Da minuta de Torres a áudios no WhatsApp: quatro momentos
que evidenciam o golpismo que orbitava Bolsonaro
Ex-presidente e seus
aliados estão no centro de conspirações contra o resultado das eleições
O Globo
Com as novas descobertas da Polícia Federal sobre trocas de mensagens
golpistas de aliados de Jair Bolsonaro (PL), mais elementos mostram que tramas contra o resultado das
eleições ocorreram, no mínimo, no entorno do ex-presidente. O último caso a vir
à tona foram os áudios revelados pela CNN Brasil em que o ex-major Ailton
Barros, chamado de “segundo irmão” por Bolsonaro, fala em mobilizar uma tropa
de 1,5 mil homens para um golpe de Estado.
Porém, desde que foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), em 30 de outubro de 2022, Bolsonaro e seu núcleo de aliados
protagonizaram outros episódios com
conspirações contra a democracia brasileira. Um dos casos mais graves foi a preparação
da minuta golpista que acabou encontrada com seu ex-ministro da Justiça, Anderson
Torres, que está preso.
Conversa de Bolsonaro com Silveira e Do Val
Um mês após ser derrotado por Lula, o ex-presidente se enrolou em
uma trama conspiratória com o
objetivo de anular as eleições. No episódio que foi relatado
pelo senador e seu aliado Marcos do Val (Podemos-ES), o ex-presidente manteve
conversas com ele e o então deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) que
envolveram encontros sigilosos e planos para realizar gravações clandestinas de
ministros do STF, como foco em Alexandre de Moraes.
Segundo o relato, no dia 7
de dezembro, Daniel Silveira procurou Marcos do Val durante uma sessão do
Congresso e avisou que o presidente Bolsonaro desejava falar com ele. Por
telefone, o presidente pediu ao parlamentar que o visitasse no Alvorada.
Eles
marcaram, então, a reunião para o dia 9 de dezembro. Após um esquema para
chegar a Bolsonaro que envolveu troca de carros e localização
por GPS, Marcos do Val e Daniel Silveira foram recebidos pelo
ex-presidente. O senador deu diferentes versões do que ocorreu em seguida. Em
todas elas, é Silveira que introduz a ideia do plano de gravar uma conversa com
o ministro Moraes.
No entanto, há divergências entre os
relatos. Em uma versão, Marcos do Val disse que Bolsonaro tentou
coagi-lo. Em outro momento, o senador diz que o presidente afirmou que o
Gabinete de Segurança Institucional (GSI) iria prestar apoio técnico ao plano.
Posteriormente,
do Val se desdisse novamente e apontou que Bolsonaro permaneceu calado durante
todo o encontro e que a afirmação quanto à participação do GSI veio de
Silveira. Mais tarde, em outra entrevista, o senador acrescentou outro detalhe:
Bolsonaro, ao fim da conversa, teria dito que aguardava a resposta do senador.
No dia 14 de dezembro, Do
Val chegou a encontrar Alexandre Moraes no salão branco do STF para uma
conversa por alguns minutos. Porém, o parlamentar recuou do acordo
e contou o plano que teria acertado com o então presidente
Bolsonaro. Neste mesmo dia, o senador informou a Daniel Silveira que não faria
mais parte da ação.
Minuta
Golpista
Outro episódio que mostra intenções golpistas dentro do governo
Bolsonaro é o documento encontrado pela Polícia Federal em 12 de janeiro na
casa do ex-ministro Anderson Torres. O texto com o objetivo de
reverter o resultado da eleição na qual Jair Bolsonaro foi
derrotado foi criado no início de dezembro. O documento faz menção direta ao
dia da diplomação de Lula no TSE, ou seja, 12 de dezembro.
A minuta detalhava passo a passo como deveria ser decretado
um "estado de defesa" no TSE, dando poderes ao ex-presidente Jair
Bolsonaro para interferir na atuação da Corte – o que é flagrantemente
inconstitucional. Tanto o caso relatado por Do Val quanto a minuta golpista
estão na mira das investigações do inquérito conduzido pelo ministro Alexandre
de Moraes que apura a autoria intelectual dos ataques golpistas do dia 8 de
janeiro e o envolvimento de Bolsonaro nos episódios.
Em virtude dos atos, Torres foi preso no dia 14 de
janeiro. O ex-ministro é suspeito de omissão na condução das
forças de segurança pública em 8 de janeiro, quando extremistas invadiram e
depredaram as sedes dos três Poderes em Brasília. O caso foi ainda incluído
pelo ministro Benedito Gonçalves, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na ação
em que o ex-presidente Jair Bolsonaro é investigado por ataques ao sistema
eleitoral brasileiro.
Áudios de
Ailton com Mauro Cid
Dois dos aliados mais próximos de Jair Bolsonaro, envolvidos no esquema que teria
fraudado o cartão vacinal do ex-presidente e de figuras
próximas a ele, discutiram como dar um golpe de estado em dezembro do ano
passado. A conversa entre o ex-major do Exército Ailton Barros e o
tenente-coronel Mauro Cid, ambos presos pela Polícia Federal da semana passada,
foi revelada pela CNN Brasil.
Ailton Barros discutiu com
Cid, braço-direito de Bolsonaro, a possibilidade de dar um golpe de Estado e,
logo em seguida, prender o ministro Alexandre de
Moraes. O diálogo pontua que, para funcionar, o plano deveria
incluir a participação do então comandante do Exército, general Marco Antônio
Freire Gomes, ou do próprio Bolsonaro.
"É o
seguinte, entre hoje e amanhã, sexta-feira, tem que continuar pressionando o
Freire Gomes para que ele faça o que tem que fazer", disse Ailton para
Cid, em 15 de dezembro de 2022.
"Até amanhã à tarde,
ele aderindo… Bem, ele faça um pronunciamento, então, se posicionando dessa
maneira, para defesa do povo brasileiro. E, se ele não aderir, quem tem que fazer
esse pronunciamento é o Bolsonaro, para levantar a moral da tropa. Que você
viu, né? Eu não preciso falar. Está abalada em todo o Brasil", completou o
ex-major.
Ailton
segue adiante nas articulações enviadas a Mauro Cid, ainda de acordo com o
conteúdo divulgado pela CNN. "Pô, não é difícil. O outro lado tem a
caneta, nós temos a caneta e a força. Braço forte, mão amiga. Qual é o
problema, entendeu? Quem está jogando fora das quatro linhas? Somos nós? Não
somos nós", pontuou o ex-militar, repetindo uma das expressões mais usadas
por Bolsonaro enquanto esteve no Planalto.
Mensagens
de Ailton com Elcio Franco
Outras gravações obtidas pela CNN Brasil e reveladas
posteriormente mostram que Ailton também discutiu formas de promover um golpe
com o ex-número 2 do Ministério da Saúde do governo Bolsonaro, o coronel Antonio Elcio Franco Filho.
Nas novas mensagens, de meados de dezembro de 2022, eles
falam sobre mobilizar 1,5
mil homens para participar de uma insurreição. Em um dos diálogos, Franco reclama da resistência do então
comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, de aderir à investida
antidemocrática.
“O Freire não vai. Você
não vai esperar dele que ele tome à frente nesse assunto, mas ele não pode
impedir de receber a ordem. Ele vai dizer, morrer de pé junto, porque ele tá
mostrando. Ele tá com medo das consequências, pô. Medo das consequências é o quê?
Ele ter insuflado? Qual foi a sua assessoria? Ele tá indo pra pior hipótese. E
qual, qual é a pior hipótese?”, diz o coronel.
Em outro
trecho revelado pela PF, Ailton diz ao ex-integrante do governo Bolsonaro:
“(É
preciso convencer) o general Pimentel. Esse alto comando de mer* que não quer
fazer as p*, é preciso convencer o comandante da Brigada de Operações Especiais
de Goiânia a prender o Alex".
Informar-se
e formar opinião própria https://bit.ly/3Ye45TD
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