21 maio 2024

Enio Lins opina

Segue em cartaz a enchente de notícias falsas

Enio Lins



Por ter sido intensificada, a tempestade de notícias falsas merece mais um comentário, pois nesses trágicos tempos tem como alvo o povo gaúcho. A enchente de mentiras procura desacreditar e desperdiçar os esforços de socorro às áreas alagadas e de salvamento das vidas em risco. O objetivo dessa operação criminosa, ainda em pleno desenvolvimento, é político: visa ampliar prejuízos, sofrimentos e mortes para, simultaneamente, acusar os poderes públicos como responsáveis por isso.

ORQUESTRAÇÃO ASSASSINA

Há uma semana, o jornal Folha de São Paulo informava da virulência e da organização dos disseminadores de falsas notícias, grupos que plantam informações mentirosas contra quem esteja em trabalho solidário às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Os alvos recorrentes eram/são o governo e instituições federais e seus correspondentes estaduais. Profissionais das fake news chegaram a se se deslocar ao território gaúcho para mentir ao vivo, debaixo d’água, visando assim ampliar a “credibilidade” de suas manipulações.

ONDA DE MENTIRAS

No dia 8 de maio a Folha noticiou: “Circula nas redes o discurso de que é só ‘o povo quem está se salvando’ no RS, mas segundo balanço de ontem à noite, somente os trabalhos conjunto de Forças Armadas, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Brigada Militar, PF, PRF e voluntários resgataram 50 mil pessoas. As forças de segurança estaduais, incluindo Brigada Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, mobilizaram mais de 2.000 servidores. O governo federal tem cerca de 14,5 mil pessoas ajudando no estado, sendo 13,6 mil militares”. Desconstruir essa realidade é o objetivo da turma das fakes.

ALVOS PREFERENCIAIS

Há dois dias, ainda acompanhando a atividade desses grupos criminosos, a Folha/UOL informava que nas áreas contaminadas pelas falsificações, além dos ataques aos governos federal e estadual, “70% das menções ao Exército são negativas” e que “para especialistas consultados pelo UOL, por trás desses comentários há uma máquina de fake news organizada e bem articulada na distribuição da informação”. Sugere, tal constatação, que as Forças Armadas também viraram alvo da extrema-direita, por não terem se engajado no golpe de estado como desejado pelos patriotários em 8 de janeiro de 2023, ou para tentar desmoralizar o trabalho militar humanitário, considerado “mimimi” pelos “treinados para matar”.

INTENSIDADE CHOCANTE

Segundo o “Fantástico”, veiculado pela Rede Globo, no domingo, 12, pesquisa da consultoria Quaest identificou que 31% das pessoas entrevistadas receberam notícias falsas sobre as enchentes no Rio Grande do Sul. Para esse universo de vulnerabilidade, o levantamento apontou “os grupos de WhatsApp como os principais meios de propagação de fake news sobre a tragédia”, com 35% de ocorrência, seguido de 24% que tiveram acesso à desinformação “por amigos”, enquanto políticos e colegas de trabalho empataram como transmissores de mentiras para 11% dos entrevistados. Explicou a Quaest que o levantamento “ouviu 2.045 pessoas, em 120 municípios, entre os dias 2 e 6 de maio. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos”. Dispensa-se fazer a conta exata sobre quantos milhões no Brasil estão sendo alcançados pelas fábr icas de mentiras, mas – grosso modo – corresponde, nesse caso, a uma audiência com mais de 60 milhões de pessoas.

Como dizia uma personagem de velha novela global, “não é brinquedo não”. É crime, e dos grandes, e a Lei não pode deixar essa lama escorrer pelo ralo.

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