16 novembro 2022

Enio Lins opina

MIL TONS DO MILTON
Enio Lins, tribunahoje.com

 

“Viva a Democracia!” – Bradou Milton Nascimento, o Bituca, em um momento do seu emocionante espetáculo de despedida dos palcos. Mineiramente, seus milhares de tons conquistaram inapelavelmente o Brasil em 60 anos de carreira.

Aos 80 anos, Milton Nascimento
 findou, na noite de domingo, 13 de novembro, seu périplo de despedida dos palcos, em 37 apresentações, desde junho, e que passou por 18 cidades brasileiras, 10 na Europa e nove nos Estados Unidos.

O espetáculo final da turnê
 foi no Mineirão, para um público calculado em 55 mil pessoas, num show que se estendeu por duas horas e meia, contando com a participação de uma constelação de artistas convidados.

Orgulho do Brasil neste momento
, muito orgulho. É a reafirmação do melhor, do mais belo de nosso povo, representado na carreira, na personalidade, na generosidade e no imenso talento de um artista genial e cidadão irrepreensível.

Milton nasceu pobre
, numa favela carioca, filho de uma empregada doméstica desempregada, Maria do Carmo Nascimento, que morreu de tuberculose quando ele tinha menos de dois anos de idade. Adotado pelo casal Lília e Josino Campos, mudaram-se para Minas Gerais, onde por influência da mãe adotiva, Bituca aproximou-se da música e nunca mais se distanciou dela.

Como ele disse no espetáculo
 de despedida, é “o mais mineiro dos cariocas”, e seu jeitão pacato, conciliador, e ao mesmo tempo firme e decidido, comprova ser gente das Gerais, gente do Brasil mais profundo e sábio. Gente das favelas e das grotas, gente da praia. Gente que luta pela liberdade e pela justiça social.

Aposentado dos palcos
, se torce para que ele não se aposente de compor, nem de tocar e cantar para o clube de sua esquina, assim como quem não quer nada, sem chamar a atenção, sem holofotes. Mas espetáculos, infelizmente, já eram.

Unanimidade inteligente
, Milton Nascimento certamente tem quem dele desgoste, afinal ainda vivemos no Brasil uma pandemia direitista de negacionismo e estupidez. Certamente haverá quem queira pregar uma estrela vermelha na porta da casa dele. Mas fora essa gente doente, Bituca é o máximo, é e será eterno coração de estudante.

Viva a Democracia!
 Viva Milton Nascimento! Viva a arte, viva a cultura, viva o cio da terra, viva Maria, Maria. Viva tudo que você podia ser, viva cálix bento, viva fé cega, faca amolada. Viva volver a los 17, viva o trem azul (ô trem bão!), viva caçador de mim, viva a canção da América e, nessa travessia, seguimos alegres nos bailes da vida.

As múltiplas cores da vida https://bit.ly/3fQkBY8

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