. É o time de Milton Nascimento, Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan, João Bosco, Ivan Lins, Paulinho da Viola – mais os pioneiros Edu Lobo, Carlos Lyra entre outros.

O maior vídeo que já assisti na vida foi uma homenagem a Mercedes Sosa, com participação de Chico, Milton, Caetano e Gal.

A morte de Gal acaba com o mito da imortalidade, que alimentamos em relação a nossos ídolos. Mas suas interpretações, seu frescor, seu jeitinho de namoradinha jovial de todos seus admiradores, ficará para sempre.

Era discreta na vida pessoal. Tinha uma casa em Ilha Bela e contava-se, por lá, que tinha adotado uma criança.

Nos anos 90 gravou um CD, que permanece inédito, acompanhada por Rafael Rabello. O grande Rafael encantou-se totalmente com a musa. Romperam no meio do projeto e Gal foi se abrigar no violão de Marcos Pereira – devidamente gravado e lançado.

As múltiplas cores da vida https://bit.ly/3fQkBY8

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