Atuação do Fluminense contra Flamengo foi
histórica, a não ser esquecida
Mas os Estaduais não têm mais a
importância e o nível técnico de outras épocas
Tostão/Folha de S. Paulo
Na coluna anterior, escrevi que, na vitória do Real Madrid sobre o
Barcelona por 4 x 0, as conexões da mente com o corpo entre Vinicius Junior,
Benzema e Modric foram celebrações da arte, da beleza e da eficiência ao se
jogar futebol. A mente fala pelo corpo. O mesmo ocorreu com o Fluminense, na goleada por 4 x 1 sobre o Flamengo.
Enquanto a maioria dos times do mundo usa a estratégia
posicional com dois jogadores próximos às laterais para ampliar a distância
percorrida pelos defensores de um lado a outro, o Fluminense desloca Arias da
direita para o centro e Marcelo da esquerda para o meio, para ter superioridade
numérica, trocar passes e envolver o adversário.
Como o Flamengo atua com três zagueiros e dois alas, deixa
apenas dois jogadores na intermediaria, na marcação pelo centro, o que
facilitou para os muitos jogadores do Fluminense trocarem passes em direção ao
gol.
O Fluminense foi brilhante pela maneira especial de jogar e
pelos muitos talentos individuais. Fernando Diniz, com o primeiro título
conquistado na sua carreira, ganha mais prestígio. A partir de agora será menos
criticado nas derrotas. Porém não se tornou um gênio, como já dizem. Menos,
menos. Todos os profissionais devem ser avaliados pela média de suas atuações
após médio ou longo prazo.
O Flamengo já está atrás de Jorge Jesus.
A sua contratação poderia ser benéfica por aumentar o número de vitórias e até
de derrotas, porque, definitivamente, haveria uma exorcização do fantasma Jorge
Jesus, que aflige o time há anos.
Se o Flamengo tivesse ganhado o campeonato, os comentários já
estariam prontos: que Vitor Pereira acertou ao poupar jogadores mesmo na
derrota pela Libertadores e que Fernando Diniz errou ao escalar um dia antes
todos os titulares.
Já o Palmeiras agiu corretamente ao colocar todos os reservas na
altíssima altitude da Bolívia, já que haveria uma grande chance de derrota
mesmo com todos os titulares.
O Palmeiras continua ganhando títulos. O time, que já é
coletivamente o mais forte do Brasil e o que tem individualmente a melhor
equipe titular, caminha para possuir também o elenco mais talentoso, por ter
uma gestão séria e eficiente, dentro e fora de campo. O Palmeiras não joga
dinheiro fora em contratações, investe bastante nas categorias de base e cada
vez mais forma ótimos jogadores. Abel sabe o momento certo de colocar os jovens
em campo.
O Atlético-MG vive uma confusão paradoxal, maluca. Ao mesmo
tempo em que comemora o título estadual e a classificação para a fase de grupos
da Libertadores, passa por uma grande turbulência com as críticas de Coudet à
diretoria. As reclamações do técnico deveriam ser feitas ao clube, não em
entrevistas à imprensa. Por outro lado, as queixas do técnico sobre
contratações são corretas, já que o elenco atual é inferior ao de anos
anteriores, quando o Galo conquistou grandes títulos.
Todos os campeões estaduais merecem aplausos. As festas das
torcidas foram belíssimas e emocionantes. É salutar desfrutar desses momentos.
Porém, não se pode perder o senso crítico. Os estaduais não têm mais a
importância e o nível técnico de outras épocas. Há um exagero nas avaliações e
elogios aos times, jogadores e à qualidade das partidas. O futebol que se joga
no país, na média, está longe do nível técnico do visto nas principais equipes
do mundo.
Por outro lado, a beleza e a atuação empolgante do Fluminense
contra o Flamengo é histórica, para nunca ser esquecida. Parafraseando o ótimo
narrador Paulo Andrade, da ESPN, "que time é esse?".
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