Brasil e China podem abrir novo capítulo na
história
O encontro pessoal entre o
presidente Lula e o presidente Xi Jinping resultará no fortalecimento ainda
maior dos laços de cooperação e amizade entre os dois países
Luis Antônio Paulino/Vermelho www.vermelho.org.br
A visita do Presidente Lula à China neste mês de abril poderá abrir um novo capítulo na história das
relações bilaterais entre o Brasil e a China e contribuir para elevar as
relações China-América Latina para um novo patamar. Entre os importantes temas
que estarão em discussão entre os dois países, a adesão formal do Brasil à
Iniciativa Cinturão e Rota certamente será um deles. Embora a visita atual do
presidente Lula não tenha como objetivo principal a discussão sobre esse tema
específico e esteja mais focada na ampliação e fortalecimento da cooperação
bilateral tanto em áreas nas quais a cooperação bilateral já é forte, como
também em novas áreas, a atual visita abre o caminho para um novo salto nas
relações bilaterais e certamente levará à formalização, no curto prazo,
da adesão do Brasil ao projeto, abrindo, assim, um novo capítulo na relação
entre os dois países.
Certamente o encontro pessoal entre o presidente Lula e o presidente Xi Jinping resultará no fortalecimento ainda maior dos laços de cooperação e amizade entre os dois países, principalmente porque em muitos aspectos a visão de mundo do presidente Lula está totalmente de acordo com o que o presidente Xi Jinping vem propondo nos fóruns internacionais. Importantes figuras do atual governo na área das relações internacionais, como o ex-ministro Celso Amorim, pessoa próxima do presidente e seu principal conselheiro na área de relações internacionais, já se manifestou favoravelmente à adesão do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota e não vê motivos para que o Brasil não adira formalmente ao projeto.
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Com exceção do Paraguai, com quem a República Popular da China não possuiu relações diplomáticas, Brasil e Colômbia são dois únicos países da América do Sul que ainda não aderiram formalmente ao projeto Cinturão e Rota, o que não tem impedido, entretanto, de o Brasil ser o maior receptor de investimentos chineses na região. A adesão formal do Brasil ao projeto, entretanto, abriria caminho não apenas para uma nova onda de investimentos chineses no Brasil, como também consolidaria definitivamente a parceria China-América Latina, representando e enterro simbólico da famigerada Doutrina Monroe, segundo a qual a região deveria estar para sempre subordinada ao controle político e econômico dos Estados Unidos, que consideram a região o seu quintal.
Há séculos o desenvolvimento da região tem estado subordinado aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos no hemisfério, o que, por diversas razões tem se constituído em obstáculo para a superação do atraso econômico e social que caracteriza a região desde os tempos coloniais. Estão bem registrados pela história os diversos momentos em que, por razões geopolíticas e ideológicas, as diversas tentativas de encontrar um caminho alternativo de desenvolvimento para os países da região foram abortadas pelas elites locais com o apoio explícito norte-americano.
A busca por um novo modelo de desenvolvimento é uma aspiração das forças progressistas da região comprometidas com a soberania nacional e o bem-estar do povo e, pela primeira vez na história, a China oferece uma alternativa viável, que devidamente adaptada às condições e realidades locais pode representar a abertura de um novo capítulo na história da região. A parceria entre China e América Latina, aí incluído o Brasil, será importante, não apenas pelo exemplo da China, mas porque ações concretas, baseadas no princípio dos ganhos mútuos, poderão fazer toda a diferença para o futuro da região.
Dentre as inúmeras possibilidades, destacaríamos duas que serão fundamentais para a economia do futuro: a economia verde e as tecnologias de ponta. Na área ambiental, uma parceria entre Brasil e China, poderia romper com o atual impasse entre o desejo de desenvolvimento do país e as pressões que o Brasil recebe dos Estados Unidos e da União Europeia para se resignar à condição de reserva ambiental do planeta. Uma parceria entre o Brasil e a China na defesa da floresta amazônica poderia abrir um novo caminho que pudesse combinar o uso econômico dos recursos da região, em benefício do País e das populações locais, com a preservação da floresta, graças às tecnologias e experiência que a China vem desenvolvimento na área ambiental, que procuram conciliar a preservação do meio ambiente com a necessidade de desenvolvimento. Melhor do que ninguém a China sabe da importância do desenvolvimento e da preservação da natureza e a cooperação técnica, econômica e financeira nessa área poderia ajudar o Brasil e os países da região a encontrar o equilíbrio necessário entre desenvolvimento e preservação ambiental.
Na área tecnológica, essa parceria poderia abrir igualmente um novo caminho para a inserção do Brasil e outros países da região nas cadeias globais de suprimento de bens industriais e tecnológicos de maior valor agregado. Depois da pandemia da Covid-19 muito se falou de reorganização das cadeias de suprimento globais que poderiam, em tese, beneficiar a região, mas de concreto praticamente nada ocorreu até o momento. Não é do interesse das grandes multinacionais na área de tecnologia de ponta do Ocidente, como semicondutores e indústria farmacêutica, entre outras, transferir para a região atividades de maior valor agregado. Os acordos que serão assinados entre Brasil e China nessas áreas na visita do presidente Lula à China mostram que há um mundo de possibilidades que poderiam ser melhor exploradas e levar não apenas à reversão do processo de desindustrialização pelo qual os países da região, nomeadamente o Brasil, passam atualmente, como poderia representar a entrada da região no mundo da chamada Quarta Revolução Industrial não apenas como fornecedor de matérias-primas, mas também como produtor de bens de maior valor agregado e desenvolvimento de tecnologias.
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