Essa matéria carece de necessário viés analítico, mas vale pelas informações nela contidas.
Um bilhão de pessoas vivem em favelas e moradias precárias no mundo
com 8 bilhões
Crescimento de metrópoles
pode agravar problema nos próximos
anos, segundo a ONU
Rafael Balago, Folha de S.Paulo
De cada 8 habitantes do planeta, 1 mora hoje em favelas ou casas
inadequadas, apontam dados da ONU. A questão é ainda mais preocupante porque a maior parte do crescimento
da humanidade previsto para as próximas décadas se dará nas
cidades, onde faltam áreas adequadas para receber mais moradias. Nesta terça
(15), as Nações Unidas preveem que o mundo chegará à marca de 8 bilhões de habitantes.
A entidade define como casa inadequada uma que tenha ao menos
uma das seguintes condições: é feita de materiais pouco resistentes; não conta com acesso
adequado a água potável e esgoto; e abriga mais de três pessoas por
cômodo.
Nas últimas décadas, de todo modo, a tendência vinha sendo de
alguma melhora. Em 2000, 31,2% dos moradores do planeta que viviam em cidades
estavam sob essas condições. Depois de 20 anos, o percentual caiu para 24,2%
—na América Latina,
a queda foi maior, de 31,9% para 17,7% nesse período, mas o índice ainda se
mantém distante do observado na Europa e na
América do Norte (que, pela ONU, exclui o México), onde só 0,7% da população
urbana vive de forma inadequada.
Ao mesmo tempo, o crescimento das cidades
segue acelerado. Em 2000, o mundo tinha 371 municípios com mais de 1
milhão de moradores; em 2018, eram 548 e até 2030 devem ser 706.
As megacidades, conglomerados com mais de 10 bilhões de habitantes,
também se multiplicam. Eram 33 em 2018, que devem se tornar 43 em 2030. A
região metropolitana de São Paulo é a quarta maior metrópole global, com
população atual estimada em 21,8 milhões de pessoas, segundo o site World
Population Review. O top 3 global tem Tóquio (37,4 milhões), Nova Déli (29,3
milhões) e Xangai (26,3 milhões).
Já grandes conglomerados urbanos europeus, bem como alguns
nos EUA, estão em processo de encolhimento devido
ao envelhecimento acelerado, à baixa
natalidade e a migração interna em
busca de moradias mais baratas —mesmo em países ricos, o preço dos imóveis
vem subindo, o que dificulta a compra por jovens adultos.
Já grandes conglomerados urbanos europeus, bem como alguns
nos EUA, estão em processo de encolhimento devido
ao envelhecimento acelerado, à baixa
natalidade e a migração interna em
busca de moradias mais baratas —mesmo em países ricos, o preço dos imóveis
vem subindo, o que dificulta a compra por jovens adultos.
"A gente acha que há um crescimento desordenado
[das cidades] e que isso é algo inexorável. Não. O problema é
entender que a ordem é essa. Há um crescimento de baixa qualidade, em regiões
sem infraestrutura, devido ao preço da terra", aponta Valter Caldana,
professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
Com a crise econômica gerada pela pandemia de coronavírus, o acesso à moradia ficou mais
difícil em muitas partes do mundo. O fechamento de atividades levou
muita gente a ficar sem dinheiro para pagar o aluguel, acabar despejada ou tendo de buscar moradias
mais baratas. Ao mesmo tempo, falhas nas cadeias de suprimento e
períodos de lockdown atrasaram a produção de novos imóveis, o que também gerou
uma alta de preços em muitos países.
Leia também: Uma ordem mundial
alternativa https://bit.ly/3xUwMZp
Sem planejamento urbano adequado, muitas metrópoles
deixam os pobres sem opção de moradia acessível e, na prática, fingem que não
veem a criação de favelas e habitações inadequadas nas periferias.
"O preço das casas é fortemente direcionado pelo valor dos
terrenos —que representa entre um quarto e um terço do valor final, mas pode
alcançar 90% em lugares onde o mercado está muito aquecido", diz
Christophe Lalande, especialista em habitação da ONU Habitat, programa das
Nações Unidas para os assentamentos humanos.
Ele defende que governos tomem ações para evitar que o preço dos
terrenos suba demais e criem regulações para o uso da terra, como vetar que os
espaços fiquem ociosos esperando valorização. "Na ausência de regulação
pública, o mercado imobiliário fica
distante de entregar casas a preços acessíveis nas cidades, mesmo em países de alta
renda."
Fernando Túlio, presidente do departamento paulista do IAB
(Instituto de Arquitetos do Brasil), avalia que seria preciso investir algo em
torno de US$ 3,5 trilhões para resolver a questão da falta de habitação de
qualidade para 1 bilhão de pessoas no mundo. Ele considerou um custo médio de
US$ 10 mil por moradia para prover os serviços urbanos necessários, com cada
casa abrigando três pessoas.
"Recursos existem. Mas como os bilionários mais ricos do
planeta não devem doar esse dinheiro, os governos precisam
investir em reformas políticas e tributárias", diz. "Os governos dos
países ricos também precisam transferir recursos para ajudar os do Sul Global,
seja como reparação pela
colonização ou para ajudar no combate às mudanças
climáticas."
Túlio lembra que as pessoas sem moradia adequada são as mais vulneráveis a
eventos extremos como inundações e tempestades.
"Habitação de interesse social não é só prover moradia para
quem não tem. É elevar a qualidade de vida de todos", aponta Caldana.
"Em uma cidade onde muita gente não mora bem e alguns estão na rua, a cidade toda é doente e
vive mal. São Paulo é um exemplo disso."
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