MIL TONS DO MILTON
“Viva a Democracia!” – Bradou Milton Nascimento, o Bituca, em um momento do
seu emocionante espetáculo de despedida dos palcos. Mineiramente, seus milhares
de tons conquistaram inapelavelmente o Brasil em 60 anos de carreira.
Aos 80 anos, Milton
Nascimento findou, na noite de domingo, 13 de novembro,
seu périplo de despedida dos palcos, em 37 apresentações, desde junho, e que
passou por 18 cidades brasileiras, 10 na Europa e nove nos Estados Unidos.
O espetáculo final
da turnê foi no Mineirão, para um público calculado
em 55 mil pessoas, num show que se estendeu por duas horas e meia, contando com
a participação de uma constelação de artistas convidados.
Orgulho do Brasil
neste momento, muito orgulho. É a reafirmação do melhor, do
mais belo de nosso povo, representado na carreira, na personalidade, na
generosidade e no imenso talento de um artista genial e cidadão irrepreensível.
Milton nasceu pobre, numa favela carioca, filho de uma empregada doméstica
desempregada, Maria do Carmo Nascimento, que morreu de tuberculose quando ele
tinha menos de dois anos de idade. Adotado pelo casal Lília e Josino Campos,
mudaram-se para Minas Gerais, onde por influência da mãe adotiva, Bituca
aproximou-se da música e nunca mais se distanciou dela.
Como ele disse no
espetáculo de despedida, é “o mais mineiro dos
cariocas”, e seu jeitão pacato, conciliador, e ao mesmo tempo firme e decidido,
comprova ser gente das Gerais, gente do Brasil mais profundo e sábio. Gente das
favelas e das grotas, gente da praia. Gente que luta pela liberdade e pela
justiça social.
Aposentado dos palcos, se torce para que ele não se aposente de compor, nem de
tocar e cantar para o clube de sua esquina, assim como quem não quer nada, sem
chamar a atenção, sem holofotes. Mas espetáculos, infelizmente, já eram.
Unanimidade
inteligente, Milton Nascimento certamente tem quem dele
desgoste, afinal ainda vivemos no Brasil uma pandemia direitista de
negacionismo e estupidez. Certamente haverá quem queira pregar uma estrela
vermelha na porta da casa dele. Mas fora essa gente doente, Bituca é o máximo,
é e será eterno coração de estudante.
Viva a Democracia! Viva Milton Nascimento! Viva a arte, viva a cultura,
viva o cio da terra, viva Maria, Maria. Viva tudo que você podia ser, viva
cálix bento, viva fé cega, faca amolada. Viva volver a los 17, viva o trem azul
(ô trem bão!), viva caçador de mim, viva a canção da América e, nessa
travessia, seguimos alegres nos bailes da vida.
As múltiplas cores da vida https://bit.ly/3fQkBY8
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